Este país é uma potência na exportação agrícola. Mas agora quer mudar esse status

Potência na pecuária e em fertilizantes, Holanda não quer mais priorizar as vendas com o objetivo de reduzir as emissões de nitrogênio. E enfrenta a fúria de produtores

Criador de gados na Holanda, um dos alvos do governo a fim de reduzir as emissões nocivas ao ambiente (Peter Boer/Bloomberg)
Por Diederik Baazil
17 de Dezembro, 2022 | 07:09 PM

Bloomberg — A Holanda embarcou em uma transformação de longo alcance em seu setor agrícola, em uma tentativa de reduzir as emissões de nitrogênio e revitalizar as terras naturais.

O país famoso por ser um dos maiores exportadores agrícolas do mundo não quer mais priorizar as exportações, disse a ministra da Natureza e de Política de Nitrogênio, Christianne van der Wal-Zeggelink, em entrevista em seu escritório em Haia.

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Por meses, a Holanda convive com protestos de agricultores depois que o governo apresentou em junho uma meta de redução de nitrogênio com base nos regulamentos da União Européia.

Se implementado, o plano do governo exigiria cortes de até 95% nas emissões em algumas províncias, reduzindo pela metade as emissões totais até 2030. O plano poderia reduzir a pecuária na Holanda em um terço nos próximos oito anos.

Em novembro, Van der Wal-Zeggelink traçou planos para comprar de 2.000 a 3.000 “emissores de pico” que ocupam áreas perto de reservas naturais, em tentativa de conter a fúria dos agricultores holandeses.

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Esse “plano de compra única” será executado de abril até o final do próximo ano e visa convencer o maior número possível de agricultores a abandonar voluntariamente seus negócios. Será a proposta “mais generosa” que o governo oferecerá, disse ela.

“Não haverá uma proposta mais generosa depois dessa”, ressaltou.

Van der Wal-Zeggelink está no cargo há quase um ano e disse que tem um objetivo claro em mente. “A natureza holandesa está em um estado muito ruim”, disse. “Temos que desenvolver um novo sistema agrícola. Um que nossa natureza pode carregar, no qual preservamos uma boa qualidade de nossa água e no qual o setor agrícola contribui para nossas metas climáticas.”

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A Holanda é um dos maiores exportadores de produtos agrícolas do mundo, com vendas estimadas em 104,7 bilhões de euros (cerca de US$ 110 bilhões) em 2021, segundo a Universidade de Wageningen. O gado e os fertilizantes são as principais fontes de emissões de nitrogênio.

O Brasil, para efeito de comparação, exportou o equivalente a US$ 120,6 bilhões em produtos do agronegócio em 2021, segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

A mudança terá consequências para as exportações holandesas, reconheceu.

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“Percentuais de exportação não são uma meta para nós. Nosso objetivo é reduzir as emissões e restaurar a natureza.” A ministra observou que 58% da área total da Holanda são formadas por terras agrícolas, mas apenas 1,3% do PIB está vinculado a produtos agrícolas.

Para restabelecer o equilíbrio, muitos agricultores terão que abandonar seus negócios, especialmente aqueles localizados perto de reservas naturais. Essa perspectiva provocou meses de protestos dos agricultores. Eles bloquearam rodovias, dirigiram seus tratores para o parlamento e até visitaram a casa de Van der Wal-Zeggelink.

“Estou feliz por vivermos em um país onde as pessoas podem protestar, mas os agricultores foram longe demais”, disse Van der Wal-Zeggelink. “Eles ultrapassaram os limites da lei e ultrapassaram um limite moral ao virem à minha casa.”

Van der Wal-Zeggelink espera que seu plano de compra voluntária ganhe o apoio de um número suficiente de agricultores. Mas ela já tem um plano B: a desapropriação das terras. O governo decidirá sobre os próximos passos no outono do hemisfério Norte do próximo ano.

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