Bloomberg — O Goldman Sachs (GS), UBS e Deutsche Bank (DB) estão entre os bancos lucrando com o movimento dos fundos multimercados brasileiros de investir no exterior para aumentar os retornos.
As áreas de mercados globais dos bancos são as que mais se beneficiam, fornecendo liquidez, emprestando títulos e executando transações simultâneas em diferentes países para os multimercados locais. As gestoras brasileiras clientes do UBS aumentaram seus investimentos nos mercados futuros nos Estados Unidos em 10% neste ano, de acordo com o banco suíço.
No Goldman Sachs, a receita de negócios relacionados a clientes latino-americanos atingiu um recorde este ano, de acordo com Ricardo Mora, co-chefe para a região do banco americano. Ele disse que a divisão de mercados globais, que inclui a corretora prime, foi o principal impulsionador desse desempenho.
“Os fundos de investimento brasileiros estiveram entre os maiores participantes nos mercados de taxas globais”, e o Goldman Sachs os ajudou a navegar de acordo com as suas visões sobre as tendências macroeconômicas, disse Mora, em entrevista.
A indústria brasileira de fundos multimercados mais do que triplicou na última década, para cerca de R$ 1,6 trilhão em ativos sob gestão. Muitos fundos começaram a investir no exterior anos atrás, principalmente em outras nações da América Latina ou mercados emergentes, principalmente no México, embora também tenham investido na Turquia e na África do Sul. Este ano, vários desses fundos aumentaram seus investimentos em países desenvolvidos e na Ásia.
“Os gestores no Brasil têm a mesma mentalidade de qualquer hedge fund macro em outras jurisdições – eles simplesmente são domiciliados no Brasil, mas estão pensando globalmente”, disse Mora. Os hedge funds macro são aqueles com gestão ativa que tentam lucrar com as grandes oscilações do mercado causadas por eventos políticos ou macroeconômicos.
Apostas vencedoras
Muitos fundos multimercados brasileiros previram uma inflação mais alta nos EUA e apostaram que as taxas de juros americanas subiriam, o dólar se fortaleceria e as ações cairiam. Eles também ganharam com posições vendidas (aposta na queda) no peso colombiano e apostando contra os títulos do governo do Reino Unido, que caíram em meio à turbulência política que levou à renúncia da primeira-ministra britânica.
Uma estratégia que tem atraído alguns fundos locais recentemente é a de ficar comprado (aposta na alta) em iene japonês contra o dólar americano.
“Os brasileiros têm uma grande percepção dos riscos fiscais e dos ciclos de inflação, tendo vivenciado isso por muitas décadas”, disse Paula Moreira, chefe da mesa de vendas e operações de renda fixa, moedas e commodities do Goldman Sachs no Brasil. “Esta experiência e subsequentes apostas associadas contra as taxas do dólar se mostraram muito lucrativas para nossos clientes.”
A gestora SPX Capital, que administra mais de R$ 77 bilhões e foi fundada em 2010 por traders como Rogério Xavier, é um exemplo dessa tendência. A empresa estabeleceu escritórios em Nova York, Londres, São Paulo, Rio de Janeiro e Cascais, em Portugal.
A gestora planeja abrir um escritório em Singapura em fevereiro, com uma equipe de analistas e traders com foco na Ásia. O fundo SPX Raptor superou todos os seus pares locais nos últimos dois anos, com um retorno de 67% descontadas as taxas, segundo dados compilados pela Bloomberg News.
O Deutsche Bank aumentou sua equipe de cobertura macro no Brasil, que cobre a comunidade brasileira de gestoras de multimercados. Esses clientes ajudaram o banco alemão a registrar neste ano sua maior receita na América Latina em seis anos. O banco também transferiu um trader brasileiro para Singapura para atender clientes, incluindo gestoras.
“Os fundos brasileiros se tornaram parte da comunidade global de fundos de hedge e começaram a tomar riscos e investir em vários países fora dos mercados emergentes”, disse Ricardo Cunha, chefe de mercados emergentes globais do Deutsche Bank para o Brasil. “A maior parte do dinheiro foi feita com posições pagas em taxas, posições vendidas em ações e posições compradas em dólares em relação a praticamente qualquer outra moeda.”
Entre os fundos multimercados de melhor desempenho do Brasil nos últimos 12 meses está um fundo administrado pela Asa Investments, gestora fundada por Alberto Safra, filho de Joseph Safra, o banqueiro bilionário que morreu em 2020. Os principais fundos da Mar Asset Management e da Vinland Capital também lideram ganhos, com retornos de 33% e 30% após taxas, respectivamente.
Para expandir sua base de clientes, o UBS tem se reunido com mais gestoras brasileiras e oferecido a elas sua análise macro global em mercados como EUA, China, Europa e América Latina fora do Brasil.
“Os fundos brasileiros continuarão buscando mercados no exterior não apenas porque é uma boa oportunidade de investimento, mas também porque isso os ajudará a ganhar escala”, disse Daniel Mendonça de Barros, chefe de mercados globais do UBS na América Latina, em entrevista. “Alguns fundos multimercados ficaram grandes demais para investir apenas no Brasil e precisam diversificar para obter retornos acima da média.”
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