‘Pump and dump’: influenciadores são acusados em esquema de US$ 100 mi

Oito investidores que se passavam por traders bem-sucedidos teriam incentivado seguidores a comprar ações para se beneficiar pessoalmente da alta, segundo a SEC

Lado obscuro do mercado: investidores são alvos da manipulação por influenciadores
15 de Dezembro, 2022 | 04:13 AM

Bloomberg Línea — A Securities and Exchange Commission (SEC, na sigla em inglês) anunciou na quarta-feira (14) a abertura de uma ação com acusações contra oito influenciadores digitais acusados de participar de um esquema de fraude de US$ 100 milhões em valores mobiliários.

De acordo com a SEC, equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), os influenciadores teriam utilizado o Twitter e o Discord, plataformas de mídias sociais, para manipular ações negociadas em bolsa no esquema conhecido como pump and dump (”inflar e largar”, em tradução livre).

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No esquema, sete dos réus são acusados de se promoverem desde janeiro de 2020 como “traders bem-sucedidos” e cultivaram centenas de milhares de seguidores no Twitter e em salas de bate-papo de trading de ações no Discord.

“Estes sete réus supostamente compraram determinadas ações e depois encorajaram seus numerosos seguidores da mídia social a comprar as ações selecionadas, divulgando metas de preço ou indicando que eles estavam comprando, mantendo ou aumentando suas posições em ações”, apontou a SEC na ação.

Mas, uma vez que as ações atingiram os valores mencionados, os indivíduos venderam regularmente suas participações sem nunca revelar esses planos, enquanto continuavam a promovê-las nas redes.

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Os advogados dos oito acusados não foram encontrados pela Bloomberg News até o fechamento da reportagem.

No Brasil, a regulamentação da atuação de influenciadores para evitar eventuais abusos ou ilegalidades foi apontada como uma das prioridades do novo presidente da CVM, João Pedro do Nascimento, em entrevista recente à Bloomberg Línea.

Investidores novatos

“Como diz a denúncia, os réus usaram mídias sociais para reunir um grande número de investidores novatos e depois se aproveitaram de seus seguidores, alimentando-os repetidamente com uma dieta constante de desinformação, resultando em lucros fraudulentos de aproximadamente US$ 100 milhões”, disse Joseph Sansone, chefe da unidade de Abuso de Mercado da divisão de compliance da SEC.

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Estes são os influenciadores da mídia social que foram acusados de fraude de títulos mobiliários e sua correspondente conta no Twitter, segundo informações da SEC:

  • Perry Matlock (Texas): @PJ_Matlock.
  • Edward Constantin (Texas): @MrZackMorris.
  • Thomas Cooperman (Califórnia): @ohheytommy.
  • Gary Deel (Califórnia): @notoriousalerts.
  • Mitchell Hennessey (Nova Jersey): @Hugh_Henne.
  • Stefan Hrvatin (Flórida): @LadeBackk.
  • John Rybarcyzk (Texas): @Ultra_Calls.

Algumas das contas têm 200 mil seguidores, e a maior delas chega a 550 mil seguidores.

“A ação de hoje expõe a verdadeira motivação desses supostos golpistas e serve como mais um aviso de que os investidores devem desconfiar de conselhos não solicitados online”, disse Sansone.

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Além dos sete citados, está Daniel Knight (@DipDeity), do Texas, acusado de ajudar e incentivar o suposto esquema, entre outras suspeitas, disse a SEC, ao ser coapresentador de um podcast no qual ele promoveu muitos como traders especializados e forneceu informações de um fórum a seus ouvintes para sustentar a manipulação. “Knight também fazia trading com os outros réus e regularmente gerou lucros a partir da manipulação”, apontou a SEC.

Nas acusações, a SEC buscará medida liminar permanente, restituição dos valores, juros pré-julgamento e sanções civis contra cada réu no Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito Sul do Texas. A entidade apresentou acusações criminais contra os oito indivíduos em uma ação paralela movida pela Seção de Fraude do Departamento de Justiça e pela Procuradoria do Distrito Sul do Texas.

Pump and dump no Brasil

Esse esquema não é exclusividade dos Estados Unidos. No mercado acionário brasileiro, um dos casos mais ruidosos de pump and dump ficou conhecido como a “Bolha do Alicate” em 2011. O episódio envolveu a empresa gaúcha Mundial, fabricante de alicates, cujas ações dispararam 1.600% no segundo trimestre daquele ano.

A expressiva valorização foi impulsionada pela divulgação de perspectivas excessivamente otimistas e consideradas irrealistas sobre recebimento de créditos. A bolha estourou em agosto de 2011 após o surgimento de denúncias de manipulação do mercado e de maquiagem de balanços. Os papéis chegaram a cair mais de 85% em uma semana.

A CVM investigou o caso e condenou em 2016 o então agente autônomo de investimentos Rafael Ferri, que ficou proibido por cinco anos de exercer a atividade. Ferri, um dos fundadores do TC (TRAD3), foi condenado pela Justiça em primeira instância, mas absolvido depois em segunda instância.

- Com colaboração de Sergio Ripardo.

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Sebastián Osorio Idárraga

Comunicador social e jornalista. Ex-editor da revista Hogar en Semana. Ex-jornalista econômico da Revista Dinero e da Radio Nacional de Colombia. Podcaster.