Bloomberg Opinion — Quando Elton John anunciou na semana passada que estava fechando sua conta no Twitter (TWTR) pelo tratamento da disseminação de desinformação, ele mesmo recebeu uma resposta do próprio Elon Musk.
“Amo seu trabalho”, disse Musk em resposta ao músico. “Há alguma desinformação específica com a qual você está preocupado?”
O cantor não respondeu. Em vez disso, Musk deu uma resposta dois dias depois.
Em um breve tweet, Musk sinalizou seu apoio a uma popular teoria de conspiração antivacina às vezes chamada de Nuremberg 2.0 – em referência aos julgamentos dos nazistas após a Segunda Guerra Mundial – que expõe a noção de que líderes mundiais, cientistas e jornalistas serão levados a julgamento por seu papel ao estabelecer uma falsa pandemia.
É uma teoria absurda agravada ao dissuadir pessoas vulneráveis de tomar vacinas contra covid-19, e uma que provavelmente vai se disseminar pelo Twitter depois de o site ter abandonado sua política de desinformação sobre covid no mês passado – a mudança que provavelmente desencadeou a decisão de Elton John de sair.
Musk está a caminho de chegar a um Pizza Gate, invenção do grupo QAnon sobre os líderes mundiais administrarem um círculo de pedofilia. Parece que estamos o vendo levar o Twitter para o fundo do poço com suas teorias da conspiração.
Quase todo dia o bilionário dissemina mais ideias paranoicas e perigosas. Ele promoveu uma alegação homofóbica sem fundamentos contra Paul Pelosi, marido da Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, após um homem atacá-lo dentro de casa. E ele já divulgou e-mails internos públicos do Twitter, gerando uma enxurrada de conversas sobre conspiração na plataforma.
Nesta terça-feira (13), Musk publicou um tuíte que confirmou sua própria trajetória: “Follow [the White rabbit]” (“Siga [o coelho branco]”, em português), uma frase frequentemente associada aos seguidores do QAnon. O tuíte foi reproduzido em diversos dos fóruns mais populares do QAnon e pareceu inflamar os membros dessas redes.
Musk há muito critica a decisão do Twitter de banir Donald Trump após os ataques ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021, mas os próprios tweets de Musk parecem cada vez mais poder inflamar multidões assustadoras.
Durante o final de semana, ele sugeriu, novamente sem fundamentos, que seu ex-chefe de segurança defendia a sexualização infantil, divulgando uma captura de tela mostrando a dissertação de 2016 de Yoel Roth sobre formas mais seguras de acessar um site de relacionamentos para gays.
Não foi a primeira vez que ele usou o Twitter para acusar alguém de pedofilia, mas, neste caso, Musk provavelmente sabia que grupos extremistas estavam disseminando a ideia de que gays estavam atraindo crianças para abusar delas. Desde então, Roth teve de fugir de sua casa após receber ameaças.
Muito longe de ser o que prometeu – o dono responsável de uma “praça pública” – Musk está alavancando a plataforma para incitar o ódio e gerar cliques, algo que todos os extremistas fazem há anos.
A equipe de Musk vem pesquisando os e-mails internos para alegar que o site abusou de seu poder antes que ele adquirisse a plataforma. Conhecidos como os “Twitter Files”, eles visam mostrar, entre outras coisas, que a empresa influenciou a eleição dos EUA ao restringir a entrega de um artigo do New York Post sobre um material encontrado no notebook de Hunter Biden, devido a questões sobre a origem do material. O Twitter também suspendeu a conta do jornal por 16 dias após a publicação da história.
Os “arquivos” internos apontam mais para inépcia do que para conspiração, mostrando muita movimentação interna sobre o que fazer com o artigo, e os executivos do Twitter na época acreditavam que o New York Post havia adquirido dados hackeados e decidiram que isso violaria regras do Twitter.
Roth, o antigo chefe de segurança, disse que o Twitter não deveria ter minado o artigo – e ele está certo. Tanto o Twitter quanto o Facebook passaram dos limites ao tentar corrigir ações que aconteciam fora de seus sites.
Em vez disso, o Twitter deveria ter focado concentrado em garantir que sua própria plataforma não estivesse se tornando uma arma para influenciar as eleições – ou para incitar o discurso de ódio ou a desinformação. Mas é exatamente isso que Musk está fazendo agora, e sua decisão de dissolver o conselho de segurança do Twitter não vai ajudar.
Musk está no seu direito de usar o Twitter para promover um partido político ou ideias amplamente controversas. Mas ele está se voltando para cantos obscuros, disseminando narrativas enraizadas em fanatismo e mentiras – logo agora que as redes sociais estavam controlando a desinformação.
É uma pena ver Musk dar aos anunciantes mais motivos para deixarem o Twitter, mas problemas ainda maiores poderiam surgir para a saúde do discurso online se ele continuar espalhando informações falsas. O bilionário pode achar tudo isso muito divertido, mas não será tão divertido quando algo der errado.
--Com a colaboração de Daniel Zuidijk.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Parmy Olson é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia. Já escreveu para o Wall Street Journal e a Forbes e é autora de “We Are Anonymous.”
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