Bloomberg — No último mês de março, o especialista em interface cérebro-computador Tom Oxley sentou-se para jantar com o fundador da Amazon (AMZN), Jeff Bezos, para falar sobre a empresa em formação da Oxley, Synchron. Aquela refeição em Ojai, Califórnia, terminou com algo melhor que a sobremesa: Bezos disse a Oxley que queria investir no negócio.
A Synchron disse nesta quinta-feira (15) que completou uma rodada de investimento de US$ 75 milhões, parte dela proveniente da Bezos Expeditions. O financiamento foi liderado pela ARCH Venture Partners, e inclui cheque da Gates Frontier, o braço de investimento de risco da Microsoft (MSFT), do co-fundador Bill Gates, entre outros. Também participou do aporte a Khosla Ventures - cujo fundador, Vinod Khosla, apresentou a Oxley à Gates.
As interfaces cérebro-computador, conhecidas como BCIs, podem interpretar e estimular partes do cérebro e são vistas como um possível tratamento para lesões cerebrais. Novos investidores se aproximaram da Synchron “visando gerar um impacto na neurologia em uma área necessária”, disse Oxley em uma entrevista. Eles “viram a BCI como uma terapêutica futura”. Cerca de 100 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de lesões nos membros superiores e poderiam se beneficiar da tecnologia, avalia Oxley.
O aporte coloca o financiamento total da Synchron em US$ 145 milhões. O montante é menor que o da Neuralink, de Elon Musk, ou da Science, de Max Hodak, mas segundo a empresa de pesquisa Pitchbook, é superior à maioria das outras empresas da BCI. Trata-se de um ranking importante, considerando os custos para fazer avançar essa tecnologia no processo de aprovação da FDA (Food and Drug Administration), reguladora dos EUA.
O setor registrou uma explosão de entusiasmadas startups de BCI em 2021, com cerca de 49 negócios atraindo US$ 568 milhões em investimento, conforme a Pitchbook. Este ano, foram 37 negócios com US$ 263 milhões de financiamento até 28 de novembro, segundo maior volume desde 2015.
O dispositivo Switch da Synchron visa ajudar as pessoas com paralisia, como aquelas com esclerose lateral amiotrófica (ELA), a se comunicarem controlando os cursores de computador com suas mentes.
Ao contrário dos dispositivos propostos por muitas outras empresas de BCI, que normalmente envolvem vários tipos de cirurgia cerebral, o sistema Synchron é implantado na jugular em um processo semelhante à inserção de um stent coronário. A partir daí, um minúsculo dispositivo com eletrodo, o stentrode, viaja através da corrente sanguínea até o córtex cerebral. O implante se comunica através de um pequeno fio com um segundo implante no tórax. Um transmissor então envia sinais para um computador próximo do paciente.
A empresa já inscreveu três pacientes em um estudo americano de viabilidade de seis pessoas e implantou o dispositivo em duas delas. Oxley espera que os demais pacientes se inscrevam e recebam seus implantes nos próximos meses. Os médicos observarão os implantados por um ano e reportarão seus achados à FDA. Há dois anos, a agência deu à Synchron o status de “inovação”, permitindo que ela passe por um processo de aprovação relativamente simplificado.
O próximo grande objetivo do fundador é um estudo clínico da FDA, passo necessário para que o Switch seja elegível para a cobertura do Medicare e do seguro. Ganhar essa elegibilidade colocaria a empresa no caminho de receitas futura.
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