Méliuz acerta caminho para venda de controle ao BV após queda de 90% da ação

Plataforma de serviços financeiros abriu a onda de startups na bolsa brasileira em 2020, mas acumula prejuízos, Ebitda negativo e enfrenta desconfiança do investidor

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Bloomberg Línea — A virada das condições de mercado e o aumento das taxas de juros estão fazendo estragos também em empresas de tecnologia listadas na bolsa brasileira. No último dia útil de 2022, o Méliuz (CASH3), startup que abriu o caminho para a onda de IPOs (ofertas públicas iniciais, na sigla em inglês) na B3 entre 2020 e 2021, acaba de formalizar o caminho para a venda do controle para o BV (ex-Banco Votorantim).

Em fato relevante nesta sexta-feira (30) depois do fechamento do mercado, a Méliuz informou que celebrou acordo para a venda de cerca de 3,85% do capital em poder dos acionistas controladores Israel Salmen, André Amaral e Lucas Marques para o fundo de corporate venture capital (CVC) do BV, ao preço de R$ 1,50 por ação, o que embute um prêmio de 27% sobre o preço de fechamento do dia. Isso implica um valor de cerca de R$ 50 milhões.

O market cap do Méliuz na bolsa brasileira é de R$ 1 bilhão.

Salmen, CEO do Méliuz, fundou a startup em 2011 junto com Ofli Guimarães em Belo Horizonte. A empresa ganhou tração como um aplicativo de cashback e migrou o modelo de negócios mais recentemente para operar como uma plataforma de serviços financeiros, a exemplo do adotado por outros bancos digitais e fintechs. Ele é o principal acionista, com 16,3% do capital.

O acordo também prevê que o BV terá a opção de compra da totalidade das ações em poder de Salmen, Amaral, Marques, além das que pertencem hoje a Guimarães e sua Org Investments e a Davi Rocha, em um prazo de até 24 meses.

É justamente o bloco de controle, que tem Guimarães, por meio da Org Investments, com 5,1% do capital, Marques, com 2,0%, e Amaral, com 0,6%, totalizando 23,9% das ações, segundo o site da empresa. O restante está em circulação no mercado (free float).

Se a opção for exercida em até seis meses, o valor será de R$ 1,50 por ação corrigido pelo CDI; se acontecer depois desse intervalo, o preço será o maior entre na comparação entre R$ 1,50 corrigido pelo CDI e a média dos 30 pregões anteriores ao exercício da opção de compra.

BV e Méliuz assinaram ainda um memorando de entendimentos para a aquisição do controle da Bankly em até 90 dias, com base no enterprise value de R$ 210 milhões. A empresa, que opera uma plataforma de Banking as a service, havia sido adquirida pelo Méliuz em maio de 2021 por R$ 324,5 milhões, segundo divulgado à época.

Em novembro de 2020, o Méliuz abriu o capital na B3, em IPO que movimentou R$ 367 milhões, com o preço da ação a R$ 10 (seria o equivalente a R$ 1,66 considerando um desdobramento de 1 ação para 6 realizado em setembro de 2021).

Em julho de 2021, a ação chegou a ser negociada a R$ 71,40 (R$ 11,90 com o desdobramento), mas a virada das condições de mercado e a desaceleração do segmento de e-commerce, junto com taxas de juros mais altas da economia, evidenciaram as dificuldades do modelo de negócios do Méliuz: a empresa passou a acumular trimestres com Ebitda (geração de caixa operacional) e margens negativas e prejuízos.

A ação encerrou 2022 negociada a R$ 1,18, com queda de 90% em relação ao pico em julho de 2021 e de 64% neste ano. Em relação ao IPO, a desvalorização, se comparável, seria de 29%.

O acordo prevê ainda uma parceria comercial do Méliuz com o BV, que vai contratar os serviços da Bankly para adicionar seus produtos financeiros na plataforma; e o Méliuz passará a oferecer produtos e serviços financeiros do BV.

Segundo o comunicado, o Méliuz deixará de ter despesas relacionadas aos produtos financeiros, uma expertise do BV, e passará a ser remunerado pelo banco pela originação dos mesmos em sua base de clientes.

Lazard e Pinheiro Neto atuaram respectivamente como assessores financeiro e legal exclusivos do Méliuz no negócio.

- Matéria atualizada às 14h de 31/12 com a correção da informação da queda da ação do Méliuz desde o IPO.

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