Bloomberg Opinion — Quanto você paga por seis bolas de tênis?
Duas vezes por ano, a Economist Intelligence Unit (EIU) publica seu Índice do Custo de Vida Mundial. As cidades asiáticas costumam figurar no alto do ranking, com Singapura empatada com Nova York para a mais cara de 2022. A cidade esteve no topo oito vezes na última década; Hong Kong está frequentemente no topo (em quarto este ano), normalmente junto com Tóquio e Osaka.
As cidades japonesas, no entanto, não ficaram no top 10 deste ano, o que pode ser explicado pelo iene mais fraco – em queda de 16% este ano. Sua ausência pode ser novidade para os residentes que enfrentam contas de energia radicalmente mais altas, mesmo que a inflação seja menor do que em qualquer outro lugar.
Isso destaca uma das questões com o uso da pesquisa para definir quais cidades são as “mais caras” – isso pressupõe pagar por tudo em dólares, o que, obviamente, não é verdade para a maioria dos habitantes locais. Embora seja necessária uma conversão para fins de comparabilidade, os habitantes locais são, de fato, uma preocupação secundária para a pesquisa – algo que explica algumas de suas peculiaridades.
O que muitas vezes fica de fora das reportagens da mídia é que a pesquisa é “destinada a permitir que os gerentes de recursos humanos e financeiros possam calcular o custo de vida e criar pacotes de remuneração para expatriados e viajantes de negócios”, de acordo com sua metodologia.
Mesmo assim, as flutuações cambiais por si só não explicam essas classificações confusas, o que me aborrece há anos, pois Osaka acaba parecendo uma cidade mais cara que Tóquio. Qualquer pessoa que tenha vivido em ambas as cidades sabe que isso não é verdade: em Osaka é muito mais fácil de viver com um orçamento apertado, pois os preços para a maioria das coisas são praticamente idênticos aos da capital, exceto aluguel – em Tóquio, os preços são cerca de 50% mais altos. Então, por que Osaka foi eleita a quinta cidade mais cara em 2019, enquanto Tóquio não conseguiu nem chegar no top 10?
Talvez tenha a ver com essa metodologia. Considere alguns dos itens que compõem a lista: vermute, seis bolas de tênis, uma revista semanal internacional de notícias, filme fotográfico, tabaco para cachimbo, vitela, um CD.
Sim, vermute e vitela podem ser caros em Osaka. Mas beber shochu e comer sushi pode ser muito mais barato. Osaka é uma cidade grande, mas não atende muito bem os expatriados ricos. A cesta de preços pode explicar mais algumas peculiaridades sobre o porquê de as cidades asiáticas terem uma classificação tão alta – inclui queijo, mas não tofu; espaguete mas não macarrão oriental; conhaque mas não baijiu.
O conforto do lar é importante para a felicidade do trabalhador, claro, mas muito menos do que era há 30 ou 40 anos. A EIU diz ter acrescentado categorias como os serviços de streaming, mas mantém os itens existentes para que haja consistência ao longo do tempo.
Considere também uma das maiores despesas da lista: o carro. Uma das razões pelas quais Singapura fica cada vez mais alto no ranking a cada ano é porque é muito caro possuir um veículo, com a cidade-estado trabalhando ativamente para tornar a posse de um carro extremamente cara para manter baixo o crescimento do número de veículos. A cesta de preços da EIU inclui vários tipos de carros, além de taxas de manutenção, seguro e gasolina.
Mas a maioria dos residentes de lugares como Singapura, juntamente com cidades japonesas e Hong Kong para citar apenas alguns, dificilmente precisam de um carro, graças aos extensos e convenientes sistemas de transporte público. Esse é um item de valor que o índice não capta. A EIU afirma que Singapura tem “os preços de transporte mais altos do mundo”, embora uma viagem no transporte público, limpo e eficiente, custe apenas alguns dólares.
Da mesma forma, compara as mensalidades das escolas internacionais – vitais talvez em alguns locais, mas usadas apenas por uma minoria de residentes de elite em muitas cidades como Tóquio, onde o ensino fundamental é geralmente considerado de alta qualidade e é gratuito. O mesmo se aplica a despesas como o salário mensal de uma empregada – o que pode ser comum em Singapura e Hong Kong, mas é raro em outros lugares mesmo para os abastados.
Em resumo, a lista parece evocar a imagem de um homem de negócios (vestido, de acordo com a cesta de preços, com terno, camisa e sapatos, capa de chuva e meias de lã) ou mulher de negócios (com um vestido, sapatos da cidade, cardigan, capa de chuva e collants ou meia-calça) de antigamente, cujos filhos frequentam uma escola de elite francesa, alemã, americana ou inglesa, dirigem para o trabalho enquanto a empregada limpa a casa, jantam um banquete, vão ao teatro depois do trabalho e voltam para casa para tomar um copo de conhaque antes de dormir.
Esse é um estilo de vida para alguns, mas são poucos. Melhor lembrarmos que essas listas seguem o custo de vida mundial para expatriados com um estilo de vida muito fixo.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Gearoid Reidy é um colunista da Bloomberg Opinion que cobre o Japão e as Coreias. Anteriormente liderou a equipe de notícias ao vivo no norte da Ásia, e foi o chefe adjunto de Tóquio.
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