Bloomberg — Investidores de renda fixa nos Estados Unidos não parecem comprar o que o Federal Reserve está vendendo: que as taxas de juros de referência continuarão subindo e permanecerão em um patamar mais elevado por mais tempo.
O rendimento do título do Tesouro americano com vencimento em dois anos, sensível à política monetária, subiu inicialmente depois que as previsões trimestrais do Fed divulgadas na quarta-feira (14) mostraram que as autoridades esperam que o banco central aumente sua taxa básica para mais de 5% em 2023, de acordo com a estimativa mediana dos formuladores de políticas. Isso está bem acima do que os traders de mercados futuros estão precificando.
Mas os rendimentos logo apagaram a alta, mesmo quando o presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou que o banco central ainda tem “alguns caminhos a percorrer” em sua campanha para controlar a maior inflação desde o início dos anos 1980.
Outros títulos viram os rendimentos caírem nesta quinta-feira (15). Os rendimentos de curto prazo tiveram alta, com a taxa do título de dois anos subindo 4 pontos base, para 4,25%, enquanto seu par de 10 anos permaneceu estável, em 3,48%.
A reação provavelmente reflete alguns sinais nas previsões do Fed que apontam para uma desaceleração no crescimento, o que pode ter reforçado a especulação de que o banco central ainda cortará as taxas no ano que vem para retomar a economia.
Os dirigentes do Fed cortaram suas previsões de crescimento para 2023, por exemplo, e veem agora uma expansão de apenas 0,5%, além de aumentarem a previsão para a taxa de desemprego. A estimativa mediana para a taxa básica de juros do Fed em 2024 também está agora em torno de 4,1%.
Operadores de swaps esperam que o Fed continue diminuindo o ritmo de seus aumentos de juros como fez ontem, quando tomou a decisão amplamente esperada de aumentá-los em meio ponto percentual após quatro movimentos consecutivos de 0,75 ponto. A taxa está agora na faixa de 4,25% a 4,5%.
No comunicado divulgado após a decisão, o Fed disse que antecipou novos aumentos para tornar a política rígida o suficiente para puxar a inflação de volta à meta de 2%.
“Com o mercado já precificado uma taxa em torno de 5% nos próximos seis meses, não estou surpreso com a resposta mais silenciosa do mercado de títulos”, disse Kellie Wood, gerente de renda fixa na Schroders, em Sydney. “O mercado acredita que a inflação cairá junto com o aperto agressivo do Fed.”
Quando perguntado sobre os cortes de juros sendo precificados no mercado, Powell disse que as autoridades do Fed ainda não estão considerando a ideia de afrouxar a política monetária.
“Nosso foco agora é realmente mudar nossa postura de política para uma que seja restritiva o suficiente para garantir um retorno da inflação à nossa meta de 2% ao longo do tempo”, disse ele. “Eu não nos veria considerando cortes de juros até que o comitê esteja confiante de que a inflação está caindo para 2%.”
O mercado parece ter ignorando a mensagem do Fed, disse Bill Dudley, colunista da Bloomberg Opinion e consultor sênior da Bloomberg Economics. “Se você olhar para o que Powell disse e para as projeções, foram observações e projeções agressivas”, disse ele à Bloomberg Television.
-- Com a colaboração de Garfield Reynolds.
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