Depois de alta com chance de Musk longe do Twitter, ação da Tesla devolve ganho

Papéis da empresa de carros elétricos subiram cerca de 3% no começo do pregão da Nasdaq; queda aproximada é de 60% desde que ele adquiriu uma fatia em abril

Investidores se animam com possibilidade de Musk deixar o cargo de CEO no Twitter e voltam a comprar ações da empresa
Por Craig Trudell
19 de Dezembro, 2022 | 09:43 AM

Bloomberg — As ações da Tesla (TSLA) saltaram em antecipação à esperada saída de Elon Musk do comando do Twitter, a empresa que nos últimos meses tem tomado muito do seu tempo e da sua atenção, em detrimento da fabricante de carros elétricos. Os papéis subiram perto de 3% na Nasdaq em boa parte da sessão da Nasdaq nesta segunda-feira (19), mas acabaram o dia com queda de 0,24%.

Os papéis da montadora, no entanto, caem cerca de 60% desde que Musk revelou no início de abril que havia adquirido uma participação no Twitter, acima da queda de 15% do S&P 500.

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Musk, 51 anos, tuitou no domingo (18) que aceitaria os resultados de uma enquete que perguntava se deveria deixar seu cargo de liderança na rede social. Mais de 17,5 milhões de votos haviam sido feitos até a publicação desta reportagem, e 57,5% foram a favor de que ele abandonasse o cargo.

O CEO da Tesla já havia seguido sugestões de usuários do Twitter em decisões que vão desde se ele deveria reduzir sua participação na montadora até se deveria restabelecer a conta do ex-presidente Donald Trump.

Enquanto as decisões de Musk após essas pesquisas foram relativamente diretas, é menos claro o que ele fará a seguir com o Twitter, dado que ele o tornou uma empresa de capital fechado e, portanto, não deve esse tipo de satisfação a nenhum usuário ou acionista.

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Musk tuitou que será difícil encontrar outro CEO e escreveu que a empresa “está no caminho certo para a falência desde maio”.

“Ninguém quer o trabalho que pode realmente manter o Twitter vivo”, disse ele em outro post. “Não há sucessor.”

Desafios da Tesla

O enfraquecimento da demanda na China está forçando a fabricante de veículos elétricos a desacelerar a produção e atrasar contratações em sua fábrica em Xangai.

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Um executivo de alto nível para esse mercado foi chamado para ajudar em sua mais nova fábrica, no Texas, que não está crescendo como planejado.

E as ações da Tesla, que perderam mais de US$ 500 bilhões em valor de mercado neste ano, estão sob nova pressão à medida que assessores financeiros de Musk avaliam usar as ações do bilionário como garantia para novos empréstimos em substituição à dívida mais cara do Twitter.

As revelações dos últimos dias levantaram preocupações com os acionistas, já receosos com as prioridades de Musk desde que ele assumiu o comando de mais uma empresa.

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“O conselho da Tesla não está agindo”, tuitou Leo KoGuan, um dos maiores acionistas individuais da Tesla, na quarta-feira (14), quando ele sugeriu uma recompra de ações. Ele e outro investidor da Tesla, Ross Gerber, estão pedindo que o conselho adicione um diretor que representaria os acionistas minoritários.

O próprio Musk disse que tem “muito trabalho” em suas mãos e que, para dar conta disso, está dormindo no escritório algumas vezes. Enquanto no passado ele dormia nas instalações da Tesla, ultimamente ele tem hibernado na sede do Twitter, em São Francisco.

Final da Copa em Doha

No domingo (18), abriu uma exceção e pegou seu jato particular para assistir à final da Copa do Mundo entre Argentina e França diretamente do estádio em Doha, no Catar.

“Continuo a supervisionar a Tesla e a SpaceX, mas as equipes são tão boas que geralmente pouco é demandado de mim”, tuitou Musk na quinta-feira (15).

“A equipe da Tesla se saiu incrivelmente bem, apesar dos tempos extremamente difíceis”, disse ele no início do dia, citando a crise energética europeia, a desaceleração imobiliária na China e as taxas de juros dos EUA como desafios macroeconômicos.

A recente volatilidade turva o final de um ano em que a Tesla ainda deve atingir vendas recordes e manter sua coroa como a maior fabricante de veículos elétricos do mundo.

Não ficou imune, no entanto, à desaceleração do mercado automotivo da China e às condições de recessão na Europa. Em outubro, o diretor financeiro Zachary Kirkhorn disse que a empresa espera ficar um pouco abaixo do crescimento de 50% nas entregas de veículos que a empresa disse esperar repetidamente ao longo de vários anos.

Mudanças nas fábricas

A fábrica da Tesla em Austin, Texas, está crescendo mais lentamente do que o esperado, com uma nova forma de células de bateria de íon-lítio ainda não prontas para produção em série. Diante desse cenário, a empresa direcionou Tom Zhu, um importante executivo na China que supervisionou a construção da fábrica de Xangai, para monitorar as operações em Austin, noticiou a Bloomberg News.

Em Xangai, a Tesla está encurtando os turnos de produção e atrasando as datas de início de alguns funcionários recém-contratados, informou a Bloomberg News.

Esses são os mais recentes sinais de que a demanda por veículos elétricos da Tesla na China não está atendendo às expectativas. Isso aconteceu depois que a Bloomberg News informou que a Tesla planejava cortar a produção nas linhas do Modelo Y e do Modelo 3 em Xangai em cerca de 20%.

A Tesla terá muito para lidar em 2023. A empresa recentemente começou a entregar seu tão esperado caminhão Semi com vários anos de atraso e planeja finalmente começar a produzir sua primeira picape, o Cybertruck.

Na semana passada, Musk vendeu por US$ 3,58 bilhões quase 22 milhões de ações da fabricante de veículos elétricos líder de mercado, de acordo com documento arquivado na Securities and Exchange Commission (SEC, o órgão regulador do mercado de capitais norte-americano). O total vendido desde o fim do ano passado salta para quase US$ 40 bilhões.

Com as vendas, a Tesla fechou a semana com o menor valor de mercado em dois anos, custando a Musk sua posição no topo do Bloomberg Billionaires Index.

Enquanto seu CEO está preocupado com o Twitter, a montadora vem cortando preços e produção na China e oferecendo incentivos para que os clientes aceitem a entrega de veículos nos Estados Unidos.

As vendas recentes de Musk reduzem sua participação na empresa para cerca de 13%, de acordo com dados da Bloomberg. Musk, CEO da Tesla desde 2008, continua sendo o maior acionista.

Twitter: grandes contas a pagar

Musk usou quantias significativas de dinheiro emprestado, agora no balanço do Twitter, para ajudar a financiar a aquisição. A carga da dívida do Twitter saltou para cerca de US$ 13 bilhões, acima do US$ 1,7 bilhão pré-transação, juntamente com outras classes de títulos que poderiam ser convertidas em ações.

O Twitter enfrenta agora pagamentos de juros anuais de cerca de US$ 1,2 bilhão, que podem ficar ainda mais caros, já que as taxas que incidem sobre quase metade dessa dívida não são prefixadas e vão oscilar conforme os preços de mercado.

“Correndo o risco de afirmar o óbvio, cuidado com a dívida em condições macroeconômicas turbulentas, especialmente porque o Fed continua a aumentar as taxas”, Musk tuitou na semana passada.

- Com a colaboração de Thyagaraju Adinarayan e informações de Bloomberg News.

- Matéria atualizada às 18h20 com os dados da negociação das ações na Nasdaq.

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