Como a queda do petróleo em reais derrubou a inflação e deu alívio ao BC

Levantamento para a Bloomberg Línea mostra que esse indicador caiu ao menor nível desde 2021, o que representa um alívio externo, mas revela o peso da pressão doméstica

Em 12 meses, os combustíveis registram queda de 23,9% até novembro, segundo o IBGE
28 de Dezembro, 2022 | 01:12 PM

Bloomberg Línea — A alta dos preços dos combustíveis e energia foi uma das maiores dores de cabeça para as famílias brasileiras em 2021 e 2022. Mas, depois de um aumento expressivo até meados deste ano, o preço de produtos como gasolina, etanol, diesel e gás de cozinha, passou a cair.

A queda foi impulsionada pelo corte de impostos promovido pelo governo e o Congresso, mas também houve uma redução das cotações internacionais do petróleo, o que ajudou a estabilizar os preços internos.

O alívio no bolso dos brasileiros fica evidente quando se converte o preço internacional do petróleo em reais e se faz uma comparação ao longo do tempo.

Em novembro, o preço do petróleo convertido em reais chegou ao menor nível desde dezembro de 2021. A redução é mais um sinal de que os choques externos que pressionaram a inflação ficaram para trás, dando alívio para o Banco Central no combate à alta dos preços no país.

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Levantamento exclusivo feito por Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, a pedido da Bloomberg Línea, calculou o preço do petróleo convertido em reais mês a mês de dezembro de 2019 a novembro de 2022, levando em conta a cotação internacional do petróleo WTI e o câmbio ao final de cada período.

O levantamento mostra que o preço do petróleo em reais arrefeceu no segundo semestre deste ano depois de dobrar de valor em relação à cotação do fim de 2019, antes da pandemia (veja o gráfico abaixo). No ano passado e no começo deste ano, o aumento do custo do petróleo coincidiu com a subida do dólar durante a crise de covid-19, o que elevou o custo dos produtos importados.

Dados do Ministério da Economia mostram que o Brasil importou US$ 8,7 bilhões em petróleo bruto de janeiro a novembro, mais que o dobro do valor no mesmo período do ano passado (US$ 3,7 bilhões). O produto é a segunda principal mercadoria importada pelo Brasil nos primeiros 11 meses de 2022, depois de óleo diesel (US$ 12,7 bilhões).

Quanto mais alta a cotação internacional e mais alta da taxa de câmbio, maior tende a ser o custo em reais pago pelo Brasil pelo produto, o que tem efeitos sobre a inflação no país.

Commodities em queda

Além do petróleo, outras matérias-primas tiveram redução de preço em reais. Entre elas está o trigo – outro produto que tem peso nas importações e representa um custo significativo para empresas do setor de alimentos, como M. Dias Branco (MDIA3).

No caso do grão utilizado na produção de pães, massas e biscoitos, o preço convertido em reais chegou ao menor nível desde setembro de 2021. Commodities como soja e milho, usadas na produção de ração para animais, também tiveram redução de preços em reais.

Para Caruso, do Original, o resultado indica que os choques inflacionários externos diminuíram e que o câmbio está mais estabilizado, favorecendo um equilíbrio dos preços de produtos importados.

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“O contexto global de desaceleração da economia está afetando mais as commodities para baixo. E se a gente pegar a nossa moeda em relação às outras, temos observado um desempenho até relativamente positivo ou menos negativo”, afirmou o economista.

Queda da inflação

Dados do IBGE, mostram que o IPCA se acelerou em 2021 e 2022 até atingir o pico de 12,13% em 12 meses em abril deste ano, para depois começar a cair. Em novembro, a inflação anual acumulada caiu para 5,9%, o menor resultado desde fevereiro de 2021.

A queda da inflação nos últimos meses foi puxada justamente pela redução dos combustíveis e energia elétrica, embora em novembro o preço da gasolina e do etanol tenha voltado a acelerar. Em 12 meses, no entanto, os combustíveis registram uma queda de 23,9% até novembro.

Entre os grupos analisados pelo IBGE, a maior alta de preços em 12 meses é de vestuário (18,65%), seguido de alimentação e bebidas (11,84%), saúde e cuidados pessoais (10,49%) e artigos de residência (8,68%). Já o grupo de transportes, que inclui os custos com combustíveis, registra uma queda anual de 0,93%, assim como o grupo de serviços de comunicação (-1,17%).

Na visão do economista do Banco Original, a inflação se tornou muito mais uma questão da economia doméstica, sendo influenciada pelo aumento do custo de serviços.

“Os índices de inflação no mundo estão em desaceleração. De forma geral, os headlines têm cedido no mundo, nesse contexto de commodities para baixo”, afirmou.

“Agora vemos que o componente internacional ajuda na ponta, mas o contexto doméstico de desemprego baixo e pressão de salários e pressões de serviço passa a ser o novo risco”, alertou.

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.