Brasília em off: a pressão sobre Haddad virá também do ‘fogo amigo’ do PT

Aliados do próximo ministro da Fazenda apontam que, mais do que do mercado financeiro, será de alas do PT parte considerável da pressão que ele sofrerá no cargo

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Bloomberg — Aliados do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmam que ele receberá dois tipos de pressão quando assumir o cargo. Uma, já esperada, é a do mercado financeiro, que desconfia da forma como o novo ministro vai comandar a política econômica do governo.

A outra é interna, da ala mais à esquerda do PT, que vai demandar mais gastos e medidas de estímulo para a recuperação da economia. Esse é o foco do partido hoje.

O enfrentamento dessas pressões, avaliam, será feito por Haddad e seu time mais próximo. A chegada de Simone Tebet para comandar a pasta do Planejamento não melhora muito o cenário. Na verdade, o temor é que ela decida se contrapor ao ministro da Fazenda em um teste de forças que deixará Haddad ainda mais pressionado.

Bônus pode aliviar clima na Receita

A decisão de Haddad de trazer um nome de fora para o comando da Receita Federal não caiu bem entre os servidores da secretaria. Auditores do Fisco sempre defendem um nome da própria carreira para o órgão. Foi o que Haddad fez, por exemplo, com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) ao escolher Anelize Almeida para chefiar a estrutura.

Para a Receita, no entanto, ele trouxe o procurador do município de São Paulo Robinson Barreirinhas, com quem trabalhou quando era prefeito. Os auditores não se contentaram com a promessa do futuro ministro de que os secretários que atuarão como adjuntos serão todos de carreira da Receita.

O que poderia atenuar a situação, na avaliação dos auditores, seria Haddad regulamentar logo o bônus de eficiência que turbina os salários dos auditores. A categoria briga desde 2017 para receber uma parcela remuneratória variável a ser paga conforme a produtividade.

Combustíveis e os subídios

O novo governo não quis dar a largada prorrogando subsídios a combustíveis fósseis como o petróleo e derivados. Além de não pegar bem para a imagem de um país que quer restaurar a credibilidade na área ambiental, essa medida não se justifica no cenário atual, em que os preços do petróleo no mercado internacional estão mais baixos.

Foram esses os motivos que levaram Haddad a pedir ao ministro da Economia Paulo Guedes que não estendesse a isenção de PIS/Cofins para combustíveis prevista para acabar em 31 de dezembro.

Não há intenção de adotar alguma medida que substitua essa isenção, uma vez que a queda dos preços internacionais já estaria ajudando hoje a não pressionar a inflação. Se o cenário mudar mais à frente, aí sim a tributação poderia voltar ser reduzida, mas aos poucos e e em fases.

Na sexta-feira (30), a extensão da desoneração voltou a ser debatida, mas não havia nenhum anúncio.

Erro estratégico, na visão do governo atual

Para a equipe de Guedes, no entanto, a decisão, se for confirmada, será um erro. A conversa nos bastidores é que o novo governo ainda não entendeu a gravidade do problema. Uma prorrogação da isenção por um mês seria uma forma de ajudar o time que entra a decidir o que fazer com calma.

Somado a isso havia também um desejo do ainda ministro da Economia de não reonerar o setor. A agenda de Guedes sempre foi pela redução do peso dos impostos na economia - tanto que a oferta inicial ao novo governo era a de estender a isenção por três meses.

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