Gestores revisam projeções para Ibovespa diante de aumento de riscos fiscais

Pesquisa mensal do Bank of America com gestores mostra que a cena política na América Latina é o principal risco hoje para os mercados na região

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Bloomberg Línea — O aumento das incertezas e dos riscos fiscais no Brasil, no contexto de um cenário externo que continua desafiador com juros mais elevados nos Estados Unidos, tem levado investidores e gestores do mercado financeiro a revisarem para baixo suas projeções para o Ibovespa (IBOV) no próximo ano.

Levantamento do Bank of America (BAC) com 34 gestores mostra que, diante da maior preocupação com os gastos públicos, o percentual de investidores que vê o Ibovespa encerrando 2023 acima dos 130 mil pontos caiu de 45%, em novembro, para 12% na publicação deste mês.

Conduzido pelo Bank of America, o “Latam Fund Manager Survey” foi realizado neste início de dezembro com gestores cujos ativos administrados somam cerca de US$ 79 bilhões.

A avaliação é a de que o principal índice de renda variável da bolsa brasileira está precificando um cenário “confuso, com gastos significativos fora do teto, mas com algum tipo de âncora fiscal”.

O levantamento mostra ainda que 35% dos entrevistados esperam uma revisão para baixo do lucro das empresas no Brasil, o que não era visto na pesquisa anterior. A maior parte (45%), contudo, segue com a expectativa de que as estimativas sejam mantidas.

Segundo o BofA, a maior parte dos investidores espera que o Ibovespa fique entre 120 mil e 130 mil pontos ao fim de 2023, o que implica potencial de alta de pelo menos 17% ante o fechamento de sexta-feira (16).

Hoje, o maior risco para os mercados na América Latina são as discussões políticas na região, segundo os gestores, seguidas pelas taxas de juros mais altas nos Estados Unidos e pela desaceleração na maior economia do mundo.

Selic sem corte em 2023 ganha adeptos

A maior parte dos gestores consultados pelo BofA espera um crescimento menor ou igual a 2% do PIB em 2023, o que representaria uma desaceleração em relação a 2022, em que as projeções de mercado, por exemplo, apontam para uma alta de 3%.

Para a taxa básica de juros, a Selic, as expectativas apontam para patamares mais altos por mais tempo. Agora, as maiores apostas estão concentradas, segundo a pesquisa do BofA, em uma Selic entre 13% e 13,75% ao fim do próximo ano – hoje, a taxa está em 13,75% ao ano. No levantamento anterior, predominavam as estimativas para o intervalo de 11% a 12,75%.

Diante do aumento do risco fiscal e de seus efeitos de pressão sobre a inflação, um terço dos gestores entrevistados já não espera que o Banco Central consiga promover corte na taxa de juros em 2023, apenas no primeiro semestre de 2024. Outros dois terços ainda trabalham com o cenário de redução da Selic, atualmente em 13,75% ao ano, ao fim de 2023.

As estimativas também apontam para um real que não deve se valorizar no próximo ano, com metade dos entrevistados vendo o dólar negociado entre R$ 5,11 e R$ 5,40 ao fim de 2023. O câmbio fechou a R$ 5,29 na sexta-feira (16).

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