Bloomberg — O amplo déficit orçamentário da China bateu recorde no acumulado deste ano, evidenciando como a política de tolerância zero à covid, agora deixada de lado, e a atual crise imobiliária têm prejudicado a economia e as finanças do governo.
De janeiro a novembro, o salto do déficit fiscal foi de 7,75 trilhões de yuans (US$ 1,1 trilhão), segundo cálculos da Bloomberg baseados em dados do Ministério das Finanças. Trata-se de mais que o dobro da cifra de igual período de 2021 e maior do que em 2020, quando a economia foi atingida pelo início dos contágios por covid e o crescimento econômico foi o pior em décadas.
O agravamento do déficit ressalta quão ruim estava a economia chinesa no final de novembro, pouco antes de o governo de Pequim desmantelar sua rígida política para conter as infecções por covid.
Os lockdowns, a exigência de testes e as regras de quarentena que consumaram a política de covid zero estrangularam os gastos dos consumidores e das empresas, empurrando a economia para perto da contração no segundo trimestre. Um surto de infecções neste trimestre provocou uma queda nas vendas no varejo em outubro e novembro.
A política para frear a covid exigia custos muito elevados, já que os governos locais tinham de testar e colocar em quarentena os residentes. Ao mesmo tempo, com a derrocada do mercado imobiliário o governo chinês viu desmoronar a renda proveniente da venda de terras e impostos.
Com as infecções covid agora assolando todo o país, é improvável que os governos locais vejam uma melhora imediata na receita e nas finanças fiscais.
Os gastos com a saúde provavelmente saltarão à medida que mais pessoas adoecem, mesmo que se reduzam as despesas com testes e quarentenas. Também há poucas perspectivas imediatas de uma melhoria no mercado imobiliário, o que provavelmente manterá a receita da venda de terrenos moderada.
Os consumidores em algumas cidades estão evitando lugares lotados. Espera-se que a escassez de mão de obra e as interrupções de fábricas aumentem nos próximos meses com a propagação dos contágios.
As vendas de automóveis, um raro ponto positivo para o consumo este ano, diminuíram pela primeira vez em seis meses em novembro, enquanto a queda nas compras de casas se aprofundou, embora as autoridades locais tenham diminuído ainda mais as restrições à compra.
Gastos para cima, receita para baixo
A receita total dos orçamentos do público em geral e dos fundos governamentais foi de 18,6 trilhões de yuans nos primeiros 11 meses deste ano. Este valor representa uma queda de 3% sobre o ano anterior, embora mostre uma melhora quando se compara com o recuo de 4,5% nos primeiros 10 meses de 2022.
Se não fossem os abatimentos fiscais que o governo concedeu principalmente no início do ano, teria crescido 6,1%, de acordo com o Ministério das Finanças.
Os governos de todo o país ganharam 715 bilhões de yuans com a venda de terras em novembro, em comparação com os 552 bilhões de yuans ganhos no mês anterior - queda de 13% ante a arrecadação de 2021.
A receita da venda de terrenos caiu em dois dígitos quase todos os meses deste ano. A arrecadação de impostos sobre escrituras retrocedeu 23,8% nos primeiros 11 meses do ano em relação ao mesmo período em 2021.
Já a despesa total do governo nos primeiros 11 meses atingiu 22,7 trilhões de yuans, o correspondente a um aumento de 6,2% ante o ano anterior. Os gastos sob o orçamento do fundo orçamentário do governo aumentaram 5,5% - nos primeiros 10 meses de 2022, a alta havia sido mais acentuada, de 9,8%.
Os gastos fiscais devem totalizar 26,3 trilhões de yuans este ano, escreveu o ministro da Fazenda Liu Kun em um artigo na publicação oficial Study Times Monday. Em 2021, estas despesas haviam sido de 24,6 trilhões de yuans em 2021.
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