Bloomberg — Sam Bankman-Fried foi libertado sob fiança de US$ 250 milhões depois de fazer sua primeira aparição no tribunal dos Estados Unidos para enfrentar acusações de fraude pelo colapso da FTX, a exchange de criptomoedas que ele cofundou.
Algemado e vestindo um terno azul, Bankman-Fried compareceu nesta quinta-feira (22) perante um juiz magistrado para a audiência de fiança no tribunal federal de Manhattan, em Nova York. Ele não apresentou contestação, o que ocorrerá posteriormente perante o juiz que presidirá seu caso.
O pacote de fiança no valor de US$ 250 milhões é garantida pela casa de seus pais no estado da Califórnia. Seus termos exigem que ele fique com eles e se submeta ao monitoramento eletrônico.
O juiz magistrado dos EUA, Gabriel Gorenstein, disse que o risco de Bankman-Fried fugir é pequeno e afirmou que ele não representa perigo para o público em termos de futuros crimes financeiros.
Relembre o caso
Bankman-Fried, 30, foi acusado em 13 de dezembro pelos promotores federais de Manhattan por orquestrar uma fraude de um ano na qual ele usou bilhões de dólares de fundos de clientes da FTX para despesas pessoais e apostas de alto risco por meio da casa de análise irmã da exchange, Alameda Research.
O colapso da FTX reverberou em um setor de criptomoedas já em apuros, levando a pedidos de mais regulamentação, bem como de responsabilidade para aqueles que lideravam a exchange. Foi uma dura queda para Bankman-Fried, uma figura importante da indústria que já foi estimada em mais de US$ 25 bilhões e emergiu como um importante doador político.
Em inúmeras entrevistas à mídia após o pedido de recuperação judicial da FTX, em novembro, Bankman-Fried tentou argumentar que o colapso da exchange foi devido a erros de gerenciamento, e não a fraude intencional.
Essa defesa pode ser mais difícil de manter depois que o promotor de Manhattan, Damian Williams, anunciou na noite de quarta-feira (21) que dois dos sócios mais próximos de Bankman-Fried, a ex-CEO da Alameda Caroline Ellison e o ex-diretor de tecnologia da FTX Gary Wang, se declararam culpados de fraude e estavam cooperando com a acusação.
A aparição de Bankman-Fried no tribunal de Nova York encerra um drama de aproximadamente uma semana sobre seu retorno aos Estados Unidos para ser julgado. Preso em 12 de dezembro nas Bahamas a pedido das autoridades americanas, ele inicialmente indicou que lutaria contra a extradição.
Depois que lhe foi negada a fiança em Nassau e enviado para a notória prisão de Fox Hill, Bankman-Fried mudou de ideia. Mas seu retorno aos EUA foi adiado em meio à confusão no Tribunal de Magistrados das Bahamas até que ele finalmente deixou a ilha em um voo fretado pelo governo dos EUA na noite de quarta-feira (21).
Williams anunciou os apelos de Ellison e Wang enquanto Bankman-Fried estava no ar.
Ellison se declarou culpada de sete crimes, incluindo fraude eletrônica e conspiração para cometer lavagem de dinheiro, em um acordo que ela assinou em 19 de dezembro. Wang se declarou culpada de quatro acusações. Eles enfrentam décadas de prisão por essas acusações, mas provavelmente receberão recomendações de leniência do governo com base em sua cooperação.
Especialistas jurídicos afirmam que o dinheiro transferido para a Alameda é muito difícil de explicar como má administração em vez de fraude, e o testemunho de seus ex-sócios pode ser devastador para Bankman-Fried. Confrontados por tais testemunhas, os réus em outros casos tentaram virar a mesa e classificá-los como os verdadeiros maus atores.
Bankman-Fried pode tentar fazer um acordo sozinho, mas pode não conseguir muita clemência, já que provavelmente está no topo da lista de alvos da promotoria. Enquanto isso, mais cooperadores podem surgir. Williams emitiu um aviso para possíveis testemunhas em um comunicado na noite de quarta-feira.
“Se você participou de má conduta na FTX ou Alameda, agora é a hora de se antecipar”, disse Williams. “Estamos nos movendo rapidamente e nossa paciência não é eterna.”
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