Powell tem novo guia na batalha contra a inflação em 2023

Presidente do Federal Reserve deve colocar o mercado de trabalho no centro da política monetária americana no próximo ano

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Bloomberg — O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, tem uma nova Estrela do Norte para guiar sua campanha contra a inflação e deve colocar o mercado de trabalho no centro da política monetária no próximo ano.

Powell diz que está atento a um amplo indicador que monitora os preços em segmentos como assistência médica, salões de beleza e estadia em pousadas. Como os salários representam um custo especialmente alto para o setor de serviços, “o mercado de trabalho é a chave para entender a inflação nessa categoria”, disse Powell à Brookings Institution em novembro, durante discurso antes do último aumento da taxa de juros do Fed.

Na entrevista coletiva após a decisão na quarta-feira (14), Powell voltou ao tema. Atualmente, disse, os salários estão subindo “bem acima do que seria consistente com uma inflação de 2%”.

A questão crucial para as autoridades do Fed é se o aumento nos salários dos EUA nos últimos 18 meses é algo temporário - à medida que as empresas se ajustam à escassa oferta de mão de obra e à percepção de que a força de trabalho estava mal remunerada - ou um círculo vicioso no qual preços e salários se retroalimentam.

Medo, não fato

Os sinais são de que o Fed não está disposto a correr riscos, o que significa que a nova estrela-guia de Powell aponta para uma política monetária mais apertada. As previsões do banco central americano divulgadas na semana passada sugerem uma taxa básica de 5,1% para 2023, um número acima do esperado que provocou vendas no mercado acionário. Várias autoridades do Fed soaram ainda mais favoráveis a subir os juros.

“A espiral preço-salário é medo, não fato”, diz Derek Tang, economista da LH Meyer, de Washington. “Os salários reais certamente não estão em uma espiral ascendente.” Mas claramente, diz, a preocupação com a escassez duradoura de mão de obra e a implicação nos preços são percebidas por Powell.

O mercado de trabalho americano é especialmente difícil de ser interpretado atualmente porque as empresas ainda buscam abordar os problemas causados pela pandemia.

O desemprego subiu para quase 15% em abril de 2020 e depois se recuperou rapidamente. A taxa hoje está em uma mínima de 3,7%. Mas, à medida que a situação se normaliza, a expansão da força de trabalho nos EUA parece ter se estagnado abaixo da tendência pré-pandemia e por vários motivos: a onda de aposentadorias antecipadas, sintomas duradouros da Covid-19, menor disponibilidade de creches e cuidado de idosos e fluxo mais baixo de imigração.

A falta de mão de obra deu mais poder de barganha aos empregados e levou empresas a reajustarem salários diante da maior concorrência na hora de contratar. Na maioria dos casos, os trabalhadores mal conseguiam acompanhar o aumento do custo de vida, sem conseguir reajustes acima da inflação. Os custos totais de remuneração para empregadores nos 12 meses até setembro aumentaram 5% contra 3,7% um ano antes – mas, em ambos os períodos, o salário real (após o ajuste pela inflação) diminuiu.

De bens a serviços

Há uma razão pela qual a nova métrica de inflação favorita de Powell – serviços essenciais excluindo habitação – está intimamente ligada ao debate salarial.

O salto de preços da era covid apareceu inicialmente em bens de consumo: estavam em falta devido às disrupções nas entregas - e em uma forte demanda entre americanos presos em casa com dinheiro extra disponível.

À medida que a crise de bens diminuiu, os serviços assumiram o controle da inflação. O item de maior peso dessa categoria é moradia, contabilizada como serviço nos índices oficiais de preços – mas esse é um setor com dinâmica própria. E, entre os outros serviços, aqueles que o Fed observa de perto, os salários normalmente respondem por uma parcela maior dos custos do que em outros segmentos.

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