Bloomberg Opinion — “Não há segurança climática para o mundo sem a Amazônia protegida”, disse o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva a um público empolgado durante as negociações climáticas no Egito no mês passado.
Ele está certo: limitar o aquecimento global exige salvar a maior floresta tropical do planeta, que encolheu durante o mandato de Jair Bolsonaro. Para reverter os danos, Lula precisa da ajuda do mundo – e deve convencer mais brasileiros de que combater a mudança climática também é interessante para eles.
Em termos de saúde do planeta, o governo Bolsonaro foi desastroso. Ele fez da mudança climática um debate partidário e aparelhou as agências responsáveis pelo monitoramento da mineração, da extração ilegal de madeira e das queimadas na Amazônia.
Suas ações resultaram no congelamento de um Fundo Internacional da Amazônia dedicado à preservação da floresta amazônica. Sua campanha militar para combater os incêndios na região custou muito e avançou pouco.
Mesmo com uma ligeira redução em 2022, o desmatamento aumentou para 11,4 mil km² por ano em média durante o mandato de Bolsonaro, em comparação com 7,1 mil km² de 2015 a 2018. Partes da floresta agora emitem mais dióxido de carbono do que absorvem.
Durante a corrida presidencial, Lula atacou o histórico ambiental de Bolsonaro por manchar a imagem do Brasil perante o mundo.
Ele prometeu sediar uma cúpula de países da região amazônica e fez aberturas para países como a Indonésia e a República Democrática do Congo, que também têm grandes florestas tropicais, esperando garantir uma assistência internacional mais generosa para os esforços de preservação.
Além de se comprometer a nomear um enviado dedicado ao clima, Lula reparou os laços com a ex-ministra do meio ambiente Marina Silva. Em seu primeiro discurso como presidente eleito, Lula prometeu lutar por um desmatamento zero.
Após a negligência do governo anterior, Lula merece reconhecimento por trazer a Amazônia e a mudança climática de volta à pauta – mas ele tem pouco tempo. Suas prioridades devem ser ressuscitar as agências de fiscalização florestal, expandir as proteções aos povos e terras indígenas e reprimir a violência crescente na região amazônica.
Com o Brasil enfrentando um orçamento apertado para 2023 após os gastos do governo anterior com as eleições, Lula deveria promover uma maior cooperação internacional na preservação da Amazônia para ajudar a entregar fundos adicionais.
O governo também deve tentar alavancar políticas existentes para atingir as metas climáticas – por exemplo, ao conectar o crédito rural com as metas de produção agrícola sustentável, o uso de pesticidas menos prejudiciais e ao cultivo em pastos.
Graças a seus investimentos em energia hidrelétrica, o Brasil tem um mix energético mais limpo que a maioria dos países, mas ainda é possível fazer mais para acelerar a adoção da energia eólica e solar, o que reduziria ainda mais as emissões de carbono, reduziria os custos a longo prazo e melhoraria a confiabilidade da rede de energia.
Para que tudo isso funcione, Lula precisará ir além de seus principais apoiadores e persuadir uma ampla fatia de brasileiros a abraçar um futuro mais sustentável.
O sucesso diplomático internacional ajuda, mas Lula precisa construir coalizões dentro do parlamento, em que as forças do bolsonarismo seguem fortes, e com os brasileiros em estados agrícolas que continuam céticos em relação a compromissos ambientais.
Ele também deve obter o apoio do setor privado ao atrair o interesse de grandes empresas e do lobby agrícola, que estão cada vez mais conscientes de que sua capacidade de vender para mercados mais ricos depende de cadeias de abastecimento sustentáveis.
Dirigindo-se a outros líderes globais na cúpula climática do mês passado, Lula disse: “Eu não voltei para fazer o que já fiz. Eu voltei para fazer mais”. Belas palavras. Mas o planeta agora precisa de ação.
— Editores: Clara Ferreira Marques e Romesh Ratnesar.
Os Editores são membros do conselho editorial da Bloomberg Opinion.
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