Opinión - Bloomberg

O que gestores e empregados aprenderam sobre o trabalho híbrido em 2022

Trabalho presencial por si só não é sinônimo de produtividade e toma muitas horas com deslocamento, e a comunicação quando se está em casa é algo fundamental

Cidades grandes, cujos trajetos são longos e demorados, são as que mais resistem para voltar ao trabalho presencial
Tempo de leitura: 5 minutos

Bloomberg Opinion — Este deveria ter sido o ano da volta ao escritório. O mesmo poderia ser dito para 2021, e até mesmo para o segundo semestre de 2020. O escritório parece ter se tornado um lugar para onde estamos sempre “retornando”, mas nunca efetivamente ficando.

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Embora as taxas de ocupação dos escritórios tenham aumentado significativamente, elas ainda não estão nem perto dos índices pré-pandemia. Na maioria das grandes cidades, os escritórios ainda estão vazios mais da metade do tempo.

Mesmo em Austin, no estado do Texas – que tem a maior taxa de ocupação entre as grandes cidades, de acordo com dados da empresa de registros Kastle Systems –, os locais de trabalho ainda estão muito mais vazios do que antes da pandemia.

Taxa de ocupação de escritórios em grandes cidades nos EUA

Então, o que aprendemos sobre o trabalho híbrido ao longo dos últimos 12 meses?

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O trabalho híbrido é a norma

A ideia de uma guerra entre gestores e funcionários sobre passar tempo no escritório tem sido um pouco exagerada. As pesquisas mostram consistentemente que os funcionários valorizam um certo grau de interações presenciais e querem estar no escritório aproximadamente dois dias por semana. Os gestores preferem três. Se estiver fazendo as contas, é apenas um dia de diferença.

“Surpreendentemente, os gestores estão praticamente alinhados com os funcionários”, diz Nicholas Bloom, da Stanford.

As exceções que ele encontrou são pessoas que têm “mais de 30 anos de experiência de trabalho, e têm tido muito sucesso e fizeram tudo isso presencialmente... mas essas são realmente as exceções”.

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Em vez disso, a maioria dos chefes está gradualmente ficando confortável gerindo e avaliando funcionários que eles não veem todos os dias – e sem um software de vigilância assustador, que Bloom considera “horrível”.

Como prova, ele aponta os dados que ele afirma serem uma surpresa: após resistir a dar aos empregados a oportunidade de trabalhar de casa às segundas e sextas-feiras em 2021, em 2022 os gestores pareciam se tornar mais confortáveis com um horário de trabalho no escritório que permite consistentemente o trabalho remoto em quatro ou mais dias contíguos.

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Acordos padronizados não funcionam

É tentador procurar as melhores práticas que possam ser transferidas entre equipes e empresas. Mas o que me impressiona nos últimos 12 meses é a experimentação que tem acontecido.

Algumas equipes (e alguns funcionários) vão se beneficiar do fato de estarem juntos com mais frequência. Outros vão prosperar com mais autonomia.

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“É mais difícil fazer declarações genéricas agora do que há um ano”, diz Barbara Larson, professora de administração na Escola de Administração D’Amore-McKim da Northeastern University.

A realidade é que cada equipe e cada funcionário vai estar em uma situação diferente.

Alguém que trabalha mais com clientes em outras cidades ou países é essencialmente um funcionário totalmente remoto, quer esteja em um escritório ou trabalhando de casa. Uma pessoa sem muita experiência pode precisar de mais orientação presencial. O trabalho remoto tem sido ótimo para pessoas com deficiências.

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Com essa diversidade de experiências, estou cada vez mais cética em relação a qualquer pessoa que afirme ter uma única fórmula.

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Chefes não são tão poderosos assim

Nas empresas que realmente querem seus funcionários de volta presencialmente com mais frequência, os gestores vêm tentando insistir para que voltem, tentando atraí-los com benefícios e regalias e até imploraram. Apesar disso, o trabalho híbrido parece ser algo permanente.

Talvez isso seja uma surpresa para pessoas poderosas que estão acostumadas a ter funcionários que sigam suas ordens. Mas provavelmente uma parte significativa do que pedem os gestores acaba sendo ignorado, basta lembrar das dificuldades envolvidas em qualquer iniciativa de mudança.

Gestores espertos encontram maneiras de canalizar as ondas de mudança em vez de tentar transformá-las. Considere a oferta da CEO do Citigroup (C), Jane Fraser, que deixou os funcionários trabalharem remotamente nas últimas duas semanas do ano. Que atitude humana! E politicamente inteligente, porque, em nossa nova realidade híbrida, muitos trabalhadores provavelmente o teriam feito – sem permissão.

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Os deslocamentos são os principais vilões do trabalho presencial

A maior motivo pelo qual tantos funcionários ainda estão em casa não é por serem antissociais ou desejarem fazer apenas o mínimo. É porque a viagem de ida e volta toma horas do dia, e a internet tornou a caminhada opcional. É por isso que as taxas de retorno ao escritório permaneceram mais baixas nas cidades com os trajetos mais longos.

Há algumas medidas que governadores, prefeitos e secretários de transporte poderiam fazer para tornar essas viagens mais curtas e agradáveis, mas nenhuma delas será rápida ou barata.

Na segunda metade de 2022, os funcionários das cidades pareceram perceber isso – e passaram a pensar no zoneamento e no trânsito de longo prazo, seja planejando abertamente reformular o espaço de escritórios e transformá-los em moradia, como em Chicago, ou discutindo formas de reduzir a duração dos deslocamentos dos residentes, como em Nova York.

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O trabalho híbrido é mais que uma agenda

Algumas empresas desenvolveram uma mentalidade de assiduidade, obcecadas sobre quais funcionários ou departamentos estão trabalhando 2,1 dias por semana, em vez de 2,9. Essa energia poderia ser usada melhor – primeiro, para encontrar maneiras de fazer com que o tempo de trabalho valha a pena; e, segundo, para pensar como a comunicação acontece quando os trabalhadores estão em casa.

Em um local de trabalho híbrido, o centro de tudo não é necessariamente o escritório. São a tecnologia e as plataformas de comunicação e as normas que moldam seu uso.

E em um local de trabalho verdadeiramente híbrido, as tarefas são projetadas para que o trabalho que exige foco possa acontecer em casa, e o escritório fica reservado para tarefas que requerem interação.

Nas empresas que ainda lutam para fazer essa transição, diz Larson, ajudaria se os líderes seniores parassem de vir ao escritório cinco dias por semana. “Os executivos detestam quando eu falo isso”, ela admite. Mas, ao aparecerem todos os dias, eles estão sinalizando que o trabalho híbrido não é compatível com um papel sênior e diminuindo seus esforços para ajudar os funcionários a estabelecer um novo ritmo.

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O trabalho híbrido é mais do que apenas aparecer para trabalhar

Ir ao escritório apenas para enviar e-mails ou fazer reuniões pelo Zoom é irritante – e uma oportunidade perdida. Provavelmente todos nós poderíamos fazer um pouco mais de esforço para maximizar nosso tempo presencial, seja fazendo mentoring ou apenas jogando conversa fora. Esses laços fazem parte do que torna o trabalho mais que apenas trabalhar.

***

Aprendemos muito com nossas experiências neste ano que acaba, mas as empresas ainda estão aprendendo a determinar o que funciona melhor para elas. Alguns atritos são inevitáveis ao longo do caminho, segundo Bloom.

Considere que 70% dos trabalhadores querem escolher os dias específicos para trabalhar em casa, mas mais ou menos o mesmo número – 75% – dizem que, quando chegam ao trabalho, gostariam que seus colegas estivessem lá. Não dá para ter tudo.

Quem sabe em 2023 consigamos resolver isso.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Sarah Green Carmichael é editora da Bloomberg Opinion. Anteriormente, era editora-gerente de ideias e comentários na Barron’s e editora executiva na Harvard Business Review, onde apresentava o podcast “HBR IdeaCast.”

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