Bloomberg — Para a grande maioria das pessoas mais ricas do mundo, 2022 foi um ano que jamais esquecerão.
Não foi apenas o dinheiro que se perdeu – quase US$ 1,4 trilhão de dólares foram eliminados apenas da fortuna dos 500 mais ricos, de acordo com o Índice Bloomberg Billionaires. Contudo, boa parte dos males foram causados por eles mesmos.
A suposta fraude cometida por Sam Bankman-Fried; a guerra devastadora travada pela Rússia contra a Ucrânia que estimulou sanções a seus titãs empresários; e, é claro, as artimanhas de Elon Musk – o novo dono do Twitter (TWTR) – que vale US$ 138 bilhões a menos do que valia em 1º de janeiro de 2022.
Combinado com um cenário de inflação generalizada e de aperto agressivo do Federal Reserve, o ano foi uma dramático para um grupo de bilionários cuja fortuna subiu a alturas insondáveis na era covid de dinheiro fácil. Na maioria dos casos, quanto maior a ascensão, mais dramática a queda: só Musk, Jeff Bezos, Changpeng Zhao e Mark Zuckerberg viram cerca de US$ 392 bilhões evaporarem de seu patrimônio líquido acumulado.
Mas nem tudo foi ruim para a classe bilionária. O indiano Gautam Adani superou Bill Gates e Warren Buffett no índice de riqueza, enquanto algumas das famílias mais ricas do mundo, como os Kochs, também aumentaram sua fortuna. As franquias esportivas ficaram mais valiosas, tornando-se cada vez mais inalcançáveis para qualquer pessoa fora dos 0,0001% mais ricos.
Confira uma análise mensal dos dados e histórias que definiram um ano tumultuado para os bilionários.
Janeiro: mau presságio
Musk, a pessoa mais rica do mundo na época, perdeu US$ 25,8 bilhões em 27 de janeiro após a Tesla (TSLA) advertir sobre os problemas de abastecimento. Foi a quarta maior queda em um único dia na história do índice da Bloomberg e foi o presságio de um ano complicado para Musk, tanto pessoal quanto financeiramente.
Fevereiro: oligarquia russa em declínio
Os mais ricos da Rússia perderam coletivamente US$ 46,6 bilhões em 24 de fevereiro, dia em que Vladimir Putin ordenou que seu exército invadisse a Ucrânia. Em suma, as autoridades da União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos visaram os “oligarcas” russos e suas empresas com sanções que tornam quase impossível para os magnatas empresariais manter o controle de seus ativos no Ocidente.
Os superiates foram apreendidos, o mercado imobiliário de ultraluxo de Londres se preparou para uma desaceleração, e Roman Abramovich anunciou a venda do time de futebol Chelsea FC. Os russos mais ricos perderam mais US$ 47 bilhões durante 2022 com a continuidade da guerra.
Março: a vez da China
Os mercados da China foram de mal a pior, apagando US$ 64,6 bilhões da fortuna dos mais ricos do país em 14 de março. Eles perderam mais de US$ 164 bilhões em 2022, com o esforço de contenção da covid, um mercado imobiliário em declínio, um maior escrutínio do setor tecnológico e tensões comerciais com os EUA afetando a segunda maior economia do mundo. Isso, combinado com a retórica populista do presidente Xi Jinping, fez com que os chineses mais afluentes planejassem sair do país e levar seu dinheiro.
Abril: jogada de mestre de Musk
Logo após revelar uma participação de 9,1% no Twitter, Musk se oferece para comprar a empresa em 14 de abril por um valuation de US$ 44 bilhões. Foi um preço alto, até mesmo para ele. Para financiar o negócio, ele planejava inicialmente tomar emprestado bilhões, alavancar mais de suas ações da Tesla e juntar US$ 21 bilhões em dinheiro, o que os analistas corretamente previram que exigiria a venda de ações da Tesla.
Os mercados se deterioraram nos meses seguintes e Musk tentou inventar uma rota de fuga, dando início a uma disputa legal de meses com o Twitter. Quando o negócio foi concluído em outubro, o patrimônio líquido de Musk era US$ 39 bilhões de dólares menor do que quando fez sua oferta inicial.
Maio: Boehly adquire o Chelsea
Um grupo liderado pelo bilionário das finanças Todd Boehly e pela Clearlake Capital venceu a licitação de US$ 5,25 bilhões pelo Chelsea. Foi o preço mais alto já pago por um time e encerrou um processo frenético de dois meses que atraiu mais de 100 concorrentes de todo o mundo, incluindo o bilionário britânico Jim Ratcliffe, o cofundador da Apollo Global Management Josh Harris, o copresidente da Bain Capital Steve Pagliuca e Ken Griffin, da Citadel. A receita líquida da venda, incluindo 1,6 bilhão de libras esterlinas em dívidas devidas a Abramovich pela equipe, foi destinada à caridades que beneficiam a Ucrânia.
Junho: aquisição do Denver Broncos
Rob Walton, herdeiro da fortuna do Walmart (WMT), concordou em comprar os Denver Broncos por US$ 4,65 bilhões, estabelecendo um recorde para uma equipe esportiva dos EUA, e ressaltando a atratividade de ser proprietário de um time da NFL. O consórcio de Walton inclui a filha de Rob Carrie, seu esposo Greg Penner, a presidente da Ariel Investments Mellody Hobson, o piloto de corridas Lewis Hamilton e Condoleezza Rice. O acordo fez de Hobson e Rice as primeiras mulheres negras a terem uma participação acionária em uma equipe da NFL.
A oferta liderada por Walton superou as do fundador da Clearlake Capital, José Feliciano, do diretor executivo da United Wholesale Mortgage, Mat Ishbia, e de Josh Harris. Posteriormente, em dezembro, Ishbia e seu irmão concordaram em comprar uma participação majoritária no Phoenix Suns, da NBA.
Julho: colapso das construtoras da China
Yang Huiyan perde o título de mulher mais rica da Ásia depois de sua fortuna cair para menos da metade em sete meses, em meio à crise imobiliária que a China atravessou. A Country Garden Holdings, incorporadora que Yang herdou de seu pai em 2005, beneficiou-se de uma vertiginosa onda de construções nos últimos anos. Mas os esforços do país para conter os preços imobiliários e a repressão de Xi Jinping ao consumo estrangularam o setor, atrasando projetos e levando os proprietários frustrados a deixarem de pagar hipotecas sobre empreendimentos parados. O preço das ações da Country Garden – e a riqueza da Yang – ainda não se recuperou.
Agosto: Ascensão de Adani
Magnatas do carvão aprecem algo de outra era. Mas, com o mundo impactado pela guerra na Ucrânia, Adani, um minerador indiano com um império em rápida expansão, ultrapassa Gates e o francês Bernard Arnault e se torna a terceira pessoa mais rica do mundo no final de agosto. É o lugar mais alto ocupado por um bilionário asiático. Alinhando-se ao Primeiro Ministro indiano Narendra Modi, Adani usou a dívida para diversificar rapidamente seu conglomerado relativamente opaco, o Adani Group, em portos, data centers, rodovias e, de forma controversa, energia verde. Em setembro, ele superou brevemente Bezos e chegou a ser a segunda pessoa mais rica do mundo.
Setembro: Zuckerberg mais pobre
Mesmo em um ano difícil para as gigantes de tech americanas, as perdas de Zuckerberg se destacam. Em meados de setembro, seu patrimônio líquido caiu US$ 71 bilhões desde 1º de janeiro – uma perda de 57% – por causa de uma custosa mudança para o metaverso e a retração da indústria que derrubou o preço das ações da Meta (META). Ao longo do ano, ele caiu 19 posições no índice de riqueza da Bloomberg, terminando 2022 em 25º, sua posição mais baixa desde 2014.
Outubro: colapso dos ‘bilionários da covid’
A bolha da economia da covid se esvaziou rapidamente e com ela, as fortunas dos chamados bilionários da covid – magnatas que extraíram enormes fortunas de vacinas (Stephane Bancel, da Moderna (MRNA)), carros usados (Ernie Garcia II e Ernie Garcia III, da Carvana (CVNA)), compras on-line (Bom Kim, da Coupang (CPNG)) e, claro, de tecnologias (Eric Yuan, do Zoom (ZM)). Os 58 bilionários, cujas fortunas se multiplicaram em ritmo acelerado por tais indústrias pandêmicas, viram um declínio médio no valor de seus ativos de 58% em relação ao seu pico, uma queda muito mais acentuada do que os outros integrantes do índice de riqueza da Bloomberg.
Novembro: de US$ 16 bilhões a nada
A exchange de cripto FTX, de Sam Bankman-Fried, entrou em colapso após uma crise de liquidez, revelando buracos no balanço de seu império e uma ausência de controles de risco. A fortuna de US$ 16 bilhões do magnata de 30 anos de idade é apagada em menos de uma semana. Em seu auge, seu patrimônio líquido foi avaliado em US$ 26 bilhões.
O desastre desanimou numerosos políticos de Washington que aceitaram suas doações, sufocou muitas instituições de caridade, humilhou investidores no Vale do Silício e de outros lugares e deixou cerca de 1 milhão de clientes no limbo se perguntando se vão receber seu dinheiro de volta.
Zhao, CEO da Binance, conhecido no mundo criptográfico como CZ, viu seu patrimônio líquido cair cerca de US$ 84 bilhões este ano, enquanto outros bilionários de cripto como Cameron e Tyler Winklevoss, Michael Novogratz e Brian Armstrong procuram se distanciar do colapso da FTX.
Dezembro: Musk perde a coroa
Musk perdeu o posto de pessoa mais rica do mundo, que agora pertence a Arnault, o magnata francês de luxo por trás da LVMH. Embora Arnault não tenha saído ileso de 2022, com uma queda de cerca de US$ 16 bilhões no ano, ele está emparelhado com Musk e suas perdas de mais de US$ 138 bilhões.
Mas como isso aconteceu? Com uma queda no mercado, uma compra por impulso de uma empresa de mídia social não lucrativa, um pouco de alavancagem, mais preocupações com a cadeia de abastecimento e um desejo insaciável de atenção. Vem fácil, vai fácil.
--Com a colaboração de Jack Witzig.
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