Wall Street prevê retomada lenta de IPOs em 2023 depois de ano difícil

Ofertas iniciais de ações em Wall Street vão depender de controle da inflação e da previsibilidade sobre o ciclo de aperto monetário; China deve despontar como exceção

Depois de protagonizar um dos maiores IPOs de 2021, a Rivian enfrenta a onda de desvalorização das ações de crescimento
Por Julia Fioretti - Swetha Gopinath - Filipe Pacheco
18 de Dezembro, 2022 | 11:42 AM

Bloomberg — As ofertas públicas iniciais (IPOs) estão caminhando para o período mais longo de “vacas magras” desde a crise financeira global de 2008, e os bankers não esperam um renascimento tão cedo.

Uma mistura de aumento da inflação e altas nas taxas de juros com o objetivo de domá-la prejudicou os valuations do mercado de ações e erodiu o apetite dos investidores pelos candidatos a IPO de alto crescimento que impulsionaram os negócios nos últimos anos.

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Apenas US$ 207 bilhões foram levantados neste ano com as listagens - uma queda de 68% em relação ao ano passado -, em um ambiente em que um aumento das ações em circulação na China e no Oriente Médio não conseguiu compensar o congelamento do mercado americano.

“Duas coisas são necessárias para a retomada da atividade de ECM (Equity Capital Market): estabilidade em torno da inflação e visibilidade na trajetória de aumento das taxas de juros”, disse Edward Byun, codiretor de mercados de capitais da Ásia (exceto Japão) do Goldman Sachs (GS).

“Uma vez que haja convicção de que a inflação atingiu o pico e clareza sobre a perspectiva da taxa – provavelmente no segundo trimestre do próximo ano –, começaremos a ver o mercado avançar.”

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A queda das listagens deste ano é a pior desde que os valores do IPO caíram 73% em 2008, segundo dados da Bloomberg. Vem depois de um boom em 2021, quando o auge das ações e dos SPACs - a chamada listagem dos cheques em branco - nos Estados Unidos levaram o mercado de IPO a um patamar sem precedentes de US$ 655 bilhões.

Desde então, no entanto, empresas de tecnologia de alto crescimento que ainda não possuem um caminho para a lucratividade perderam a preferência dos investidores, enquanto as empresas de consumo se ressentem da falta de apoio do investidor diante do aumento da inflação.

Não ajuda o fato de que tantas estrelas de IPOs do ano passado estejam abaixo do valor de estreia.

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Em média, a safra de debutantes do mercado dos EUA em 2021 caiu 19% desde que abriu o capital - entre eles, a Rivian Automotive, a startup de veículos elétricos cuja ação caiu quase 70%.

O segmento de IPO dos EUA tem enfrentado uma das maiores quedas de todo o mercado, atingido por um colapso nos acordos dos SPACs que estavam por trás do crescimento de 2021. Os volumes de listagem de US$ 24 bilhões são os mais baixos desde 1990 e caíram 93% em relação a 2021, com os bankers dizendo que os investidores favorecerão as ações de empresas estáveis no próximo ano.

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China e Oriente médio são exceções

Os dois mercados que tiveram um bom desempenho em 2022 - China e Oriente Médio - provavelmente continuarão a alcançá-lo no próximo ano, dizem os bankers, embora o país asiático esteja vendo um aumento nos casos de covid à medida que diminuem as restrições às atividades, sem contar que a queda nos preços do petróleo está afetando as bolsas dos países do Golfo Pérsico.

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“Dado que o governo chinês está afrouxando as regulamentações no setor imobiliário e estamos vendo uma clara tendência de amenizar as restrições da covid, esperamos uma recuperação do mercado”, disse Mandy Zhu, head de China e global banking do UBS. “Já estamos vendo o aumento das atividades nos mercados onshore e offshore.”

Empresas na China continental desafiaram a atual crise imobiliária e a política de covid zero do país, levantando um recorde de US$ 92 bilhões em IPOs neste ano, enquanto as do Oriente Médio alcançaram quase US$ 23 bilhões.

A busca de dinheiro por empresas para fortalecer seus balanços tem sido um caso atípico em um ano sombrio globalmente para os bankers do mercado de capitais e continuará a prosperar à medida que a dívida se torna mais cara e as economias desaceleram. Quase US$ 716 bilhões em right issues foram colocados neste ano, pouco abaixo do recorde de US$ 759 bilhões de 2021.

Ainda assim, com as esperanças frustradas do Fed nesta semana por uma inclinação dovish do banco central americano, poucos esperam um rápido renascimento do IPO.

Investidores ainda seletivos em 2023

“Esperamos ver uma lenta normalização do mercado de IPO no próximo ano. Ainda não há um caminho claro para distressed assets ou de crescimento, e a demanda dos investidores será seletiva em cada produto”, disse Gareth McCartney, codiretor global de ECM do UBS.

Os EUA provavelmente serão os primeiros a se recuperar e há sinais iniciais de uma recuperação com o aumento da atividade de comércio em bloco, acrescentou.

Entre os IPOs que os investidores estão observando: a Epic Games, proprietária do Fortnite, a gigante de entregas Instacart e a varejista de roupas esportivas Fanatics.

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A Europa seguirá depois disso, disse McCartney, do UBS, embora a recuperação da Ásia esteja na dependência na reabertura da China, e não na direção da inflação.

“Esperamos que as listagens no ano que vem sejam feitas aos poucos, possivelmente logo no primeiro trimestre, mas o mercado de IPO estará aberto apenas a alguns setores”, disse Andreas Bernstorff, que dirige os mercados de capitais do BNP Paribas.

“É provável que os setores cíclicos e de valor tenham demanda, com a transição energética e as empresas de tecnologia climática em particular bem posicionadas para atrair uma forte demanda”.

Espera-se que a China veja uma série de negócios no próximo ano, enquanto no Oriente Médio, a Abu Dhabi National Oil escolheu bancos para liderar o IPO de seu negócio de gás natural no próximo ano, no que pode ser uma das maiores ofertas da cidade.

E, em Londres, banqueiros e reguladores estão trabalhando duro para manter as empresas de tecnologia como domésticas na bolsa local, especialmente depois que o SoftBank Group decidiu listar a Arm, empresa de chips do Reino Unido, em Nova York.

Com tantos negócios adiados ou descartados, o pipeline de IPOs está crescendo mais. As empresas que adiaram ofertas iniciais de ações neste ano incluem o braço multibilionário de energias renováveis da italiana Eni e da ABB, que levantou algum dinheiro de forma privada para o floating de US$ 750 milhões em junho de seu negócio de carregamento de veículos elétricos.

Nos Estados Unidos, uma montadora de carros elétricos apoiada pelo homem mais rico do Vietnã, a VinFast, entrou com pedido de IPO que poderia levantar pelo menos US$ 1 bilhão, na esperança de explorar a demanda por ações de energia limpa, enquanto a startup mais valiosa da Índia, a gigante da educação online Byju’s, está finalizando os planos para uma listagem de $ 1 bilhão de seu negócio de tutoria Aakash Educational Services, disseram pessoas familiarizadas com o assunto.

- Com a colaboração de Drew Singer e Pei Li.

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