Bloomberg — As projeções econômicas atualizadas pelo Federal Reserve (Fed) na última semana pareceram incorporar uma premissa que causou espanto ao mercado financeiro: a inflação deve dar um novo salto no fim do ano.
As projeções trimestrais mostraram que as autoridades do banco central dos Estados Unidos agora esperam que o chamado núcleo da inflação – que exclui alimentos e energia – termine 2022 em torno de 4,8%, acima dos 4,5% previstos em setembro.
No entanto, esse número parece alto demais para economistas de Wall Street após a divulgação de um índice de preços ao consumidor surpreendentemente mais baixo na terça-feira (13) pelo Departamento do Trabalho, embora o presidente do Fed, Jerome Powell, tenha dito que o CPI já está refletido nas projeções.
É uma questão importante, porque Powell citou especificamente o “ponto de partida” mais alto da inflação neste ano como uma das razões para a atualização do CPI previsto no fim de 2023, o que surpreendeu o mercado. Esse cenário, por sua vez, revisou muito para cima a trajetória projetada pelo Fed para a taxa de juros.
Portanto, os próximos dois relatórios de inflação serão decisivos.
“Para alcançar sua previsão em 2022, eles precisam de números extremamente fortes de dezembro para a inflação”, disse Alan Detmeister, economista do UBS Securities.
Atenção aos novos dados
O relatório da última terça-feira mostrou que o índice de preços ao consumidor, excluindo alimentos e energia, subiu apenas 0,2% no mês passado, abaixo da estimativa mediana em uma pesquisa da Bloomberg News. O Fed divulga suas projeções – e sua meta de 2% – com base no índice de preços de gastos com consumo pessoal (PCE) do Departamento de Comércio, e os dados de novembro serão publicados apenas nesta sexta-feira, dia 23 de dezembro.
Ainda assim, analistas são rápidos em produzir estimativas para o PCE assim que os dados do CPI são publicados, porque ambos os indicadores utilizam muitas das mesmas fontes subjacentes de informação.
Economistas do JPMorgan (JPM), por exemplo, estimam que o núcleo do PCE provavelmente subiu cerca de 0,1% em novembro, com base nos dados do CPI e em outro relatório do Departamento do Trabalho sobre preços ao produtor.
Em outubro, os preços do núcleo do PCE avançaram 0,2%. Ao juntar o número real de outubro com o dado estimado de novembro, o resultado de dezembro teria que contrariar muito a tendência de baixa dos últimos meses.
Uma alta de 0,1% em novembro, por exemplo, exigiria um salto de 0,7% do núcleo em dezembro para o Fed atingir sua projeção de 4,8% no ano. Mesmo um aumento considerável de 0,4% em dezembro pode se traduzir em um avanço de apenas 4,6% na taxa anual.
Embora ninguém saiba o que os dados de dezembro – que serão publicados só no final de janeiro – mostrarão, “precisamos de uma história real” para chegar a esses resultados, disse Steven Englander, chefe de pesquisa de câmbio global do G10 e estratégia da América do Norte do Standard Chartered Bank.
E, dada a maneira como a inflação de bens tem esfriado e os preços dos imóveis se aproximam da desaceleração, “se Powell pensasse que isso fosse acontecer, acho que caberia a ele dizer: ‘Não se deixem enganar, porque em dezembro (a inflação) vai ser gigante’”, disse Englander.
Detmeister, que trabalhou 15 anos no Fed antes do UBS, disse que o relatório do CPI de novembro publicado na terça-feira passada – 90 minutos antes de o Fed começar o primeiro dia da reunião de política monetária – provavelmente não chegou a tempo de os funcionários do Fed ajustarem suas previsões, apesar de Powell ter insistido que sim.
“Nunca é o caso” de que as projeções “não reflitam um dado importante que chegou no primeiro dia da reunião”, disse Powell durante entrevista coletiva na quarta-feira (14).
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também:
Bradesco planeja comprar participação em fintechs para crescer nos EUA
Twitter Blue: Musk limita votação de futuro da rede social para assinantes
©2022 Bloomberg L.P.