Bloomberg Línea — A Nestlé, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, mudou sua estratégia para o mercado de lácteos refrigerados no Brasil, onde o crescimento das vendas dessa categoria tem registrado um ritmo menor do que outros produtos da gigante suíça, como chocolates, cafés e nutrição animal.
A companhia suíça e a Fonterra, sua sócia neozelandesa, anunciaram nesta segunda-feira (12) um acordo para vender a joint venture DPA (Dairy Partners Americas) no Brasil à empresa francesa de laticínios Lactalis, dona das marcas Parmalat, Président, Batavo, Poços de Caldas, Itambé e Elegê.
O valor do negócio, ainda sujeito a ajustes, é de R$ 700 milhões, e deve ser concluído até a metade de 2023, após aprovação por autoridades reguladoras, segundo o comunicado da Fonterra.
Com o acordo, a Lactalis assume os direitos de propriedade intelectual relacionados ao uso das marcas Chambinho, Chamyto e Chandelle no país, além de uma licença de longo prazo para o uso das marcas Nestlé, Ninho, Neston, Molico e Nesfit, informou a Nestlé em nota.
“A Lactalis absorverá toda a operação da DPA, incluindo fábricas e centros de distribuição, com seus funcionários, incluindo os colaboradores da sede e o time de vendas”, citou a empresa.
A Fonterra e a Nestlé criaram a DPA em 2003 para fabricar e comercializar produtos lácteos em toda a América Latina. Em 2014, a joint venture redirecionou suas atividades para o Brasil e para a produção de lácteos refrigerados. A participação de Fonterra é de 51%, e a de Nestlé, 49%. A DPA opera duas fábricas, em Araras (SP) e Garanhuns (PE), e emprega 1.300 pessoas.
“Estamos confiantes neste acordo para continuar desenvolvendo as marcas da Nestlé na categoria de lácteos refrigerados no Brasil”, disse Marcelo Melchior, presidente da Nestlé Brasil, em nota.
“Já temos parcerias estratégicas com a Lactalis em outros países e estamos satisfeitos que, a partir da aprovação do acordo, a empresa possa fabricar produtos com nossas marcas neste segmento.”
A Lactalis, que é uma empresa familiar francesa, começou a operar no Brasil há quase dez anos e diz ser a atual líder em captação de leite no Brasil, com 23 unidades fabris distribuídas por oito estados (RS, SC, PR, MG, SP, PE, GO, RJ).
“Com a aquisição da DPA, passará a contar com mais de 10.900 funcionários. No mundo, o Grupo Lactalis é líder no mercado de lácteos, com presença em 88 países, com 270 fábricas e 85.500 funcionários”, afirmou em comunicado.
O CEO da Fonterra, Miles Hurrell, disse que a venda de sua participação na DPA no Brasil está alinhada com a estratégia de priorizar seu mercado principal de leite na Nova Zelândia, após o investimento no Brasil ter amadurecido. O negócio, segundo ele, deveria ter ocorrido antes, mas foi adiado devido às condições de mercado relacionadas à pandemia da Covid-19.
Novo foco
No Brasil, o crescimento da Nestlé tem sido impulsionado por outras categorias de alimentos diante de um contexto de inflação elevada, em que os consumidores mudaram seus hábitos, em busca de produtos mais baratos. É tradicional no país a máxima de que, em período de renda curta, o brasileiro corta alimentos considerados “supérfluos”, como iogurtes e outras bebidas lácteas.
No terceiro trimestre, a Nestlé reportou que as vendas gerais no Brasil cresceram ainda à taxa de dois dígitos, refletindo a forte demanda por chocolates, nutrição infantil e bebidas de cacau e malte.
Na América Latina, a gigante suíça registrou um crescimento orgânico de 12,9%, com variação de preços de 10,5%. As vendas reportadas na chamada “Zona América Latina”, como a multinacional se refere à região, aumentaram 16,6%, para 8,6 bilhões de francos suíços.
“A Zona América Latina apresentou ganhos de participação de mercado em nutrição infantil, alimentos para pets e coffee creamers. Por categoria de produto, chocolates foi a que mais contribuiu para o crescimento, refletindo a forte demanda por KitKat e as principais marcas locais”, afirmou a Nestlé no documento de divulgação do balanço do terceiro trimestre.
“[O segmento de] cafés registrou crescimento amplo de dois dígitos, sustentado pelo café solúvel Nescafé, por Nescafé Dolce Gusto e pelo lançamento contínuo de produtos Starbucks”, apontou.
Já os produtos lácteos registraram crescimento de apenas um dígito na América Latina, liderados por leites fortificados e produtos de panificação caseira. Nutrição infantil teve alto crescimento de um dígito, com base na forte demanda por produtos funcionais, segundo a companhia.
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