10 teses para investir em 2023, segundo este banco suíço que faz gestão de fortunas

Lombard Odier, que tem de mais de US$ 380 bi no portfólio, prevê recessão no cenário-base e inicia o ano privilegiando ativos de qualidade em todas as classes

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Bloomberg Línea — Os efeitos de uma política monetária restritiva, a inflação elevada e a desaceleração da atividade econômica deverão continuar no centro das atenções de investidores em 2023, exigindo um posicionamento cauteloso para o portfólio. Mas, uma vez que as taxas de juros reais atinjam o pico nos Estados Unidos, o ciclo econômico deverá criar oportunidades para aumentar as alocações em ativos de risco. Essa é a avaliação de Stéphane Monier, Chief Investment Officer (CIO) do banco suíço Lombard Odier.

Em relatório divulgado com exclusividade pela Bloomberg Línea, Monier comenta as principais teses de investimento para 2023 de um dos mais tradicionais bancos suíços, especializado na gestão de patrimônio. Para quem ainda está otimista, um alerta: a recessão faz parte do cenário-base da casa.

Entre os principais riscos para os investidores, o banco fundado em 1796 destaca as políticas monetárias excessivamente restritivas, a guerra na Ucrânia e novas tensões geopolíticas envolvendo Taiwan.

Com mais cautela no início de 2023, o Lombard Odier, que faz a gestão de mais de US$ 380 bilhões no mundo, tem privilegiado ativos considerados de qualidade em todas as classes. Em ações, a aposta recai sobre empresas com baixa volatilidade de lucros e maior capacidade de manter as margens.

Na renda fixa, o banco prefere papéis grau de investimento (com melhores notas de rating e menor risco) em detrimento dos high yield (com maior risco, mas maior potencial de retorno); e, em moedas, refúgios de risco, como o dólar e o franco suíço, são as principais escolhas.

Para o primeiro semestre de 2023, o Lombard Odier tem optado por manter um portfólio com maior liquidez de forma a “permitir rapidez para aproveitar oportunidades de investimento à medida que as condições melhorem”.

Confira 10 teses de investimento do Lombard Odier para 2023:

1. Ponto de inflexão

O aperto da política monetária de forma a conter a pressão inflacionária se traduz em um cenário desfavorável para os ativos de risco. Nesse contexto, as expectativas de recessão e novos cortes nas projeções de lucros corporativos funcionam como ventos contrários para ações e títulos. Para Monier, contudo, um pico nas taxas de juros reais nos Estados Unidos deverão fornecer um ponto de virada nos mercados.

Para isso, o Fed precisará interromper seu ciclo de alta de juros à medida que a inflação desacelera e o desemprego aumenta. Quando isso ocorrer, o gestor afirma que aumentará gradualmente os níveis de risco nas carteiras, ampliando o duration (tempo médio de retorno do investimento) em títulos públicos, bem como adicionando algumas ações e títulos de crédito privado.

2. Posição underweight em ativos de risco

Devido ao cenário macroeconômico incerto, o Lombard Odier tem mantido uma exposição cautelosa em ativos de risco, concentrando-se naqueles que possam suportar melhor o impacto de um crescimento mais fraco e de taxas de juros mais altas. Em outras palavras, isso significa manter na carteira ações de qualidade, títulos públicos e papéis de crédito privado com grau de investimento (com melhores notas de rating e menor risco). O especialista também tem mantido uma fatia de maior liquidez no portfólio de forma a conseguir investir assim que ver oportunidades.

3. Ativos de qualidade

No relatório, o banco suíço afirma que espera novas baixas no mercado de ações, dado que os altos custos de empréstimos limitam a expansão dos múltiplos das empresas e as projeções de ganhos continuam sendo ajustadas pelos temores de recessão.

“Nesse contexto, buscamos empresas de qualidade, com baixa volatilidade de lucros e melhor capacidade de defesa de suas margens. Essas ações tendem a ter um desempenho superior em recessões ou quando os lucros diminuem”, escreve.

Dentre os setores, a preferência recai sobre o de saúde devido às margens altas, isolamento da inflação, devido ao alto poder de precificação, e retornos atraentes para os acionistas. “Os valuations também permanecem historicamente pouco exigentes em comparação com outros setores defensivos de crescimento”, completa o gestor.

4. Assimetrias e hedge

As estratégias de opções, como “put spreads” em índices de ações, podem ser instrumentos interessantes para proteger as carteiras de possíveis quedas, destaca Monier. Essa estratégia de “trava de baixa” consiste na compra e venda simultânea de duas “puts” (opções de venda).

A casa tem usado hedges (proteção) ao longo de 2022 e pretende continuar com a estratégia em 2023, de forma tática e de acordo com as condições de mercado.

5. Investimentos alternativos

Como o ambiente para investimento ainda desafiador, o Lombard Odier tem favorecido a alocação em fundos de investimento, como os multimercados macro globais, fundos discricionários e fundos quantitativos.

“Estes devem fornecer diversificação, pois tendem a se beneficiar da dispersão de desempenho entre classes de ativos e regiões. Eles são projetados para funcionar em períodos mais extremos e devem lucrar com o ambiente volátil”, escreve o CIO.

6. Exposição ao dólar

A força do dólar deve permanecer durante a fase “pré-pivot”, segundo Monier, dados os diferenciais de taxa e o aperto de liquidez nos EUA. Outra moeda que também tende a ganhar neste cenário é o franco suíço, por exemplo.

7. Ouro como reserva de valor

Durante grande parte de 2022, os preços do ouro ficaram presos entre riscos geopolíticos e de recessão – que tendem a valorizar a commodity – e pressões de queda dos juros reais e de um dólar forte. A expectativa, segundo o Lombard Odier, é de que os juros baixos, dólar mais fraco e reabertura da China cotribuam para uma valorização nos preços do ouro.

8. Crédito high yield

À medida que o sentimento do investidor melhorar, o apetite por ativos de risco deverá seguir o mesmo movimento, avalia o executivo. “Uma vez que os spreads de crédito high yield [com maior risco e maior potencial de retorno] precifiquem mais plenamente uma recessão e as taxas tenham se estabilizado, carregar esses papéis será mais atraente do que os grau de investimento e os títulos soberanos.”

9. Ações como oportunidade

À medida que a inflação e a ameaça de taxas mais altas começam a diminuir, os valuations e os múltiplos das ações serão beneficiados, segundo o banço suíço. “A flexibilização das condições financeiras levará à melhora do sentimento do investidor e, por sua vez, expandirá as relações preço sobre lucro (P/L)”, destaca o relatório.

“Em meados de 2023, as expectativas de ganhos e vendas serão revisadas para baixo e os mercados começarão a olhar para 2024 e uma recuperação da desaceleração cíclica. Isso apresentará oportunidades para adicionar exposição a nomes cíclicos e de crescimento.”

10. Ações de emergentes

Após um pivô do Fed, a expectativa do Lombard Odier é de que os ativos emergentes se recuperem. Será necessária, contudo, uma mudança no sentimento e na dinâmica de crescimento. “Se esses catalisadores se materializarem, veremos as ações emergentes superando os mercados desenvolvidos e a dívida emergente em moeda local parecendo cada vez mais atraente”, diz o relatório.

Embora o banco afirme estar mais construtivo em relação às taxas locais emergentes, dados os ciclos monetários bem avançados, ele espera que as moedas emergentes se recuperem de níveis deprimidos somente quando as condições financeiras melhorarem.

“Haverá espaço para valorização dos ativos emergentes após o pivô, com mais apetite dos investidores internacionais e maior confiança no cenário dos mercados emergentes”, diz.

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