Bilionário russo de fertilizantes busca ajuda na África para amenizar sanções

Andrey Melnichenko, fundador da EuroChem e com fortuna de US$ 13,1 bilhões, diz que medidas da União Europeia prejudicam milhões de pessoas encarecendo alimentos

Andrey Melnichenko: apelo para que sanções que afetam exportações de alimentos e fertilizantes sejam aliviadas (Andrey Rudakov/Bloomberg)
Por Bloomberg News
02 de Janeiro, 2023 | 02:12 PM

Bloomberg — O bilionário russo de fertilizantes Andrey Melnichenko está pressionando políticos na África para exortar a União Européia a encontrar uma solução para o que ele diz serem interrupções relacionadas a sanções que sufocam os fluxos de alimentos e nutrientes vitais para a agricultura.

Embora as sanções da UE contra a Rússia não tenham como alvo produtos agrícolas ou fertilizantes, o comércio ainda está sendo afetado, disse ele. Isso reduziu os embarques de fertilizantes em cerca de 9 milhões de toneladas em 2022, disse Melnichenko, fundador do EuroChem Group.

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Os estados membros da UE têm aplicado diferentes políticas de sanções entre si aos produtores de fertilizantes russos, disse Melnichenko, que também sofreu restrições, na última semana.

Em dezembro, o bloco de 27 nações europeias introduziu derrogações – descongelando os ativos de certos indivíduos nas indústrias agrícolas e de fertilizantes – à luz do que disse serem persistentes “preocupações com a segurança alimentar” em terceiros países.

O nono pacote de sanções da UE faz parte dos esforços de Bruxelas para punir o regime de Vladimir Putin pela invasão da Ucrânia, que já dura mais de dez meses, ao mesmo tempo em que atenua quaisquer consequências não intencionais para o comércio mundial.

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Em uma entrevista na semana do Natal, Melnichenko disse que a iniciativa da UE é um reconhecimento de que suas ações estão piorando a crise global de alimentos. Mas, segundo ele, as derrogações não vão melhorar a situação porque complicam os procedimentos, acrescentou.

Embora a Rússia continue sendo um dos maiores exportadores de fertilizantes do mundo, produziu menos em 2022 depois que a invasão desencadeou sanções. Isso atingiu 8 milhões de toneladas de remessas russas e mais 1 milhão de toneladas das fábricas da EuroChem na Europa, de acordo com Melnichenko.

A escassez desses nutrientes aumenta os custos agrícolas e reduz o rendimento das colheitas, atingindo os consumidores com a alta dos preços dos alimentos.

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Melnichenko voou para a África do Sul para fazer lobby com políticos à margem da conferência eleitoral do Congresso Nacional Africano.

Ele quer que a nação mais industrializada do continente apoie seus apelos para que a UE resolva a questão, dizendo que as remessas projetadas de fertilizantes perdidas devido a sanções em 12 meses produziriam grãos suficientes para alimentar mais de 200 milhões de pessoas.

“Não acho que as pessoas que sofrem basicamente de falta de comida precisem tomar partido no conflito”, disse Melnichenko na entrevista em Irene, ao norte de Joanesburgo.

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Ele se recusou a nomear os políticos que conheceu.

Influência russa na África

Os Estados Unidos e a França estão tentando conter a influência russa na África, incluindo esforços do Kremlin para vincular a crise alimentar deste ano às sanções europeias.

Os preços das safras dispararam depois que a Rússia bloqueou os portos de grãos da Ucrânia no Mar Negro – aumentando o risco de fome em partes da África – antes que um corredor de exportação fosse aberto sob um acordo mediado pela Turquia e as Nações Unidas.

A escassez de fertilizantes significa que os agricultores africanos terão pago US$ 2 bilhões adicionais pelo nutriente agrícola em 2022, disse Melnichenko, que faz parte de um grupo da indústria que busca alertar para as consequências das sanções da UE para a segurança alimentar global.

A segurança de 50% da população mundial — que depende de alimentos produzidos com a ajuda de fertilizantes minerais — está em risco, segundo o Programa Mundial de Alimentos da ONU.

Com um patrimônio estimado em US$ 13 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index, Melnichenko se retirou no início de 2022 como beneficiário de um fundo que detém sua participação na EuroChem por meio de uma holding.

Isso deixou sua esposa, que mais tarde também foi alvo de sanções, como beneficiária. O magnata, que mora nos Emirados Árabes Unidos depois de muitos anos na Europa, não ocupa cargos executivos na Eurochem e em sua empresa de carvão, a Suek JSC, há anos.

Melnichenko está contestando legalmente as sanções da UE impostas a ele em março de 2022, dizendo que o impacto dessas medidas é desproporcional.

“Existem milhões de pessoas que estão sofrendo por causa das sanções impostas pessoalmente a mim”, disse Melnichenko. “Eu não fiz nada de errado. Não tenho nada a ver com este conflito. Ninguém pediu meu conselho.”

O magnata disse esperar que o “horror” da guerra entre a Rússia e a Ucrânia seja interrompido, mas acrescentou que não há indicação de uma solução tão cedo.

- Com a colaboração de Richard Bravo.

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