Petrobras cai 30% e descola de petrolíferas globais desde a eleição de Lula

ADRs tiveram queda de 10,76% nesta terça em NY, no 1º pregão cheio após posse de Lula e nomeação de Prates; empresas como Exxon e Chevron estão estáveis desde outubro

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Bloomberg — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu conduzir a gigante petrolífera estatal Petrobras (PETR3, PETR4) em uma direção considerada mais populista. E os investidores não estão felizes.

A Petrobras protegerá os consumidores das fortes oscilações no preço do combustível e aumentará os investimentos em projetos de refino para conter as importações de combustível, de acordo com os comentários iniciais de Lula e sua equipe econômica.

Os ADRs (recibos das ações negociadas no Brasil) da Petrobras fecharam com queda de 10,76% em Nova York nesta terça-feira (3), enquanto os investidores avaliam o quanto a mudança de política reduzirá os lucros e dividendos.

Foi a primeira sessão completa no exterior desde a posse de Lula no domingo e a nomeação do senador Jean-Paul Prates como próximo CEO da petrolífera estatal, na sexta da semana passada.

Desde a eleição de Lula em 30 de outubro, tanto os ADRs como as ações preferenciais da estatal brasileira acumulam queda da ordem de 30%, versus recuo de 10% da norueguesa Equinor (EQNR) e de desempenho perto da estabilidade das americanas Chevron (CVX) e Exxon Mobil (XOM), segundo dados levantados pela Bloomberg News.

Uma das primeiras decisões executivas de Lula foi estender a suspensão do imposto sobre a gasolina (por mais dois meses) e o óleo diesel (até o fim do ano), revertendo uma visão defendida pelo seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de permitir que os incentivos fiscais expirassem.

Prates disse que a redução de impostos dará à Petrobras tempo suficiente para revisar sua própria política de preços, que atualmente é de paridade com as cotações internacionais do petróleo.

A medida levanta o espectro de um retorno às políticas que anteriormente drenavam os recursos das contas da gigante do petróleo.

A Petrobras gastou cerca de US$ 40 bilhões subsidiando combustíveis fósseis na última vez em que o Partido dos Trabalhadores de Lula esteve no poder, no governo de Dilma Rousseff, fazendo com que se tornasse a empresa petrolífera mais endividada do mundo.

Depois que o partido saiu do poder com um impeachment em meados de 2016, cortes de custos agressivos e vendas de ativos melhoraram o balanço da empresa.

Nova política de combustíveis

Prates defende que o governo brasileiro estabeleça um preço de referência nacional para a gasolina e outros produtos refinados, o que serviria como diretriz para os preços que a Petrobras cobra de seus clientes.

Embora a Petrobras provavelmente altere sua fórmula interna de fixação de preços, os investidores não devem ficar muito assustados, disse ele a jornalistas em Brasília em 30 de dezembro após sua indicação.

Investidores também temem que a promessa de Lula de reformular o setor de refino - ostensivamente para reduzir as caras importações de combustível - possa esvaziar ainda mais os cofres da empresa, apontando o México como um alerta.

A Pemex gastou bilhões de dólares acima do seu orçamento em uma nova instalação que deveria melhorar a capacidade de produção de combustível do país.

A Petrobras se concentraria na expansão das instalações existentes, mas os investidores dizem que o dinheiro seria melhor gasto na produção de petróleo em campos gigantescos em águas profundas.

O Ministério de Minas e Energia deve nomear Prates para o conselho da Petrobras ainda nesta terça. Analistas do Itaú esperam que a Petrobras termine de eleger uma nova diretoria até o fim de fevereiro.

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