Vencedores e perdedores do mercado financeiro no ano que está acabando

Do colapso de instituições de criptos à queda nas ofertas conhecidas como SPACs, Wall Street teve um ano que mudou a percepção de investidores sobre muitos ativos

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Bloomberg — De escândalos de cripto ao estouro da bolha SPAC, 2022 foi um ano maluco no mundo das finanças. Também marcou o primeiro ano completo de trabalho das agências reguladoras e antitruste do governo Biden.

Não é segredo que os executivos dos grandes bancos nem sempre compartilham as mesmas opiniões dos reguladores. Então, enquanto Wall Street espera a bola cair na Times Square, tradicional celebração de Ano Novo em Nova York, aqui está um placar sobre os maiores vencedores e perdedores de 2022:

Vencedores

Céticos do universo cripto

A crença em criptoativos caiu drasticamente. Depois de uma série de escândalos, pressão - ainda em andamento - para devolver doações políticas contaminadas pelo drama da FTX e investidores de varejo perdendo uma tonelada de dinheiro, é difícil evitar ouvir um coletivo “eu te avisei” de céticos dos criptos.

Os defensores dos tokens ainda estão em Washington, mas as luxuosas festas à beira do rio e as sessões de fotos com políticos ansiosos acabaram - pelo menos por enquanto -, enquanto os lobistas de cripto jogam na defesa.

A mudança não poderia vir em pior momento para o setor, já que os legisladores preparam uma legislação para atingir diretamente a classe de ativos. O presidente do Comitê Bancário do Senado, Sherrod Brown, um cético de longa data, expressou o desejo de criar uma ampla estrutura regulatória.

Investidores Ativistas

Os investidores que procuram influenciar a forma como as empresas se comportam e são administradas e quem eles colocam em cargos executivos estão prestes a exercer novos poderes na temporada 2023.

A SEC, Securities and Exchange Commission, o equivalente da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, mudou as regras para abrir votos por procuração e permitir que os diretores apoiados pela administração e pelos investidores concorram mais diretamente pelos mesmos assentos nos conselhos.

A “cédula por procuração universal” enfraquece a prática de longa data de apenas permitir que os investidores apoiem uma lista de indicados. Espera-se que outras mudanças da SEC tornem mais fácil para os investidores colocar questões com significado social para votação dos acionistas, potencialmente desencadeando um tsunami de novas propostas ESG.

Compliance

Depois de uma administração de Donald Trump quase inativa, os custosos monitoramentos corporativos retornaram em acordos de execução com as autoridades dos Estados Unidos. A mudança fez de 2022 um ano marcante para aqueles que ganham a vida policiando o comportamento de empresas.

Em uma série de casos de alto perfil, bancos de Wall Street concordaram em contratar consultores de compliance para aprofundar suas políticas e procedimentos de comunicação, além de pagar pesadas multas para resolver as alegações de que os banqueiros usaram o WhatsApp e outras plataformas não aprovadas para fazer negócios.

Separadamente, a mineradora Glencore concordou em contratar um auditor independente por três anos, além de pagar US$ 1,5 bilhão para resolver as investigações dos EUA, Reino Unido e Brasil sobre alegações de suborno e manipulação de mercado.

Enquanto isso, o Deutsche Bank teve que manter um auditor no local por mais tempo após uma questão relacionada a critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) no braço de gestão de ativos.

Empresas chinesas nos EUA

Empresas do Alibaba Group à JD.com conseguiram um indulto neste mês, quando os reguladores dos EUA disseram que conseguiram inspecionar os documentos de trabalho de auditoria de empresas com sede na China e em Hong Kong.

Cerca de 200 empresas enfrentavam uma grande ameaça de serem expulsas dos mercados da Bolsa de Valores de Nova York e da Nasdaq.

Após meses de drama, a ameaça diminuiu depois que o Conselho de Supervisão de Contabilidade de Empresas Abertas dos EUA disse que seus inspetores obtiveram acesso suficiente a documentos de auditoria de empresas na China e Hong Kong pela primeira vez.

Mesmo com o Congresso tentando manter a pressão, a perspectiva de manter suas listagens nos EUA é muito maior do que no início do ano.

Perdedores

SPACs

A chama estava morrendo antes mesmo do início de 2022, mas neste ano a febre dos SPACs, conhecidos como as empresas de cheque em branco, caiu oficialmente.

Dezenas de empresas de aquisição de propósito específico, que captam dinheiro à procura de outras companhias para IPOs futuros, estão se preparando para devolver bilhões de dólares aos investidores depois de não conseguirem encontrar algo para comprar. Várias que concluíram uma compra faliram.

Aparentemente, os investidores não estão mais distribuindo cheques em branco, nem os reguladores, com ataques ocorrendo em várias frentes.

A SEC e o Departamento de Justiça intensificaram o escrutínio das negociações do setor em busca de sinais de que patrocinadores de veículos SPACs violaram as regras na corrida para o mercado, assustando os investidores.

Além disso, as regras propostas buscavam fazer com que os patrocinadores divulgassem mais informações, deter as projeções e aumentar o passivo dos bancos que ajudam a financiar os SPACs.

A senadora Elizabeth Warren também pressionou por regras mais rígidas, descrevendo o setor como “repleto de fraudes, autonegociação e taxas inflacionadas”.

Fundos com rótulo ESG

O número de ativos em fundos anunciados como sustentáveis, ecologicamente corretos ou socialmente conscientes aumentou muito nos últimos anos. O rótulo ESG tem sido também uma ação de marketing com muitos investidores correndo pela chance de ganhar dinheiro e se sentirem bem com isso.

Mas em 2022 os reguladores dos EUA começaram a fazer algumas perguntas difíceis sobre o que realmente significa para um investimento ser considerado “verde” ou “ESG”.

A SEC propôs novos regulamentos de marketing e começou a processar empresas por causa de suas divulgações. O regulador também investiga se gestores de fundos que são comercializados como sustentáveis estão negociando seu direito de voto em questões ambientais, sociais e de governança.

Gestores de ativos, liderados pela BlackRock, alertaram que alguns dos planos de regras da SEC sobre rotulagem podem ter o efeito contrário do desejado.

Corretoras de atacado

O presidente da SEC, Gary Gensler, mirou nos modelos de negócios de corretoras de atacado como a Citadel Securities e a Virtu Financial.

Depois de avisar por mais de um ano que grandes mudanças nas regras estavam por vir, o regulador propôs neste mês um conjunto de planos que poderia resultar em um volume de pedidos de negociação sendo atendidos nas bolsas, em vez dessas empresas e um punhado de seus concorrentes.

Atualmente, muitos pedidos individuais de negociação de ações são administrados por corretoras de atacado, que pagam para processar negócios de clientes de empresas como a Robinhood por meio de uma prática conhecida como pagamento por fluxo de pedidos.

Os defensores do sistema atual dizem que os investidores de varejo nunca tiveram uma situação tão boa e podem negociar sem comissões por causa desses acordos.

Reputação de criptos

Se o colapso espetacular e repentino da FTX foi uma benção para os céticos das criptomoedas, foi devastador para a indústria como um todo.

O rosto da empresa, o cofundador Sam Bankman-Fried, passou um tempo significativo em Washington e se apresentou com sucesso como um player responsável em uma indústria cheia de sombras. Sua acusação, prisão e extradição foram profundamente embaraçosas e problemáticas para legisladores e reguladores que passaram tempo com ele.

A indústria está agora sob o olhar atento enquanto Washington considera maneiras de reprimir os abusos – provavelmente com uma mão mais pesada do que teria antes do fracasso da FTX. A crise dá munição a reguladores como Gensler, da SEC, que há muito defende uma abordagem mais agressiva e voltada para a fiscalização da classe de ativos.

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