Caged desacelera em novembro e mais 4 assuntos do Brasil e do mundo

Confira os principais temas que vão ditar o sentimento dos mercados nesta quarta-feira (28)

Dados do Caged podem mostrar desaceleração na geração de empregos formais
28 de Dezembro, 2022 | 09:08 AM

Bloomberg Línea — A quarta-feira é marcada pela divulgação do Caged de novembro, o último dado do ano sobre o mercado de trabalho formal. Segundo o Ministério do Trabalho e Previdência, o Brasil registrou a criação de 135.495 novos postos de trabalho com carteira assinada em novembro. O dado ficou abaixo do esperado por economistas do mercado financeiro consultados pela Bloomberg News, que esperavam a criação de 149,2 mil postos de trabalho com carteira assinada no mês. O resultado indica uma desaceleração na geração de empregos formais em relação a outubro, quando foram criadas 162 mil vagas, de acordo com os dados revisados pelo ministério.

Outro dado que deve ser acompanhado pelo mercado é divulgação do resultado primário do governo central de novembro. A expectativa é de um déficit de R$ 9,9 bilhões no mês, após um superávit de R$ 30 bilhões em outubro.

Também no cenário doméstico, o governo desistiu de prorrogar a desoneração de impostos federais sobre os combustíveis. A medida havia sido tomada em meados de 2022 para aliviar os preços da gasolina, do etanol e do diesel. Com a volta da cobrança dos impostos em 1º de janeiro, o novo governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve ter algum fôlego na arrecadação para compensar o aumento das despesas previsto na PEC da Transição.

A quatro dias da posse do novo governo do presidente Lula, as negociações continuam para definir os nomes dos indicados para 16 dos 37 ministérios que ainda não foram anunciados oficialmente. A expectativa é de que alguns nomes sejam conhecidos nesta quarta-feira (28).

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Confira as notícias que devem movimentar os mercados nesta quarta-feira (28):

1. Impostos sobre combustíveis e ministérios

O governo do presidente Jair Bolsonaro desistiu dos planos de estender a desoneração de impostos federais sobre combustíveis a pedido do novo governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os cortes de impostos, que visam amenizar o impacto dos altos preços do petróleo sobre os consumidores, expiram em 31 de dezembro, e o atual governo pretendia prorrogá-los por um mês.

O governo havia zerado a cobrança de PIS/Cofins para o diesel, gás de cozinha, gasolina, etanol e gás natural veicular. A decisão significa que os preços dos combustíveis podem subir no início do ano, aumentando a inflação que atualmente está em 5,9% ao ano.

Economistas da LCA Consultores estimam que a volta da cobrança do PIS e Confins na gasolina, etanol e diesel deve ter impacto de 0,8 ponto percentual no IPCA de 2023. Com a volta dos impostos, a receita fiscal que pode ser obtida é de R$ 53 bilhões.

Fernando Haddad, escolhido por Lula para ser seu ministro da Fazenda, disse a repórteres na noite de terça-feira (27) que pediu ao ministro da Economia, Paulo Guedes, por telefone, que não prorrogasse as isenções após discutir o assunto com o presidente eleito Lula. “As medidas que podem ser tomadas em janeiro não precisam ser tomadas às pressas agora”, disse Haddad, acrescentando que no início de janeiro anunciarão seu plano para “cobrir o rombo aberto nas contas públicas”.

Enquanto isso, continuam as negociações do novo governo Lula para definir os nomes do restante dos seus ministérios. Ainda falta anunciar oficialmente 16 dos 37 ministérios do novo governo. Na terça-feira, a senadora Simone Tebet sinalizou que vai aceitar o convite para o Ministério do Planejamento, um dos mais importantes na definição da política econômica do governo. A expectativa também é de que Marina Silva deva assumir o Ministério do Meio Ambiente. A equipe de Lula havia dito no início da semana que poderia anunciar os demais nomes do ministério nesta quarta-feira (28).

2. Caged de novembro

O Brasil criou 135.495 novas vagas de emprego com carteira assinada em novembro, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do mês de novembro. Os números foram divulgados na manhã desta quarta-feira (28) pelo Ministério do Trabalho e Previdência.

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O resultado ficou abaixo do esperado por economistas do mercado financeiro. A estimativa mediana de economistas consultados pela Bloomberg News era de criação de 149,2 mil postos de trabalhos formais no mês.

O número é menor do que as 162 mil vagas criadas em outubro, de acordo com dados revisados pelo ministério e sugerem uma perda de fôlego na criação de vagas no país, em linha com a desaceleração da atividade econômica.

Novembro é o terceiro mês seguido de queda na geração de vagas formais desde que foram criadas 289,1 mil vagas em agosto, seguido por um saldo de 278,5 mil em setembro e 162 mil em outubro. Em 2021, o número de criação de vagas em novembro foi mais que o dobro (313,77 mil).

Apesar da desaceleração no mês, o estoque total de empregos formais subiu para 43,14 milhões de vagas, o maior resultado da série histórica. Considerando os últimos 12 meses, o país tem saldo positivo de 2,17 milhões empregos com carteira assinada.

O mercado de trabalho foi uma das surpresas positivas da economia brasileira em 2022. De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego caiu para 8,3% no trimestre encerrado em outubro, o nível mais baixo para o período desde 2015.

Economistas do banco Santander apontam que o resultado de novembro é compatível com uma desaceleração do mercado de trabalho depois de uma forte recuperação. Na avaliação dos economistas, o mercado de trabalho continua superaquecido no país.

“Esperamos que a criação de empregos permaneça em níveis baixos à frente, especialmente considerando os efeitos prolongados de uma postura mais rígida da política monetária, que já começa a se refletir em setores mais sensíveis ao ciclo, como construção e manufatura”, diz Gabriel Couto, economista do banco, em nota divulgada após o resultado.

3. Mercados

Os investidores estão mais céticos sobre um rali de fim de ano e tentam equilibrar o apetite por barganhas com a cautela sobre a economia. A China, que antes gerava preocupações por seus controles contra a covid e o risco de recessão, agora desperta temores de um efeito inflacionário na economia global com sua reabertura e uma possível extensão ciclo de aperto monetário.

No mercado asiático, o sinal foi majoritariamente negativo, com exceção do índice Hang Seng, que voltou a operar nesta quarta-feira e fechou com ganhos. No mercado acionário europeu, assim como nos futuros de índices nos Estados Unidos, a volatilidade predominava, com operadores de olho nas perdas das ações da Tesla. Os papéis da empresa, que recuaram 11% ontem, continuavam a sofrer na pré-abertura e o papel mostravam recuo de quase 4% em meio a percepção de demanda fraca.

4. Manchetes do dia

Estadão: O que falta para definir os últimos ministros de Lula, após a escolha de Simone Tebet e Marina Silva

Folha de S. Paulo: Datafolha: Para 60% dos brasileiros, 2023 será melhor do que 2022

O Globo: Governo eleito quer elevar influência na Eletrobras privatizada. Entenda os riscos da proposta

Valor Econômico: Riachuelo avalia combinação dos negócios com concorrentes

5. Agenda

Além do Caged de novembro, outros indicadores devem ser conhecidos nesta quarta-feira. O Tesouro Nacional divulga às 14h30 o resultado primário do governo central de novembro. A expectativa é de um déficit de R$ 9,9 bilhões no mês, após um superávit de R$ 30 bilhões em outubro.

No cenário internacional, será divulgado às 12h (horário de Brasília) o dado de vendas pendentes de moradias nos EUA, o que deve trazer indicações sobre o mercado imobiliário no país, que tem sido impactado pela alta de juros e o aperto do crédito.

-- Com informações da Bloomberg News. Atualizada com informações dos dados do Caged

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Filipe Serrano

É editor da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.