Bloomberg Línea — O ano que acabou foi marcado pela tendência de redução da vacância em escritórios de alto padrão na região da Avenida Faria Lima, a mais nobre de São Paulo. É um movimento que passou a se espalhar, ainda que gradualmente, para outros mercados além do maior do país para escritórios, segundo revelam dados da CBRE, consultoria global para locação e gestão de imóveis.
“O retorno dos funcionários ao ambiente corporativo ao longo de 2022 começou a se refletir em maior absorção pelo país. Os principais mercados de escritórios fora do eixo São Paulo e Rio de Janeiro registraram melhora no índice de absorção ao longo do ano através de importantes locações”, afirmou Cristian Baptista, diretor de Locações da CBRE, à Bloomberg Línea.
“Para atender a demanda, alguns projetos em desenvolvimento também se destacam”, disse.
Um exemplo é o mercado em Brasília, o terceiro maior do país para espaços corporativos e que tem no governo federal um dos principais agentes de demanda, dado que os prédios de propriedade da União já não comportam há muitos anos toda a estrutura da chamada máquina pública.
Esse mercado deve ser ainda mais estimulado com a posse do novo governo, que já anunciou o aumento de 23 para 37 no número de ministérios e sinalizou a recomposição do funcionalismo, uma bandeira tradicional do PT.
“Transição governamental, em especial com ruptura de estratégia política, gera expectativa de movimentação, principalmente por causa do rearranjo de ministérios, autarquias e secretarias, que muitas vezes são criados ou desfeitos. As novas locações geradas podem acarretar um aquecimento do mercado imobiliário, mas isso dependerá da diretriz governamental”, disse Baptista.
“Se o novo governo confirmar a tendência de expandir a máquina pública, é provável que haja um reflexo no aumento absorção dos edifícios corporativos”, afirmou o executivo da CBRE.
Será um movimento, se concretizado, que vai estender um processo de recuperação observado em 2022. O volume de absorção bruta na capital federal teve um aumento de 45% no primeiro semestre na comparação com o mesmo período de 2021. Imóveis de maior qualidade, classificados como classe A ou superior, mantiveram um percentual de vacância de 12,8%, abaixo da média do mercado.
Movimentações tanto de órgãos públicos quanto do setor privado ao longo do ano, especialmente a partir de março, contribuíram para reduzir a vacância de edifícios importantes do mercado em termos de investimento e tamanho, como o complexo Parque Cidade, um dos principais projetos corporativos da capital federal, em que quatro novas locações foram registradas.
“Em Brasília, vários órgãos públicos ocupam prédios antigos, das décadas de 1960, 1970 e 1980, que muitas vezes apresentam condições precárias de ocupação. O desejo de ocupação de empreendimento mais atualizado pelos tomadores de decisão por vezes acaba levando a uma nova locação corporativa, em busca de melhor qualidade - o movimento conhecido como flight to quality”, disse Baptista.
Belo Horizonte e Curitiba
Em Belo Horizonte, os números foram igualmente positivos no ano passado, segundo os dados fechados. O movimento foi influenciado pelos edifícios localizados nas regiões de Funcionários e da Raja Gabaglia, que registraram um aumento no volume de espaços ocupados no primeiro semestre.
A taxa de vacância apresentou segunda queda consecutiva de 1,2 pontos percentuais em períodos de seis meses, o que representou um retorno ao patamar de vacância anterior à pandemia.
As regiões de Funcionários, Centro e Lourdes atraíram os maiores volumes de absorção bruta nos 12 meses até junho, com tendência de queda na taxa de vacância em todas elas.
Um exemplo foi o edifício Carmo Couri, localizado no eixo da avenida Olegário Maciel e atualmente em obras de retrofit, que foi alvo de contrato de pré-locação para uma empresa de ensino. No edifício Statement, principal projeto entregue na cidade em 2022, foram locados 11.400 metros quadrados.
A retomada da demanda tem estimulado o desenvolvimento de projetos, como o edifício Bernardo Monteiro, que está em fase de construção no bairro Santa Efigênia. Com um total de 17.000 metros quadrados e lajes de até 1.700 metros quadrados, o projeto vai atender empresas de saúde e educação.
Outra capital com movimento de recuperação em 2022 foi o de Curitiba. A taxa de vacância atingiu seu menor índice desde o início da pandemia com a retomada da demanda em edifícios em bairros próximos ao Centro e ao Batel, o mais nobre da capital paranaense.
Sete transações com áreas superiores a 1.000 metros quadrados foram concluídas em 2022, totalizando cerca de 13.000 metros quadrados. É um movimento que não atingia o mercado desde 2014.
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