O investimento temático remonta a 1948, quando foi lançado um fundo mútuo chamado Television Fund. E se durou tanto tempo, pode sobreviver à devastação de um ano de inflação — pelo menos é o que acredita Kenneth Lamont, analista sênior de fundos da Morningstar.
Os aumentos agressivos das taxas de juros pelos bancos centrais enquanto lutam contra a alta dos preços têm sido brutais para os ETFs (Exchange Traded Funds) temáticos, um grupo de fundos passivos (sem gestão ativa) que visa investimentos com base em tendências como robótica ou carros elétricos. O aumento dos custos dos empréstimos tem prejudicado essas apostas que às vezes são mais arriscadas.
Mas Lamont, um veterano de nove anos na Morningstar, vê motivos para otimismo. Mesmo com uma redução média de 30% para os ETFs temáticos dos EUA em 2022 — quase o dobro das perdas do S&P 500 —, as saídas são inferiores a 1% dos US$ 115 bilhões em ativos sob gestão, mostram dados compilados pela Bloomberg Intelligence. Ele demonstra fé contínua em uma das áreas de investimento mais quentes que ajudou a impulsionar lançamentos recordes e crescimento para a indústria de ETFs de US$ 6 trilhões.
“É incrível o quão pequeno foi o fluxo de saída líquido”, disse Lamont por telefone. “Se eles realmente estivessem sendo usados apenas pela moda, esperaríamos ver uma espécie de debandada.”
ETF de Cathie Wood
No acumulado do ano, 53% dos fundos temáticos caíram desde a sua criação. Os lançamentos de fundos em 2022 diminuíram para 38 dos 77 vistos no ano anterior, enquanto os fechamentos aumentaram para 20, versus cinco em 2021, mostram dados compilados pela Bloomberg Intelligence.
Enquanto isso, investidores permaneceram no mercado. O mais famoso é o ETF ARK Innovation, de Cathie Wood, que passou por aumento de capital, mesmo com queda de 63% neste ano.
“O gênio saiu da garrafa quando o assunto é a demanda desses fundos”, disse Lamont. “O investimento temático é cativante. Somos criaturas que adoram uma narrativa e cada estilo de fundo e investimento vem com uma embutida.”
Até 7 de dezembro, foram lançados 422 novos ETFs neste ano, cinco a mais do que o número observado no mesmo período de 2021. O total coloca 2022 no caminho de superar o recorde do ano passado para estreias, mesmo em meio à recente turbulência do mercado em diferentes classes de ativos.
Preferência por ETFs de inovação
Entre os fundos temáticos, inovação e tecnologia em mercados emergentes foram os principais temas que geraram fluxos acumulados no ano, de US$ 2,2 bilhões e US$ 1,8 bilhão, respectivamente.
Tecnologia e comunicações tiveram o maior fluxo de saída, com US$ 3,2 bilhões saindo desses fundos, seguidos por computação em nuvem, com US$ 1,2 bilhão, e robótica e inteligência artificial com US$ 941 milhões.
A fuga de capital pode não ser uma grande surpresa, já que o setor de tecnologia enfrentou vários ventos contrários neste ano. Empresas como Twitter (TWTR), Meta (META) e Amazon (AMZN) cortaram milhares de funcionários, enquanto outras empresas reduziram funcionários e diminuíram as contratações enquanto lutam com taxas de juros mais altas e uma redução nos gastos do consumidor.
O pano de fundo para ações permanece desafiador para o próximo ano, uma vez que as preocupações sobre o impacto da política do Fed no crescimento e nos lucros corporativos aumentam de forma desenfreada. Para Athanasios Psarofagis, analista de ETF da Bloomberg Intelligence, isso sugere tempos mais difíceis no setor daqui para frente.
“Provavelmente haverá um expurgo”, disse ele. “O mercado será mais difícil daqui para frente, simplesmente não há como apoiá-los.”
É improvável que os emissores desistam sem lutar. Os ETFs temáticos cobram um índice de despesas mais alto em cerca de 50 pontos base em comparação com o ETF médio, de acordo com dados da Bloomberg Intelligence — um motivo convincente para mantê-los negociando e até mesmo para lançar mais.
Ainda assim, Sylvia Jablonski, diretora de investimentos da Defiance ETFs, está otimista. A convicção do investidor será suficiente para apoiar esses fundos, disse ela, a maioria dos quais gira em torno de inovação, digitalização, inteligência artificial e avanços na computação.
“À medida que os mercados evoluem e novos temas se tornam passíveis de investimento, investidores ficam mais à vontade com a diversificação da inovação em uma cesta, em vez de apostar em um nome”, disse. “Houve tantos avanços em setores clássicos como energia, tecnologia, comunicação, farmacêutica, energia alternativa e isso abriu as portas para emissores com grandes ideias.”
— Com a colaboração de Sam Potter.
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