Bloomberg — Na decisão da Copa do Mundo do Catar neste domingo (18) entre a França e a Argentina, a Crypto.com ocupará um lugar altamente cobiçado bem na linha lateral do campo do Estádio Lusail, em Doha, com o nome da exchange colado na parede a poucos metros dos craques das equipes. Mas, para os espectadores que ainda sofrem com a implosão do rival FTX, a sinalização poderá prejudicar a diversão.
A posição de campo da Crypto.com é um símbolo altamente visível de como as empresas de criptomoedas agressivamente cortejaram investidores de todos os tamanhos, despejando bilhões de dólares em publicidade e patrocínios esportivos enquanto o frenesi atingiu o pico. O ponto alto aconteceu em uma investida da FTX durante o Super Bowl, a final da liga de futebol americano, em fevereiro.
Mas a bolha agora estourou, a FTX está quebrada, seu ex-CEO enfrenta acusações de fraude - e a Crypto.com ainda se destaca como o principal patrocinador esportivo de criptos.
O Super Bowl e a Copa do Mundo encerram um ano turbulento para as criptos, cujas fortunas mudaram dramaticamente de curso à medida que tokens como o Bitcoin caíram vertiginosamente e uma série de quebrar abalou o setor, atingindo investidores com perdas que abalaram suas convicções.
Como muitos contratos de patrocínio ainda devem durar anos, alguns deles permanecerão apesar do mal-estar causado pela forte desvalorização de criptomoedas.
Equipes, franquias e ligas profissionais americanas têm se esforçado para cancelar acordos com a FTX, cujo co-fundador, o ex-bilionário Sam Bankman-Fried, foi preso nesta semana nas Bahamas por supostamente se apropriar indevidamente de bilhões de fundos de clientes - entre outras suspeitas de crimes.
Enquanto isso, ao lançar uma nuvem carregada sobre toda a indústria, o colapso da FTX está ameaçando uma colaboração outrora lucrativa entre esportes profissionais e uma indústria que via seus fãs como uma importante fonte de clientes em potencial.
“Se eles estão dispostos a correr o risco de aceitar dinheiro de criptoativos, ainda não se sabe”, disse Peter Laatz, da consultoria de patrocínios IEG, sobre se o interesse contínuo das equipes esportivas em se associar ao setor vai ficar manchado. “As pessoas vão ficar um pouco mais hesitantes.”
A FTX gastou quase US$ 100 milhões em patrocínios esportivos em 2021, de acordo com a consultoria GlobalData, que rastreia acordos comerciais em toda a indústria esportiva, incluindo direitos de mídia, patrocínios e oportunidades de hospedagem de eventos.
Esse volume ficou atrás apenas do gasto pela Crypto.com (US$ 144 milhões) e pela Socios.com (US$ 132 milhões), uma empresa que faz parceria com equipes para criar tokens de fãs que fornecem recompensas aos usuários - uma linha de negócios diferente da FTX ou da Crypto.com.
Do Miami Heat à Mercedes na Fórmula 1
No mês passado, o condado de Miami-Dade pediu a um tribunal de falências o direito de remover o nome FTX da arena do Miami Heat, uma das franquias mais populares e vencedoras da NBA, a liga americana de basquete. A Universidade da Califórnia, o departamento de atletismo de Berkeley e a equipe de Fórmula 1 Mercedes-AMG Petronas também suspenderam os acordos de patrocínio com a empresa.
“Do nosso ponto de vista, o colapso da FTX já teve um impacto no mercado de patrocínio”, disse Conrad Wiacek, analista da GlobalData.
No entanto, mesmo antes do colapso da FTX, a relação entre as duas indústrias começou a esfriar após uma queda do mercado na primavera do hemisfério Norte que desencadeou uma série de implosões anteriores de cripto. O número de negócios assinados desde julho caiu mais de 50% em relação ao primeiro semestre de 2022, segundo a GlobalData.
O Amber Group, uma das principais plataformas de negociação e empréstimo de criptomoedas da Ásia, anunciou neste mês que encerraria seu contrato de patrocínio com o Chelsea, da Inglaterra, enquanto a DigitalBits, uma blockchain usada para alimentar ativos digitais, não conseguiu fazer pagamentos de patrocínio à Internazionale de Milão, dois clubes tradicionais do futebol europeu.
Pagamentos antecipados e contratos mais curtos
Alexandre Dreyfus, CEO da plataforma de tokens de fãs Socios.com, disse que clubes e ligas reforçaram o due dilligence em relação a potenciais patrocinadores de cripto, muitas vezes solicitando acordos de curto prazo, em vez daqueles de muitos anos, e pagamentos antecipados.
Laatz, da IEG, disse esperae que, em 2023, os novos negócios “desacelerem”. Dos 161 acordos assinados em 2022, quase metade vencerá no ano que vem, segundo a GlobalData.
Mesmo assim, muitas empresas de blockchain ainda aderem à indústria do esporte. A exchange OKX disse que tais acordos são fundamentais para reforçar a marca e fazê-la ser reconhecida - esteja o mercado em alta ou em baixa. “Esportes e outras parcerias com marcas continuam a ser um elemento importante na construção de nossa marca”, escreveu Haider Rafique, diretor de marketing global da OKX.
A Crypto.com disse da mesma forma que continua comprometida com patrocínios esportivos, apesar de todo o caos nesse segmento de negócios e nas cotações neste ano.
Os acordos incluem um contrato de US$ 700 milhões para o naming rights do antigo Staples Center em Los Angeles, onde joga o Los Angeles Lakers, uma das franquias da NBA mais populares do mundo e mais vitoriosas; uma parceria de cinco anos e US$ 100 milhões com corridas de Fórmula 1, a principal categoria do automobilismo no mundo; e, claro, a atual Copa do Mundo do Catar.
A Crypto.com só anunciou seu patrocínio ao maior evento esportivo do mundo em março. A próxima Copa do Mundo será em 2026. É muito cedo para dizer quais empresas podem aparecer nos bastidores - mas, dados os eventos recentes, Wiacek, da GlobalData, disse que o retorno do Crypto.com é improvável.
“Eu ficaria muito surpreso”, disse ele.
- Com a colaboração de Anna Irrera.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
De resort nas Bahamas à Amazon: credores da FTX de Bankman-Fried
Por que a XP decidiu investir em uma roda-gigante em São Paulo