Título ligado à proteção da Amazônia ganha força entre investidores ESG

Estrutura de dívida traria novos desafios ao país, mas sinalizaria maior compromisso do novo governo Lula com as mudanças climáticas

Proposta que ganha força entre bancos, investidores e pesquisadores, que dizem que o país deve seguir os passos de seus pares latino-americanos Chile e Uruguai
Por Greg Ritchie
20 de Dezembro, 2022 | 12:31 PM

Bloomberg — O novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva poderia reforçar sua credibilidade na luta contra as mudanças climáticas com um título que pague juros atrelados à proteção da floresta amazônica.

Essa é uma proposta que ganha força entre bancos, investidores e pesquisadores, que dizem que o país deve seguir os passos de seus pares latino-americanos Chile e Uruguai através da emissão de dívida vinculada à sustentabilidade.

No caso do Brasil, a meta ambiental poderia ser reduzir a área de desmatamento na Amazônia, que seria verificada por terceiros.

Essa estrutura de dívida viria com desafios, principalmente para um país sem experiência com títulos ESG, e que enfrenta uma ampla queda nos mercados. Mas isso sinalizaria que Lula, que assume o cargo em 1º de janeiro, leva a sério a nova postura do país em relação à biodiversidade e às mudanças climáticas.

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“É uma ideia fantástica”, disse Graham Stock, estrategista sênior de dívida soberana de mercados emergentes da RBC BlueBay Asset Management e copresidente de uma coalizão para evolver órgãos públicos e associações industriais sobre o assunto, a Investor Policy Dialogue on Deforestation Initiative. “Seria uma forma de casar o dinheiro com o discurso e dizer ‘vamos nos comprometer e vincular nossos pagamentos de juros a isso.’”

Embora o conceito não seja novo — o Banco Mundial sugeriu esta estrutura no início do ano — ela parecia improvável sob o presidente Jair Bolsonaro, cujas políticas ambientais provocaram condenação internacional. Lula, por outro lado, tem sido elogiado por ambientalistas por suas promessas de preservar a maior floresta tropical do mundo.

Números anuais de desmatamento na Amazônia Legal

O Brasil tem uma forte influência no meio ambiente global porque mais de 40% do país ainda é coberto por florestas tropicais, com boa parte da biodiversidade do planeta. A Amazônia também armazena uma quantidade de carbono, que, se totalmente liberada, seria equivalente a 730 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono, o mesmo que 20 anos de emissões globais nas taxas atuais, segundo estimativas.

Mesmo com uma leve redução em 2022, o desmatamento da Amazônia aumentou para 11.400 quilômetros quadrados por ano em média durante o governo Bolsonaro, em comparação com 7.100 de 2015 a 2018. Essas taxas caíram significativamente durante os dois mandatos de Lula, entre 2003 e 2010.

Títulos vinculados à sustentabilidade — que normalmente fazem com que empresas paguem um cupom mais alto se não atingirem metas ambientais, sociais e de governança pré-determinadas — cresceram rapidamente em um mercado de US$ 200 bilhões, mas os governos demoraram a adotar o formato.

Alguns profissionais do mercado dizem que os tomadores soberanos deveriam adotar cupons de desconto, onde o emissor paga menos juros pelo cumprimento das metas.

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