Powell: Fed ainda tem ‘longo caminho a percorrer’ na batalha contra a inflação

Presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, reforçou que os juros ainda não chegaram ao patamar restritivo e que devem continuar subindo

'Eu não nos veria considerando cortes de juros até que o comitê esteja confiante de que a inflação está caindo para 2% de forma sustentada'
Por Steve Matthews
14 de Dezembro, 2022 | 05:14 PM

Bloomberg — O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, disse que o banco central americano não está perto de encerrar a batalha contra a inflação e os aumentos na taxa de juros nos Estados Unidos, à medida que a autoridade monetária sinaliza que os custos dos empréstimos subirão mais do que os investidores esperam no próximo ano.

“Ainda temos um longo caminho a percorrer”, disse Powell em entrevista coletiva nesta quarta-feira (14) em Washington, depois que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) elevou sua taxa de referência em 50 pontos-base (0,5 ponto percentual) para uma meta de 4,25% a 4,5% ao ano.

Os diretores do Fed projetaram que as taxas devem terminar 2023 em 5,1%, de acordo com sua previsão mediana, antes de serem reduzidas para 4,1% em 2024 – um nível mais alto do que o indicado anteriormente.

Powell disse que o tamanho do aumento da taxa na próxima reunião do Fed, em 1º de fevereiro, dependeria dos dados recebidos - deixando a porta aberta para outro aumento de meio ponto percentual ou para um aumento menor de 0,25 ponto. Powell também buscou afastar a possibilidade de o Fed reverter o curso no ano que vem.

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“Eu não nos veria considerando cortes de juros até que o comitê esteja confiante de que a inflação está caindo para 2% de forma sustentada”, disse ele. “Restaurar a estabilidade de preços provavelmente exigirá a manutenção de uma política restritiva por algum tempo”, disse ele.

Os rendimentos do Tesouro americano aumentaram, o índice S&P 500 caiu e o índice do dólar reduziu as perdas no dia, enquanto Powell falava.

“O comitê antecipa que os aumentos contínuos serão apropriados para atingir uma postura de política monetária suficientemente restritiva para retornar a inflação a 2% ao longo do tempo”, disse o Fed em seu comunicado, repetindo a linguagem que tem usado em comunicações anteriores.

Os investidores especularam que o Fed logo interromperia seus aumentos depois que as condições financeiras melhorarem. Até quarta-feira, as ações haviam subido, enquanto as taxas de hipoteca e o dólar haviam caído desde que Powell no mês passado sugeria que uma mudança de política estava chegando.

Eles também apostavam que as taxas chegariam a cerca de 4,8% em maio, seguidas por cortes de 50 pontos-base no segundo semestre do ano. A votação foi unânime.

“É nosso julgamento hoje que ainda não estamos em uma posição de política suficientemente restritiva”, disse o chefe do Fed. “Vamos manter o curso até que o trabalho seja feito.”

Powell havia sinalizado anteriormente planos para moderar as altas, enfatizando que o ritmo de aperto é menos significativo do que o pico e a duração das taxas em um nível alto.

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A decisão segue quatro aumentos consecutivos de 75 pontos-base que impulsionaram as taxas ao nível mais alto desde que Paul Volcker liderava o banco central na década de 1980.

O inflação começou a retroceder depois de atingir 9,1% em 12 meses em junho, o maior patamar em 40 anos. Mas um grupo crescente de economistas espera que a ação agressiva do Fed leve os EUA à recessão no ano que vem.

As autoridades deram um sinal mais claro de que esperam uma redução da atividade com taxas mais altas. Eles cortaram suas previsões de crescimento para 2023, vendo uma expansão de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com as projeções medianas divulgadas na quarta-feira.

Eles elevaram sua estimativa para o PIB de 2022 ligeiramente para 0,5%. O Fed também aumentou sua projeção para a taxa de desemprego no próximo ano para 4,6%, ante a estimativa de 3,7% em novembro.

A distribuição das previsões de taxas também aumentou, com sete das 19 autoridades vendo taxas acima de 5,25% no próximo ano.

As autoridades elevaram as estimativas para o Índice de Gastos de Consumo Pessoal (PCE na sigla em inglês), o indicador de inflação preferido do Fed. Eles agora veem o PCE em 3,1% em 2023, em comparação com uma estimativa de setembro de 2,8%, enquanto o núcleo - que exclui alimentos e energia - ficaria em 3,5% no próximo ano.

Ciclo de aperto

A decisão de quarta-feira encerra um ano desafiador para o banco central dos EUA, que inicialmente demorou para começar a apertar a política monetária em resposta às crescentes pressões de preços.

Desde que elevou as taxas de quase zero em março, o Fed agiu agressivamente para recuperar o atraso, enquanto preserva a esperança de conseguir um pouso suave que evite um aumento dramático no desemprego.

As autoridades estão tentando desacelerar a atividade econômica para um nível abaixo de sua tendência de longo prazo para resfriar o mercado de trabalho e reduzir a pressão sobre os preços que estão bem acima da meta de 2%.

Os diretores do Fed receberam boas notícias na terça-feira (13), quando dados do governo mostraram que os preços ao consumidor subiram 7,1% no período de 12 meses encerrado em novembro, a taxa mais baixa deste ano.

Mesmo assim, Powell disse repetidamente que está disposto a aceitar que a economia sofra um pouco de dor para reduzir a inflação e evitar os erros da década de 1970, quando o Fed afrouxou prematuramente a política monetária.

-- Com colaboração de Chris Middleton, Sophie Caronello, Liz Capo McCormick, Molly Smith, Jonnelle Marte, Matthew Boesler e Craig Torres.

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