Bloomberg Opinion — O debate sobre se Pelé, que faleceu nesta quinta-feira (29), aos 82 anos, foi o maior jogador de futebol jamais será resolvido. Mas não há dúvida de que ele foi o jogador mais importante da história do esporte mais popular do mundo.
O futebol moderno – um espetáculo com bilhões de torcedores que gera centenas de bilhões de dólares em receitas – não seria possível não fosse por Pelé. Como o primeiro superastro verdadeiramente internacional do esporte, ele tornou o esporte acessível a um público global. Por sua vez, isto trouxe o futebol à atenção de anunciantes e patrocinadores que ansiavam por esse público.
E o fato de Pelé ser uma pessoa não branca foi vital para seu apelo – e para o efeito que teria no futebol.
Quando ele surgiu no cenário mundial, na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, o esporte ainda era predominantemente dominado por homens brancos. As cinco edições anteriores do torneio haviam sido vencidas pela Itália, pelo Uruguai e pela Alemanha Ocidental.
A corrida do Brasil para a final em 1950 foi um presságio da mudança que estava por vir, mas isso aconteceu com a chegada de Pelé, de 17 anos, que reuniria o amálgama perfeito de talento, carisma e sucesso necessário para quebrar a divisão racial duas Copas depois.
De repente, havia um jogador com o qual o público não-branco podia se identificar de forma reflexiva. Enquanto os espectadores europeus ficavam impressionados com sua proeza esportiva, meninos e meninas que brincavam pelas ruas e campos da Ásia e da África se viam nele. Também ajudou o fato de ele ter vindo da periferia do município de Bauru, no estado de São Paulo.
Nisso, Pelé precedeu por alguns anos o boxeador Muhammad Ali, o próximo esportista não branco a se tornar um ícone global. Nos anos de 1960, era difícil saber qual deles tinha o rosto mais famoso do mundo. Mas suspeito que tenha sido Pelé.
Inevitavelmente, ele foi apelidado de “Pérola Negra” por escritores esportivos de sua época (em sua maioria brancos). Se isso dava um ar de arrogância, não importava nada para as legiões de pessoas não brancas cujos corações aceleravam quando assistiam um de seus semelhantes brilhando no campo.
A Seleção Brasileira e o Santos, time de Pelé, eram convidados para jogar em todo o mundo, e os estádios ficavam lotados com pessoas que vinham ver o Rei.
O clamor só aumentou quando o Brasil, com Pelé como talismã e artilheiro, dominou o futebol mundial por mais de uma década, vencendo a Copa do Mundo de 1962 e 1970. O período coincidiu com a difusão da televisão em grande parte do globo, aproximando muito mais o astro de seus fãs.
Com o apelo de Pelé, o mercado do futebol se expandiu rapidamente, tornando o esporte – e seu torneio quadrienal – o deleite dos anunciantes e do público. A Fifa, a entidade que dirige o futebol, colheu os frutos: um recorde de US$ 7,5 bilhões em receitas na Copa do Mundo do mês passado, sediada pelo Catar.
No final de sua carreira de jogador, Pelé levou o futebol para sua fronteira final: os Estados Unidos. Seus três anos com o New York Cosmos em meados da década de 1970 apresentaram os americanos ao esporte. Dez milhões de pessoas sintonizaram suas TVs para assistir à transmissão ao vivo de seu jogo de estreia, uma audiência sem precedentes para um jogo de futebol.
A primeira experiência com uma liga profissional nos EUA não duraria muito mais do que a aposentadoria de Pelé em 1977, mas a segunda tentativa, a Major League Soccer, criou raízes. Ele parecia muito feliz com os EUA sediando a Copa do Mundo em 1994 – e o fato de o Brasil ter levado o troféu em seu tetracampeonato – primeira vitória desde seu triunfo em 1970.
Descanse em paz, Edson Arantes do Nascimento. Com seus pés e seu poder de estrela, você enriqueceu o futebol e inspirou o mundo.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Bobby Ghosh é colunista da Bloomberg Opinion e cobre relações exteriores. Foi editor-chefe no Hindustan Times, editor executivo no Quartz e editor internacional na Time.
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