Bloomberg — Investidores não estão mais fechando os olhos para os riscos enfrentados pela Apple (AAPL), em uma reviravolta que levou o valor de mercado da fabricante do iPhone para menos de US$ 2 trilhões e ameaça mais problemas para as ações nos próximos meses.
Até recentemente, as ações da empresa mais valiosa do mundo desafiavam grande parte da melancolia que atingiu outras gigantes da tecnologia em 2022, ainda que o ano passado tenha representado o pior momento para esse mercado desde 2008.
Mas agora os atrasos na produção de iPhones e a preocupação de que a demanda esteja enfraquecendo à medida que a economia desacelera estão fazendo com que as ações pareçam mais normais a cada dia. Com o seu valuation ainda acima da média da última década, há muito espaço para cair.
A ação subiu 1,3% nesta quarta-feira (4), depois do fechamento mais baixo desde junho de 2021.
“A Apple tem sido vista como um trade de segurança, de flight to quality. Quando vendem as suas ações, é como se estivessem jogando a toalha”, disse Matt Maley, estrategista-chefe de mercado da Miller Tabak + Co. “Quando chegamos ao fundo do poço, a Apple tende a perder seu brilho e ficar barata, mas ainda assim é, no mínimo, um pouco caro.”
As ações da Apple estão cotadas a cerca de 20 vezes os lucros esperados para os próximos 12 meses. Embora tenha diminuído significativamente em relação aos picos recentes acima de 30, ainda está acima da média de de 17 vezes nos últimos dez anos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg News.
A oscilação do sentimento nas ações foi rápida. Em novembro, a Apple estava superando o S&P 500, um feito notável considerando que outras gigantes da tecnologia como Amazon (AMZN) e Alphabet (GOOG) perderam um terço do seu valor em 2022.
A força da Apple estava enraizada em seus sólidos retornos de capital aos acionistas por meio de recompras e dividendos e na crença de que seu ecossistema de clientes leais protegeria a empresa em uma possível recessão.
A fé nesse argumento está perdendo força, junto com o otimismo dos investidores de que o Federal Reserve em breve fornecerá alívio no processo de buscar taxas de juros mais altas. As ações da Apple caíram 12% em dezembro, acima da queda de 5,9% para o S&P 500 e de 9,1% para o Nasdaq 100. Foi a maior queda mensal da Apple desde maio de 2019.
A fraqueza continuou nos primeiros dias de 2023, depois que o Nikkei informou que a Apple disse a vários fornecedores para fabricar menos componentes para vários produtos, devido ao enfraquecimento da demanda. O BNP Paribas também rebaixou as ações, escrevendo que as perspectivas de crescimento da Apple “parecem insuficientes para justificar um prêmio de avaliação para os pares”.
Como resultado dos problemas de produção relacionados à covid na China, analistas de Wall Street reduziram as estimativas para as vendas do iPhone no primeiro trimestre fiscal da Apple, encerrado em 31 de dezembro.
No mês passado, o JPMorgan Chase revisou para baixo suas projeções pela segunda vez desde o início de novembro. O analista Samik Chatterjee agora vê cerca de 70 milhões de unidades vendidas, abaixo da estimativa anterior de 82 milhões.
Ainda assim, muitas das vendas perdidas provavelmente foram adiadas para o segundo trimestre, à medida que as restrições de oferta diminuem, disse ele. De fato, o Foxconn Technology Group trouxe a maior fábrica de iPhone do mundo para cerca de 90% da capacidade máxima prevista, informou o Henan Daily nesta semana. E analistas pararam de reduzir suas estimativas de receita e lucro.
Analistas, no entanto, ainda estão acompanhando o declínio das ações. O preço-alvo médio para os próximos 12 meses caiu para cerca de US$ 173, ante US$ 191 em março.
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