Opinión - Bloomberg

Musk leva o Twitter para um caminho perigoso ao dar voz a conspirações

Novo proprietário da rede social piora o que já era ruim ao sinalizar apoio um teoria que gera desinformação sobre as vacinas

Bilionário vem favorecendo desinformação ao destituir equipe que moderava conteúdo
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — Quando Elton John anunciou na semana passada que estava fechando sua conta no Twitter (TWTR) pelo tratamento da disseminação de desinformação, ele mesmo recebeu uma resposta do próprio Elon Musk.

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“Amo seu trabalho”, disse Musk em resposta ao músico. “Há alguma desinformação específica com a qual você está preocupado?”

O cantor não respondeu. Em vez disso, Musk deu uma resposta dois dias depois.

Em um breve tweet, Musk sinalizou seu apoio a uma popular teoria de conspiração antivacina às vezes chamada de Nuremberg 2.0 – em referência aos julgamentos dos nazistas após a Segunda Guerra Mundial – que expõe a noção de que líderes mundiais, cientistas e jornalistas serão levados a julgamento por seu papel ao estabelecer uma falsa pandemia.

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É uma teoria absurda agravada ao dissuadir pessoas vulneráveis de tomar vacinas contra covid-19, e uma que provavelmente vai se disseminar pelo Twitter depois de o site ter abandonado sua política de desinformação sobre covid no mês passado – a mudança que provavelmente desencadeou a decisão de Elton John de sair.

Musk está a caminho de chegar a um Pizza Gate, invenção do grupo QAnon sobre os líderes mundiais administrarem um círculo de pedofilia. Parece que estamos o vendo levar o Twitter para o fundo do poço com suas teorias da conspiração.

Quase todo dia o bilionário dissemina mais ideias paranoicas e perigosas. Ele promoveu uma alegação homofóbica sem fundamentos contra Paul Pelosi, marido da Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, após um homem atacá-lo dentro de casa. E ele já divulgou e-mails internos públicos do Twitter, gerando uma enxurrada de conversas sobre conspiração na plataforma.

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Nesta terça-feira (13), Musk publicou um tuíte que confirmou sua própria trajetória: “Follow [the White rabbit]” (“Siga [o coelho branco]”, em português), uma frase frequentemente associada aos seguidores do QAnon. O tuíte foi reproduzido em diversos dos fóruns mais populares do QAnon e pareceu inflamar os membros dessas redes.

Musk há muito critica a decisão do Twitter de banir Donald Trump após os ataques ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021, mas os próprios tweets de Musk parecem cada vez mais poder inflamar multidões assustadoras.

Durante o final de semana, ele sugeriu, novamente sem fundamentos, que seu ex-chefe de segurança defendia a sexualização infantil, divulgando uma captura de tela mostrando a dissertação de 2016 de Yoel Roth sobre formas mais seguras de acessar um site de relacionamentos para gays.

Não foi a primeira vez que ele usou o Twitter para acusar alguém de pedofilia, mas, neste caso, Musk provavelmente sabia que grupos extremistas estavam disseminando a ideia de que gays estavam atraindo crianças para abusar delas. Desde então, Roth teve de fugir de sua casa após receber ameaças.

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Muito longe de ser o que prometeu – o dono responsável de uma “praça pública” – Musk está alavancando a plataforma para incitar o ódio e gerar cliques, algo que todos os extremistas fazem há anos.

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A equipe de Musk vem pesquisando os e-mails internos para alegar que o site abusou de seu poder antes que ele adquirisse a plataforma. Conhecidos como os “Twitter Files”, eles visam mostrar, entre outras coisas, que a empresa influenciou a eleição dos EUA ao restringir a entrega de um artigo do New York Post sobre um material encontrado no notebook de Hunter Biden, devido a questões sobre a origem do material. O Twitter também suspendeu a conta do jornal por 16 dias após a publicação da história.

Os “arquivos” internos apontam mais para inépcia do que para conspiração, mostrando muita movimentação interna sobre o que fazer com o artigo, e os executivos do Twitter na época acreditavam que o New York Post havia adquirido dados hackeados e decidiram que isso violaria regras do Twitter.

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Roth, o antigo chefe de segurança, disse que o Twitter não deveria ter minado o artigo – e ele está certo. Tanto o Twitter quanto o Facebook passaram dos limites ao tentar corrigir ações que aconteciam fora de seus sites.

Em vez disso, o Twitter deveria ter focado concentrado em garantir que sua própria plataforma não estivesse se tornando uma arma para influenciar as eleições – ou para incitar o discurso de ódio ou a desinformação. Mas é exatamente isso que Musk está fazendo agora, e sua decisão de dissolver o conselho de segurança do Twitter não vai ajudar.

Musk está no seu direito de usar o Twitter para promover um partido político ou ideias amplamente controversas. Mas ele está se voltando para cantos obscuros, disseminando narrativas enraizadas em fanatismo e mentiras – logo agora que as redes sociais estavam controlando a desinformação.

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É uma pena ver Musk dar aos anunciantes mais motivos para deixarem o Twitter, mas problemas ainda maiores poderiam surgir para a saúde do discurso online se ele continuar espalhando informações falsas. O bilionário pode achar tudo isso muito divertido, mas não será tão divertido quando algo der errado.

--Com a colaboração de Daniel Zuidijk.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Parmy Olson é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia. Já escreveu para o Wall Street Journal e a Forbes e é autora de “We Are Anonymous.”

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