Casas de leilões têm ano recorde. O que isso diz sobre o mercado de arte

Relatórios anuais mostram a performance em 2022 do mercado de arte de luxo; Christie’s vendeu 7 das 10 obras de arte mais caras do ano

(Foto por Dia Dipasupil/Getty Images)
Por James Tarmy
24 de Dezembro, 2022 | 02:21 PM

Bloomberg — Tem sido um ano marcante para as casas de leilões.

Christie’s, Sotheby’s e Phillips publicaram relatórios de final de ano mostrando dados fortes em suas operações. As vendas globais da Christie’s atingiram US$ 8,4 bilhões, o maior valor total anual da história do mercado de arte, segundo a casa de leilões.

A Sotheby’s ficou logo atrás, com US$ 8 bilhões em vendas, também a mais alta (embora venha com algumas ressalvas importantes) e a Phillips também relatou seu melhor ano de todos os tempos, com uma soma final de US$ 1,3 bilhão.

Mas antes de comemorar, é necessário um disclaimer: este ano recorde pode dizer mais sobre a natureza do negócio da casa de leilões do que sobre o próprio mercado de arte.

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O total da Sotheby’s, por exemplo, inclui apenas US$ 6,8 bilhões em vendas de obras de arte e luxo, uma queda de quase 7% em relação aos US$ 7,3 bilhões do ano passado. Os US$ 1,2 bilhão restantes no relatório de fim de ano da Sotheby’s vieram do leiloeiro de carros RM Sotheby’s e do de imóveis Sotheby’s Concierge Auctions. (A Sotheby’s não é dona do leiloeiro de carros nem do de imóveis, e só adquiriu uma porcentagem deste último em novembro de 2021. Mesmo assim, relatou 100% do total de vendas como próprio.)

A queda em seu negócio principal, contudo, não é tão dramático quanto parece. Em 2021, a Sotheby’s vendeu um Botticelli de US$ 92 milhões, um Rothko de US$ 82,5 milhões e um Giacometti de US$ 78,4 milhões. Remova apenas essas três obras de arte da equação e os números desse segmento neste ano e no ano passado estão próximos da paridade.

Em outras palavras, o total de vendas até este fim de ano diz mais sobre o potencial das casas de leilão em conseguir boas remessas do que sobre a força ou fraqueza do mercado atual.

Diversificação de portfólio

A Phillips conseguiu complementar seus números gerais entrando em novas categorias. Tradicionalmente uma casa de leilões conhecida pela arte de ponta e hipercontemporânea, teve neste ano um aumento de 50% no volume de vendas de obras de arte modernas – de artistas como Marc Chagall, Roy Lichtenstein e Pablo Picasso – por somas multimilionárias.

E, embora 148 artistas tenham feito sua estreia em leilão na Phillips este ano, foram a venda de um Jean-Michel Basquiat de quatro décadas no valor de US$ 85 milhões e um Cy Twombly de US$ 41,6 milhões – pintado quando o artista tinha quase 70 anos – que ajudaram a manter a casa em níveis recorde.

Enquanto isso, a Christie’s, que teve a exibição mais forte de todas, vendeu um valor de US$ 6,2 bilhões em arte dos séculos 20 e 21 sozinha. Uma categoria chamada de clássicos, que inclui antiguidades e artes decorativas, acrescentou US$ 789 milhões à sua contagem total, e suas categorias de luxo chegaram a quase US$ 1 bilhão. O segmento de arte asiática e mundial, por sua vez, levou o resto, com pouco menos de US$ 400 milhões em vendas.

Os resultados da Christie’s foram impulsionados por várias vendas sem precedentes de um único proprietário, incluindo US$ 1,6 bilhão em arte do espólio do falecido cofundador da Microsoft (MSFT), Paul Allen. Mas seus resultados também foram impulsionados por um aumento no preço por lote.

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No ano passado, as vendas da Christie’s totalizaram US$ 7,1 bilhões, o que significa que aumentaram 18,3% na base anual. O volume de lotes vendidos subiu de forma mais modesta, de 43.386 para 46.322, ou cerca de 6,7%. Talvez sem surpresa, então, a Christie’s dominou o topo do mercado, vendendo 7 das 10 obras de arte mais caras deste ano.

Confira, a seguir, as obras de arte mais caras vendidas em 2022:

10. René Magritte’s L’empire des Lumières, 1961: US$ 79,8 milhões

Magritte’s L’empire des Lumières (1961), por Rene Magritte

Saiba mais: Uma das obras mais icônicas de Magritte, a pintura foi comprada diretamente do artista e permaneceu na mesma família até então. Com estimativa inicial de venda por US$ 60 milhões, seu valor total (incluindo as taxas cobradas pela casa de leilões) mais que dobrou o recorde de Magritte em leilões. A obra foi vendida na Sotheby’s de Londres.

9. Sem título, de Jean-Michel Basquiat, 1982: US$ 85 milhões

Saiba mais: Consignada pelo bilionário de e-commerce japonês Yusaku Maezawa, a obra se valorizou 48% em apenas seis anos. A pintura de pouco mais de quatro metros de largura foi a terceira obra de arte mais cara do artista a ser vendida em leilão. Foi comprada por um cliente asiático anônimo da Phillips em Nova York.

8. White Disaster, de Andy Warhol [White Car Crash 19 Times], 1963: US$ 85,4 milhões

Saiba mais: Com pouco mais de 3,6 metros de altura, esta pintura requer uma grande quantidade de espaço na parede. Com uma estimativa inicial de venda por US$ 80 milhões, a obra atendeu as expectativas. A obra foi vendida na Sotheby’s em Nova York. (Outra pintura da série “Car Crash” de Warhol estabeleceu um recorde ao ser vendida por US$ 105,4 milhões, em 2013.)

7. Grande interior, de Lucian Freud, W11 (depois de Watteau), 1981-83: US$ 86 milhões

Saiba mais: Ofuscando o recorde anterior de leilão de Freud de US$ 56,2 milhões, esta pintura grande e requintada foi vendida em um evento da coleção Paul Allen. A obra já havia estabelecido um recorde anteriormente, tornando-se a pintura mais cara de Freud em um leilão em 1998, quando foi vendida por US$ 5,8 milhões. A pintura, como as demais listadas abaixo, foi vendida na Christie’s em Nova York.

6. Floresta de bétulas, de Gustav Klimt, 1903: US$ 105 milhões

Saiba mais: O lote superou facilmente sua estimativa inicial de venda de US$ 90 milhões e, ao fazê-lo, estabeleceu um recorde mundial para o artista em leilão. Parte da coleção de Paul Allen, a pintura foi comprada pelo falecido bilionário em 2006 por apenas US$ 40,3 milhões. Embora a pintura tenha estabelecido um recorde de leilão, Klimts foi vendida por valores superiores em transações privadas, incluindo a compra de Retrato de Adele Bloch-Bauer pelo herdeiro de cosméticos Ronald Lauder, por US$ 135 milhões, que ocorreu no mesmo ano em que Allen comprou a dele.

5. Maternité (II), de Paul Gauguin, 1899: US$ 106 milhões

Saiba mais: Quando vendeu acima de sua estimativa inicial de venda de US$ 90 milhões, a obra de Gauguin foi a segunda a ser vendida por mais de US$ 100 milhões na noite da venda de Paul Allen. Mas Allen não a comprou exatamente por uma barganha: a compra foi feita em 2004 por US$ 39,2 milhões, o que na época era um recorde mundial em leilões para o artista.

4. Verger avec Cyprès, de Vincent van Gogh, 1888: US$ 117 milhões

Saiba mais: Outro recorde de leilão. Antes da venda, a casa de leilões estimou que a obra arrecadaria US$ 100 milhões – se fosse vendida por essa quantia, já superaria o recorde anterior de van Gogh, de US$ 82,5 milhões, estabelecido em 1990. Com esse total, o mercado de van Gogh entrou oficialmente em uma nova esfera de nove dígitos.

3. La Montagne Sainte-Victoire, de Paul Cezanne, 1888-90: US$ 138 milhões

Saiba mais: Neste ponto da lista, é quase banal notar que a pintura estabeleceu um recorde de leilão. O total mais do que dobra o recorde anterior de vendas públicas do artista. Isso representa um grande retorno sobre o investimento: Allen comprou a obra por apenas US$ 38,5 milhões em 2001.

2. Les Poseuses, Ensemble (versão Petite), de Georges Seurat, 1888: US$ 149 milhões

Saiba mais: Esta pintura comparativamente pequena foi vendida por uma quantia colossal. Com cerca de 40 centímetros de altura e 48 cm de largura, a obra tinha uma estimativa de venda pelo valor de US$ 100 milhões e foi vendida por quase 50% a mais do que esse valor. (E sim, mais uma vez estabeleceu um recorde mundial para o artista em leilão.)

1. Shot Sage Blue Marilyn, de Andy Warhol, 1964: US$ 195 milhões

Saiba mais: Quando a obra foi vendida em maio, tornou-se imediatamente a obra de arte mais cara do século 20 e a obra de arte americana mais cara já vendida em leilão. (Quanto à obra de arte mais cara a ser vendida em leilão na história? Isso é reservado para uma peça um pouco mais antiga que custou US$ 450 milhões em 2017.) O comprador do Warhol era tecnicamente o negociante de arte Larry Gagosian, embora seja provável que ele o estivesse comprando em nome de um de seus clientes bilionários.

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