FAANG: brilho das empresas tech se apaga e 2023 deverá ser ainda mais desafiador

Após era de fortes ganhos para essas companhias, investidores pesam potencial de longo prazo com juros mais altos e menor apetite ao risco

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Bloomberg — Para alguns investidores, a queda das ações de tecnologia este ano é mais do que um simples momento de baixa para o mercado acionário: é o fim de uma era para um grupo de empresas gigantes, como Meta (META), controladora do Facebook, e Amazon (AMZN).

Essas empresas – que, juntamente com Apple (AAPL), Netflix (NFLX) e Alphabet (GOOGL), controladora do Google, são conhecidas como FAANGs – lideraram a mudança para um mundo digital e ajudaram a impulsionar uma alta do mercado por 13 anos consecutivos.

Mas a história mostra que os líderes de mercado de uma época quase nunca dominam a próxima. Há sinais iniciais de que uma mudança já está em andamento: o crescimento desacelerou ou evaporou para Netflix e Meta, enquanto o tamanho da Amazon, Apple e Alphabet mostra que é improvável que elas repitam, no futuro, os grandes retornos que entregaram no passado.

“Achamos improvável que o grupo FAANG lidere o próximo ciclo de alta da tecnologia”, disse Richard Clode, gerente de portfólio da gestora Janus Henderson Investors, por telefone, acrescentando que reduziu “muito materialmente” suas participações nessas ações. “Estamos em nossa menor exposição ao FAANG desde que o acrônimo foi criado.”

O surto da pandemia de coronavírus no início de 2020 abalou todo o mercado de ações, mas depois de uma queda repentina, os índices voltaram com força total. Ações de tecnologia de grande capitalização, incluindo as FAANGs, lideraram o caminho quando consumidores, isolados em suas casas, passaram a encomendar produtos da Amazon, assinaram a Netflix e passaram horas navegando no Facebook e pesquisando no Google usando iPhones.

Mas os investidores estão reavaliando o potencial de longo prazo dessas companhias agora que as economias reabriram e as taxas de juros mais altas no mundo todo diminuíram o apetite por risco. Isso porque um dos maiores atrativos dessas ações eram as taxas de crescimento superaltas oferecidas, o que não é mais visto.

O crescimento “superior” das vendas, a característica mais associada às ações de tecnologia de grande capitalização, desapareceu, pelo menos neste ano, escreveram os estrategistas do Goldman Sachs (GS), em novembro. Os estrategistas do banco preveem um crescimento de vendas de 8% para ações de tecnologia “megacap” em 2022, abaixo do crescimento de 13% esperado para o índice S&P 500, que conta com exposição a outros setores da economia.

Por mais que o Goldman espere que as empresas de tecnologia apresentem um crescimento de vendas mais rápido do que o benchmark no próximo ano e em 2024, a diferença é muito menor do que a média da década passada, disse a empresa.

“É muito difícil aumentar essas megareceitas a taxas de crescimento muitoaltas como acontecia no passado”, disse Michael Nell, analista sênior de investimentos e gerente de portfólio do UBS Asset Management. “Embora as ações de grande capitalização tenham se mantido bem, daqui para frente elas dificilmente vão impulsionar o desempenho [dos portfólios].”

Ano desafiador para ações de tech

Em outubro, as ações da Meta perderam um quarto de seu valor em uma única sessão, depois que a previsão de vendas do quarto trimestre da proprietária do Facebook ficou abaixo das expectativas dos analistas em meio à uma desaceleração no mercado de publicidade. A Amazon caiu 7% um dia depois, depois de projetar o crescimento mais lento do trimestre de férias da história da empresa.

O exemplo das estrelas do mercado de ações do passado é preocupante. A Cisco Systems Inc. e a Intel Corp., líderes no “boom das pontocom” no final dos anos 1990, nunca voltaram aos picos que atingiram em 2000, enquanto o índice Nasdaq 100, com grande exposição ao setor de tecnologia, levou 15 anos para superar seu pico de 2000.

A Apple, a maior empresa do mundo com um valor de mercado de US$ 2,3 trilhões, manteve a melhor posição no mercado baixista deste ano, caindo 20%. As ações foram reforçadas pela pilha de caixa da empresa de cerca de US$ 170 bilhões, títulos negociáveis e demanda por seus iPhones mais recentes.

As outras ações do grupo FAANG caíram mais, variando da queda de 36% da Alphabet à queda de 66% da Meta. Mesmo com as quedas, o grupo ainda responde por mais de 10% da ponderação do S&P 500, portanto, o desempenho abaixo da média nos próximos anos será um grande empecilho para o mercado.

Para o próximo ano, a dor nas ações de tecnologia deve continuar. Analistas veem os lucros do setor contraindo 1,8% em 2023, em comparação com o crescimento esperado de 2,7% para os demais setores dos EUA, segundo dados compilados pela Bloomberg Intelligence.

Diante de um custo mais alto de empréstimos e aumento da inflação, os investidores estão se tornando mais exigentes em termos de quais empresas estão dispostos a apoiar. Grandes projetos de capital em tecnologias não comprovadas, como a aposta da Meta no metaverso, não caíram bem, por exemplo.

“O mercado está dizendo a eles que queremos alguma lucratividade no curto prazo e que não podemos financiar todo o fluxo de caixa livre negativo. Seja um pouco mais realista: cresça um pouco mais devagar, mas com lucro”, disse Neil Robson, diretor de ações globais da Columbia Threadneedle Investments.

Robson ainda está com posição overweight (acima da média do mercado, equivalente a compra) em tecnologia nos seus portfólios, embora em uma quantidade menor do que no passado. Ele ainda tem ações da Amazon e da Alphabet, embora também esteja investindo em empresas que melhoram a eficiência energética.

Nell, do UBS Asset Management, está encontrando oportunidades no setor de software como serviço e ações de semicondutores, enquanto Clode, da Janus Henderson, está olhando para energia, segurança cibernética e inteligência artificial e em áreas que podem se mostrar resilientes em uma recessão, como empresas de software, como empresas que podem ajudar na produtividade.

“Dois anos atrás poderíamos ter jogado um dardo nas FAANGs e teríamos praticamente um vencedor, certo?” disse Dan Morgan, gerente sênior de portfólio da Synovus Trust Co. “Devemos apenas jogar dinheiro cegamente em um ETF que não compra nada além de FAANG? Isso provavelmente não vai mais funcionar.”

-- Com a colaboração de Jeran Wittenstein, Subrat Patnaik, Ryan Vlastelica, Michael Msika, Jan-Patrick Barnert e Geoffrey Morgan.

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