Opinión - Bloomberg

Voltou a morar com os pais por causa da crise? Pagar aluguel pode ser importante

Millennials estão com as contas apertadas diante da inflação, da crise e da falta de perspectivas. A relação financeira com os pais não deveria ser subestimada

Trabalhar de casa, especialmente se for a casa de seus pais, pode pedir uma conversa sobre limites para ambas as partes
Tempo de leitura: 5 minutos

Bloomberg opinion — Os millennials estão voltando para a casa dos pais diante dos preços elevados de aluguel e das incertezas econômicas. E isso levanta a questão incômoda de como dividir as despesas domésticas quando seus pais são seus locadores, mas não te cobram por isso.

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Durante os primeiros meses da pandemia, em 2020, o percentual de jovens adultos morando com seus pais subiu a níveis não vistos desde a Grande Depressão de 1930, de acordo com a Pew Research.

Embora a situação tenha moderado, uma pesquisa recente da PropertyManagement.com mostra que cerca de 1 em cada 4 millennials (ou 18 milhões de pessoas entre 26 e 41 anos de idade) nos Estados Unidos mudou-se para a casa de seus pais neste ano.

Alguns pais seguem um comportamento na linha “minha casa, minhas regras”, mesmo que seu filho esteja mais próximo dos 40 do que dos 18 anos. Outros podem estar mais desamparados, mas no mínimo esperam que o filho contribua financeiramente de alguma forma.

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Claro, o elevado aluguel e a tensão econômica podem ser o motivo pelo qual adultos estão voltando pra a casa dos pais, mas isso não significa que deve ser uma experiência sem quaisquer expectativas ou obrigações monetárias.

A única maneira de navegar pela situação é com muita conversa, tentativa e erro e estabelecendo limites saudáveis. É justo se os pais pedirem que seu filho assuma uma parte da carga financeira, seja pagando algum tipo de aluguel ou contribuindo para as despesas domésticas, mas esses novos inquilinos também devem poder pedir uma quantidade significativa de espaço e autonomia.

Eu incentivaria os pais a cobrar aluguel. Ter uma pessoa a mais na casa não mudará o custo base do pagamento do financiamento ou do aluguel, mas aumentará as contas de serviços e os custos com supermercado. Para aqueles que vivem com uma renda fixa, como aposentados, esse aumento pode ser problemático.

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Mesmo se você não precisar do dinheiro, cobrar aluguel dos filhos garante a responsabilidade e é uma espécie de conta poupança forçada. Pais generosos poderiam devolver o aluguel acumulado aos filhos quando eles estiverem prontos para deixar a casa.

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Independentemente do motivo, a conversa sobre o pagamento de aluguel precisa acontecer antes que um filho volte para casa. Os pais não precisam fornecer um motivo para cobrar o aluguel, mas pode ser útil dar algum contexto.

O ideal seria que o valor fosse modesto, principalmente se o motivo do retorno for o desemprego ou os preços exorbitantes de moradia. É claro que “modesto” é um termo relativo, mas é importante informar o preço. Assim como um inquilino com um locador, os pais também devem estar abertos a negociar o preço com os filhos.

Antes de estabelecer um valor, é útil que pais e filhos conversem abertamente sobre a ideia de aluguel e o que é viável. Os pais devem estar prontos para explicar como o dinheiro do aluguel será usado, e os filhos devem ser honestos sobre o que é acessível com base em seu emprego e situação financeira atuais.

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Pais que se sentem muito desconfortáveis cobrando aluguel de seus filhos ainda deveriam ter uma conversa sobre expectativas e limites.

Deve-se cozinhar? Ajudar a limpar a casa?

O filho que voltou deve cozinhar em determinadas ocasiões? Ou fazer suas próprias compras no supermercado? Quanto ele deveria ajudar na limpeza doméstica de espaços compartilhados? Espera-se que ele cuide dos animais de estimação da casa?

É possível convidar amigos sem pedir permissão? É necessário avisar se for dormir fora? A dinâmica não deve ser a mesma que existia quando os filhos eram mais novos.

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Por sua vez, os filhos adultos precisam ser proativos em ter conversas saudáveis sobre limites e afirmar como eles pensam que voltar para casa vai ser. Compartilhar como era sua vida antes de se mudar de volta poderia ajudar a estabelecer uma linha de base do que gostariam de fazer no dia-a-dia.

A volta para casa pode ser particularmente desgastante se a “criança adulta” estiver namorando a ou pratique atividades que são legais, mas que podem não ser aprovadas pela mãe e pelo pai (como fumar).

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Também deve haver uma discussão franca sobre as expectativas em torno de uma busca de emprego se os filhos estiverem desempregados.

As perguntas diárias sobre a busca de emprego não são úteis – mas é justo que os pais obtenham algum tipo de atualização. Muito incômodo poderia fazer com que os filhos voltem a se comportar como adolescentes e se isolem. E ninguém quer voltar para casa apenas para passar por uma regressão para uma dinâmica adolescente com seus pais.

Um dos desafios mais difíceis pode ser quando os millennials mais velhos voltam para casa dos pais com um parceiro ou seus próprios filhos. Apesar de ser a casa dos avós, as regras definidas pelos pais dos pequenos devem ser respeitadas por todos – sim, até pelos avós.

Os filhos adultos podem optar por criar seus filhos de uma maneira diferente da que foram criados. Isso não é uma acusação ao estilo de criação dos avós, e é fundamental que os pais não se sintam atacados ou julgados porque seus filhos estão fazendo as coisas de maneira diferente. Ainda assim, os avós devem ser capazes de estabelecer limites sobre onde e como as crianças podem interagir com certos itens em sua casa.

Em última análise, a consideração mais importante quando pais e filhos adultos moram juntos não é financeira – é a saúde mental.

Voltar para o ninho pode estar no melhor interesse financeiro dos filhos adultos - ou do pai ou da mãe, se eles fornecerem aluguel ou outro apoio – mas será que todos são capazes de ter uma dinâmica saudável e satisfatória? Seu instinto pode ser o melhor guia para saber se seu novo inquilino vale a pena.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Erin Lowry é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre finanças pessoais. É autora da série “Broke Millennial”.

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