Putin e Xi falam em aprofundamento da parceria entre a Rússia e a China

Para o presidente russo, os laços Rússia-China são os ‘melhores da história’ e sua parceria estratégica é um ‘fator estabilizador’ em meio a tensões geopolíticas

Os laços Rússia-China são os “melhores da história” e sua parceria estratégica é um “fator estabilizador” em meio a tensões geopolíticas crescentes, disse o presidente russo na videochamada
Por Bloomberg News
30 de Dezembro, 2022 | 10:39 AM

Bloomberg — O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da China, Xi Jinping, saudaram o aprofundamento dos laços entre seus países em conversa nesta sexta-feira (30), apesar dos sinais de impaciência de Pequim em relação ao amplo impacto político e econômico da invasão russa na Ucrânia.

Os laços Rússia-China são os “melhores da história” e sua parceria estratégica é um “fator estabilizador” em meio a tensões geopolíticas crescentes, disse o presidente russo na videochamada. A Rússia, disse Putin, procurará fortalecer a cooperação militar com a China

Xi agradeceu a Putin a mensagem de felicitação após o Partido Comunista da China conceder a Xi em outubro um terceiro mandato no poder, em uma decisão sem precedentes. A China está pronta para expandir a “parceria estratégica” com a Rússia, disse Xi.

Essa chamada de fim de ano, a primeira conversa entre ambos desde que Xi e Putin se encontraram pessoalmente no Uzbequistão, em setembro, ressalta a crescente dependência que Moscou tem de Pequim. Putin chamou Xi de “querido amigo” durante uma parte da reunião que foi televisionada, e o líder chinês respondeu de forma semelhante.

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Parceria ‘sem limite’

Ambos países começaram o ano com uma declaração conjunta de parceria “sem limites” durante uma cúpula em fevereiro, na véspera dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim, quando ambas nações procuravam desafiar o poder dos EUA e pressionar pelo que chamam de um mundo multipolar. A invasão de Putin à Ucrânia, semanas depois, levou o embaixador da China nos EUA a esclarecer que havia de fato “um limite” para o relacionamento.

“Em meio a pressões e provocações sem precedentes do Ocidente, estamos defendendo nossas próprias visões fundamentais”, disse Putin a Xi.

Pequim recusou-se a condenar publicamente a guerra, acusando os EUA de provocar a Rússia ao fazer pressão para expandir a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Mas com o conflito na Ucrânia dando poucos sinais de terminar em breve, Xi tomou medidas para se distanciar de Putin. A China assinou um comunicado na cúpula do G-20 do mês passado, em Bali, no qual o bloco declarava que “a maioria dos membros condena fortemente a guerra na Ucrânia”.

Uma reunião entre Xi e o presidente americano Joe Biden no âmbito do G-20 também ajudou a aliviar as tensões entre as duas maiores potências do mundo, com a dupla criticando conjuntamente o Kremlin por falar abertamente sobre ataque nuclear.

Com a economia atingida por sanções sem precedentes dos EUA, Europa e seus aliados, a Rússia está se voltando cada vez mais para a China para suas importações e como destino de seu petróleo redirecionado para longe dos mercados europeus.

As importações globais russas diminuirão este ano em cerca de 19% em comparação com 2021 e as exportações totais cairão quase 16%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em contraste, as exportações da Rússia para a China saltaram 23% nos primeiros nove meses de 2022 em comparação com o mesmo período do ano anterior, mostram os dados do FMI.

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Apoio a Moscou

Até agora Pequim tem retido apoio material para o esforço de guerra de Moscou, consciente do risco de sanções secundárias e dizendo que a crise deve ser resolvida através do diálogo.

A China e a Rússia deram pareceres diferentes sobre um telefonema entre Xi e Putin, em junho. Enquanto a versão do Kremlin indicava que o presidente chinês endossou a justificativa de Putin para invadir a Ucrânia, a leitura de Beijing enfatizou a promoção de Xi pela “paz mundial e estabilidade da ordem econômica global”, deixando de fora qualquer referência à uma cooperação militar-técnica.

Em sua reunião presencial em setembro, Putin disse a Xi que entendia as “perguntas e preocupações” de Pequim sobre sua invasão, uma rara admissão da tensão entre eles.

Nas semanas seguintes, funcionários e diplomatas chineses, incluindo o próprio Xi, expressaram sua oposição ao uso de armas nucleares na Ucrânia - uma postura que traça as linhas vermelhas da China sem abandonar totalmente a Rússia.

Ainda assim, Xi precisa do apoio de Putin nas reivindicações da China sobre Taiwan, bem como outras questões onde Pequim entra em conflito com os EUA e a Europa.

Em sua reunião de setembro, Putin elogiou o que ele chama de posição “equilibrada” de Xi sobre a guerra da Ucrânia, ao mesmo tempo em que reiterou o apoio de Moscou à reivindicação de Pequim a Taiwan como parte de sua política de “uma só China”.

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