O país entrou na mira de gigantes globais de helicópteros. Até com bilionários

Frota nacional supera mil unidades registradas e país entra para o top 10 de ranking global que avalia potencial de mercado desse segmento da aviação executiva

Helicóptero Airbus ACH 160 estimado em US$ 20 milhões: um dos modelos preferidos de bilionários no país
25 de Dezembro, 2022 | 08:10 AM

Bloomberg Línea — O Brasil se tornou um dos mercados de helicópteros comerciais que mais crescem no mundo, acima da média global, em um reflexo da maior demanda por mobilidade aérea nos principais centros urbanos da região Sudeste, segundo empresas e autoridades do setor.

É um segmento da aviação executiva que está aquecido desde 2020, primeiro ano da pandemia da Covid-19, quando muito dos atuais proprietários adquiriram sua primeira aeronave e, agora, em um movimento natural de mercado, buscam trocá-la por modelos mais novos, com mais conforto e segurança.

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As importações devem encerrar o ano com expansão de 6%, acima dos 5,4% previstos na média anual até 2030, segundo projeções da consultoria Grand View Research. É um mercado estimado em US$ 5,9 bilhões, em uma conta que não considera encomendas militares.

A chegada de um helicóptero importado ao país, trazido pelo avião cargueiro Beluga, virou um dos assuntos da mídia brasileira de celebridades em julho, com a chegada de um modelo ACH160, fabricado pela Airbus Helicopters.

A aeronave, cujo preço é estimada em quase US$ 20 milhões, está registrada na Aeronáutica como pertencente à Ocean Explorer do Brasil, consultoria em gestão empresarial do bilionário Carlos Alberto Sicupira, um dos principais acionistas da Ambev (ABEV3) e da AB InBev.

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A família H160 de helicópteros de luxo da Airbus é uma das preferidas dos bilionários brasileiros.

Segundo o RAB (Registro Aeronáutico Brasileiro), um modelo H160-B está no nome da Romanof, empresa de aluguel de imóveis, que tem registrado como sócio o banqueiro André Esteves, chairman do BTG Pactual (BPAC11), um dos maiores bancos de investimento da América Latina.

A frota brasileira de helicópteros com motores a turbina atingiu a marca de 1.000 unidades em março de 2020, mês em que a OMS (Organização Mundial de Saúde) decretou a pandemia ea covid-19.

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Em setembro deste ano (último dado disponível), o país registrava 1.093 helicópteros em situação regularizada, o que representa um crescimento de 6% em relação ao número da frota em dezembro de 2021 (1.032) e de 8% em relação ao fim de 2020. Os dados são da Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral), elaborados com base nos registros do RAB.

Subida em ranking

A entrada de novas matrículas (código que toda aeronave possui) na frota da aviação de negócios subiu de 239 em 2020 para 326 em 2021. Neste ano, até setembro, já somava 367.

Considerando só helicópteros movidos a turbina, esse indicador pulou de 33 em 2020 para 47 em 2021. E atingiu 68 nos nove primeiros meses de 2022.

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A tendência de aumento da frota de helicópteros contribui para melhorar a infraestrutura no mercado nacional de táxis aéreos.

Neste ano, o Brasil ganhou posições no ranking de países mais bem preparados para esse segmento da aviação executiva, saltando da 25º para a 8ª colocação entre 2021 e 2022, segundo a pesquisa “Índice de Prontidão do Táxi Aéreo 2022″, elaborada pela empresa global de auditoria KPMG.

O avanço foi impulsionado em grande parte pela alta nas oportunidades de negócios do país, que leva em conta a escala e a profundidade do Brasil como um mercado potencial de táxis aéreos.

“O Brasil é um mercado grande e tentador, com alta aceitação do consumidor, tecnologia e inovação e oportunidade de negócios, com um mercado de helicópteros desenvolvido e o maior volume de tráfego aéreo da América do Sul”, disse Camila Andersen, sócia de negócios estratégicos da KPMG no Brasil, em nota sobre a pesquisa.

“Suas inúmeras cidades congestionadas e extensas apresentam oportunidades ideais para a adoção do táxi aéreo”, apontou a especialista da KPMG.

Mercado de importação de helicópteros está aquecido desde o início da pandemia com a demanda impulsionada pelos públicos VIP e corporativo, segundo empresas do setor

Aumento projetado para 2023

A expansão da demanda por helicópteros deve continuar no mercado doméstico, segundo empresas que trabalham com a importação de aeronaves executivas. Os helicópteros são vistos por clientes como uma solução de mobilidade urbana para viagens com trajetos mais curtos.

“Acessar rapidamente diferentes pontos nas cidades maiores como São Paulo e Rio de Janeiro, chegar até aeroportos distantes das regiões de escritórios corporativos, ir até fazendas em áreas próximas dos centros urbanos ou em residências no litoral e interior motivam a importação de aeronaves de asas rotativas”, disse Pedro Ferreira, head de aviação da trading brasileira Timbro.

A empresa entregou neste ano cinco vezes mais helicópteros do que em 2021 com um faturamento 60% superior com esse segmento, segundo o executivo. Para o próximo ano, as encomendas já realizadas apontam para um aumento de 40% em volume na comparação com 2022. A trading projeta faturar US$ 2,2 bilhões em 2022 considerando todas as frentes de negócio.

“A receita foi impactada pela ampliação do mix, com clientes demandando a importação de modelos que estão no topo de linha. Como exemplo, a empresa intermediou a chegada de um Bell 429 biturbina, mais confortável e, por ter duas turbinas, mais seguro e com alcance maior”, disse o executivo, sem revelar a identidade do cliente.

Entre 2021 e 2022, a Timbro triplicou a equipe dedicada em aviação, que conta hoje com 11 profissionais da área comercial e operacional especializados em asas rotativas, e ampliou o portfólio de fabricantes parceiros, com foco em atender a demanda do mercado.

“O comportamento do proprietário que entra na aviação executiva é investir em uma aeronave funcional, com custo menor, para entender se esta solução de mobilidade faz sentido para suas necessidades”, disse Ferreira.

“Passada a fase de testes, esse proprietário se sente seguro para fazer um investimento maior e adquirir um helicóptero que é topo de linha. É nessa fase que estamos agora no segmento.”

A exposição dos novos modelos em feiras, como a Labace, realizada em agosto em São Paulo, ajuda a despertar o desejo por essas máquinas, que ainda nesta década devem rivalizar com os eVTols (veículo elétrico de decolagem e pouso vertical), previstos para chegar ao mercado em 2024.

A Leonardo, fabricante italiana de helicópteros multimotores para o público VIP/corporativo, recebeu em agosto uma encomenda de três unidades por dois clientes brasileiros: são dois helicópteros bimotores leves AW169 e um bimotor leve AW109 Trekke, com entrega prevista até o final de 2023.

Com mais de 900 helicópteros VIP em serviço em todo o mundo, quase 25% das aeronaves da Leonardo estão baseadas na América Latina, segundo a companhia.

Militares

Além de empresários, clientes institucionais, como governos, também estão reforçando a carteira de pedidos das fabricantes de aeronaves.

As Forças Armadas do Brasil adquiriram 27 helicópteros monomotores H125 para aumentar a capacidade de treinamento da Marinha e da Força Aérea, segundo a Airbus. A encomenda foi feita por meio da Copac (Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate), informou a gigante norte-americana, em um comunicado divulgado em setembro.

Nesse caso, não haverá importação. O H125 será produzido na linha de montagem localizada em Itajubá, em Minas Gerais, na fábrica da Helibras, onde também são montados os H225Ms para as Forças Armadas do Brasil. Segundo a Airbus, estes novos helicópteros substituirão os antigos helicópteros AS350 e Bell 206 atualmente em serviço com a Força Aérea e a Marinha, respectivamente.

As Forças Armadas do Brasil operam um total de 156 helicópteros da Airbus, instalados em oito bases em todo o país. A frota abrange desde a família Esquilo monomotor leve até o helicóptero pesado multiuso H225M (67 e 41 helicópteros respectivamente).

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.