Bloomberg Línea — O desenvolvimento do mercado de capitais tem sido uma das principais conquistas da economia brasileira nos últimos anos.
Em 2022, apesar do aumento das incertezas locais com as eleições e as políticas do novo governo - e globais diante do aperto monetário dos países ricos e dos efeitos da guerra na Ucrânia -, o volume de emissões de todos os ativos caminha para o segundo melhor ano da história: foram R$ 466,5 bilhões em emissões de janeiro a novembro, com queda de 11% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Anbima, a associação que reúne as entidades do mercado de capitais do país.
Se as condições para renda variável não foram adequadas, afetando principalmente as ofertas iniciais de ações (IPOs), o crescimento do mercado de renda fixa e de instrumentos híbridos compensou: por exemplo, o volume de captação de recursos por meio de debêntures, CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) e CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), somou R$ 315 bilhões, acima dos R$ 310 bilhões do mesmo período de 2021. Apenas cinco anos atrás, mal passava dos R$ 122 bilhões.
É um movimento que tende a ser preservado e até ganhar força em 2023 se as condições econômicas permitirem e as incertezas que vieram acompanhadas das eleições se dissiparem, com o aumento da previsibilidade para os investimentos. O mesmo vale para investidores de longo prazo como os de private equity e venture capital, fundamentais para o financiamento de empresas privadas.
Estudo recém-divulgado do Mergermarket com 300 assessores de M&A (fusões e aquisições) no mundo, dos quais 50 da América Latina, deu o tom do otimismo cauteloso na região: 32% acreditam em aumento do número de transações nos próximos 12 meses, mesmo percentual dos que disseram esperar queda. Outros 36% apontaram que a atividade de tais transações deve se manter igual.
Será um importante teste para o processo de desenvolvimento do mercado de capitais, em que a diversificação dos meios de captação de recursos por empresas terá papel fundamental.
Conheça a seguir 13 profissionais do mercado que devem se destacar em suas respectivas áreas de atuação, selecionados pelo time editorial da Bloomberg Línea com base em conversas com fontes do mercado e executivos de empresas nas últimas duas semanas. Esta lista não é um ranking com critérios objetivos como participação em operações, mas uma recomendação para acompanhar as respectivas trajetórias no próximo ano.
Bruno Saraiva e Hans Lin, co-heads de IB do Bank of America
Bruno Saraiva e Hans Lin dividem a liderança de investment banking (IB) do Bank of America (BAC) no Brasil. E o BofA liderou a área em receitas com fees de operações tanto no Brasil como na América Latina no acumulado do ano até agosto, segundo dados da Dealogic em reportagem da Bloomberg News.
O BofA ganhou market share em IB em um ano de retração do mercado de capitais, e a expectativa de retomada em parte de ofertas de ações e emissões respalda a atenção ao trabalho da dupla, que trabalhou na coordenação de algumas das maiores ofertas recentes do mercado doméstico, como a da Raízen (RAIZ4), de R$ 6,9 bilhões, e a de da Caixa Seguridade (CXSE3), de R$ 5 bilhões, ambas em 2021.
Cristina Estrada, co-head de IB do Goldman Sachs do Brasil
Cristina Estrada foi anunciada em outubro como co-head de investment banking do Goldman Sachs no Brasil, liderança que vai dividir com Ricardo Bellissi. O objetivo é estimular o crescimento do banco. Há mais de duas décadas no Goldman, Estrada fez carreira nos Estados Unidos e chegou em 2016 ao cargo de head de Derivativos para América Latina, baseada em Nova York. Ela vai manter essa posição.
Em entrevista à Bloomberg News por ocasião da nomeação, Estrada, que comandará a operação a partir do Brasil, disse que a estratégia passa por procurar oportunidades de negócios e oferecer proteção aos clientes, citando hedge cambial para operações de M&A (fusões e aquisições) cross-border.
Daniel Vaz, head de Mercado de Capitais de Renda Fixa e Project Finance do BTG Pactual
A área de DCM (Debt Capital Markets), liderada por Daniel Vaz, deve continuar a ser importante fonte de contribuição para o crescimento das receitas de Investment Banking do BTG Pactual (BPAC11), refletindo um mercado ainda aquecido para a emissão de dívida. Neste ano até o terceiro trimestre, foram cerca de US$ 5,1 bilhões em 85 transações, compensando a atividade fraca em ofertas de ações.
Outra frente de expansão vem da demanda por títulos “verdes”, de ativos voltados aos princípios ESG: Vaz trabalhou na primeira emissão da chamada “debênture azul” no mercado brasileiro, com recursos voltados para preservação hídrica, no valor de R$ 2 bilhões pela BRK Ambiental.
Fernando Ferreira, head de Research da XP
Um dos profissionais mais experientes do mercado de ações, Fernando Ferreira é o estrategista-chefe e lidera a área de Research da XP Investimentos (XP). Em um ano marcado pelo grau elevado de incertezas com a política econômica do novo governo e o ambiente de alta de juros global e guerra na Ucrânia, o seu trabalho de análise se tornará ainda mais observado na maior corretora do país.
Ferreira, que trabalhou por cerca de 15 anos no Bank of America e no Merrill Lynch como analista de ações de setores variados, de consumo e agronegócios a mineração e siderurgia, foi eleito um dos melhores do mundo para a posição em anos seguidos pela revista Institutional Investor.
Julia de Luca, Tech Manager no Itaú BBA
O Itaú BBA elegeu a assessoria para negócios com empresas de tecnologia uma de suas prioridades nos últimos anos. Isso incluiu a criação de um núcleo de tecnologia com o envolvimento de diversas áreas, incluindo o banco de investimento e o private banking. Embora o cenário para investimento permaneça desafiador, empresas techs tendem a ganhar espaço nos portfólios no médio prazo.
O BBA também entrou no segmento de financiamento de techs por meio do venture debt. E a produção de conteúdo e análises faz parte da estratégia, em que Julia de Luca se tornou a face mais visível do banco de atacado do Itaú (ITUB4), seja em eventos dessa indústria ou fazendo a ponte com startups.
Leonardo Linhares, sócio e head de ações da SPX Capital
A SPX tem se destacado nos últimos anos não apenas pelo crescimento e pelo movimento de diversificação e internacionalização como também pela performance de seus principais fundos. É o caso do Falcon, de renda variável, gerido por Leonardo Linhares e que, mesmo em um ano difícil para ativos de risco, conseguiu entregar retorno de 21,28% até novembro, ante variação de 11,01% do índice de referência (IPCA mais 6%). Desde sua criação, em setembro de 2012, rendeu 297,12%, contra 67,66% do benchmark.
Mais do que o stock picking em um ambiente de juros elevados e forte volatilidade, Linhares tem como um de seus diferenciais a capacidade de análise de variáveis macroeconômicas para definir as teses de investimentos, o que tende a se provar ainda mais relevante no ano que começará.
Paulo Passoni, investidor de venture capital
Um dos mais experientes investidores em startups na América Latina, Paulo Passoni está em período sabático que acaba em cerca de quatro meses, depois de saída do SoftBank, em que atuou como Managing Partner dos fundos do gigante japonês na América Latina.
Enquanto não volta ao mercado e anuncia sua próxima empreitada, Passoni tem se dedicado a uma espécie de advocacy da indústria de startups e VCs no LinkedIn, fazendo análises de cases e apontando conselhos a founders de startups e investidores neste momento de mercado adverso. No primeiro caso, por exemplo, dicas de balanço patrimonial, demonstração de resultados e de fluxo de caixa e KPIs (metas).
Pedro Juliano, head de IB do J.P. Morgan no Brasil
Pedro Juliano lidera há cinco anos a área de investment banking do banco americano no Brasil, em que trabalha desde 1998. O J.P. Morgan (JPM) foi o segundo banco em receitas com fees da atividade de IB na América Latina no ano até agosto, segundo dados da Dealogic citados pela Bloomberg News.
Em avaliações recentes antes das eleições, como no Bloomberg Línea Summit, Pedro Juliano, que é um dos profissionais mais experientes de investment banking no país, avaliou que a queda da inflação abriria espaço para a retomada gradual das ofertas de ações no começo de 2023, primeiro no mercado americano e depois possivelmente no brasileiro, começando pelas colocações subsequentes antes de IPOs.
Renato Ejnisman, VP do Santander Corporate e IB
Com o objetivo de acelerar a expansão na área de atacado, o Santander (SANB11) contratou Renato Ejnisman para liderar o segmento corporate e de investment banking no Brasil. Trata-se de uma estratégia que o banco espanhol tem executado desde 2021 neste que é um de seus principais mercados, alinhada à experiência do presidente Mário Leão, que antes foi responsável pelas duas áreas.
Os resultados devem ganhar tração depois de o segmento de empresas do Santander registrar seu melhor desempenho da história neste ano. Ejnisman, que fez carreira e trabalhou por 15 anos no Bradesco (BBDC4) até chegar a diretor executivo, ocupava o cargo de CEO do Next, o banco digital do grupo.
Roderick Greenlees, Global Head de IB do Itaú BBA
À frente da área de investment banking do maior banco do país, Roderick Greenlees tem expressado a expectativa de retomada das ofertas de ações no mercado brasileiro em 2023, a despeito do momento de incertezas. Operações subsequentes (follow-on) podem voltar já no começo do ano, enquanto as ofertas iniciais (IPOs) devem ser retomadas mais para o meio do ano, segundo disse ao Valor.
Um sinal do apetite do investidor, em sua avaliação, foi a recém-concluída oferta de venda de fatia de cerca de 11% do Assaí (ASAI3) que pertencia ao Casino, que movimentou R$ 2,7 bilhões. A transação foi liderada pelo BBA. Para 2023, Greenles disse esperar até 40 operações no mercado doméstico.
Sylvia B. Coutinho, presidente do UBS no Brasil
O UBS registrou um ano recorde para seus negócios de gestão de patrimônio na América Latina em 2021, quando o banco suíço uniu a presença regional com uma proposta de clientes globais. É justamente a área liderada por Sylvia Coutinho, em paralelo com o comando do banco suíço no Brasil.
A área de wealth management deve manter o crescimento dos últimos anos, que se deu tanto de forma orgânica como por meio de aquisições: em 2021, do multi family office Consenso. Em agosto, o UBS assinou carta de intenção não-vinculante com o Banco do Brasil (BBAS3) para assessorar os clientes de private banking do banco brasileiro com as áreas de gestão de fortunas inicialmente nos EUA.
Thiago Lofiego, MD de Equity Research do Bradesco BBI
Commodities lideraram o retorno nos últimos dois anos quando comparadas a outras classes de ativos e a expectativa de analistas do mercado financeiro é de que continuem se destacando em 2023. Restrições na exploração de novos campos de petróleo e de investimentos em minas, por exemplo, tem levado à diminuição dos estoques e impactado a oferta, contribuindo para preços mais altos.
Isso significa que o trabalho e as recomendações de profissionais que são especialistas do setor se tornam ainda mais relevantes. É o caso de Thiago Lofiego, Managing Director de Equity Research da área de Metais, Mineração e Celulose do Bradesco BBI, já premiado pela Institucional Investor.
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