Agtechs dominam rodadas da semana em startups da América Latina

Brasileira Seedz, argentina Kilimo e chilena WiseConn receberam investimento de capital de risco, o que sinaliza crescimento do interesse e oportunidades no agronegócio

Maíz bresileño
10 de Dezembro, 2022 | 08:21 AM

Bloomberg Línea — Bem-vindo(a) às rodadas da semana. Startups em estágio inicial (early stage) permanecem resilientes diante dos ventos contrários no capital de risco global.

O mais recente relatório do Pitchbook-NVCA Venture Monitor registrou um declínio no investimento em startups, de US$ 62,3 bilhões no segundo trimestre de 2022 para US$ 43 bilhões até aqui no quarto trimestre. Esse panorama afeta diretamente as startups latinas, ameaçando desacelerar a inovação e o ecossistema empreendedor em geral.

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Há alguns dias na Argentina, durante o Newtopia Summit, Patricio Jutard, cofundador do fundo especializado em estágio inicial Newtopia e Mural, disse que existem grandes oportunidades para a indústria de tecnologia na América Latina: “Esta é uma região cheia de desafios. O que a tecnologia desenvolvida aqui e seus empreendedores fazem é resolver esses problemas”.

No Summit em que mais de 150 investidores, empreendedores e mentores se reuniram para compartilhar as tendências do mundo do VC na América Latina, Jutard disse que diante da crise é preciso se unir. “Parece-me que a América Latina está muito fragmentada e não exploramos o conceito de América Latina como um todo [...]. Se aceitarmos e integrarmos novas tecnologias, algumas dessas fronteiras podem ser apagadas e a região seria unificada, que é o que mais agregará valor no futuro.”

A tecnologia permitiu que muitas startups cruzassem fronteiras na América Latina, assim como fazem unicórnios latinos - avaliados em US$ 1 bilhão ou mais.

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Enquanto isso, conheça abaixo as startups que receberam capital para crescer em seus países e alcançar outros mercados latinos. Um denominador comum é que três delas estão no setor de tecnologia agrícola, em que são conhecidas como agtechs.

Kilimo

O fundo de investimento regional Kamay Ventures investiu na startup argentina Kilimo, que desenvolveu uma plataforma que permite aos agricultores gerenciar a irrigação com eficiência. O valor da transação não foi divulgado pelo fundo argentino.

A solução da Kilimo combina informações meteorológicas, de satélite e de campo com big data, para otimizar o rendimento das colheitas em até 30% e a eficiência do uso da água em 70%.

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“Foi assim que nasceu nossa solução, pensando em ajudar os agricultores não apenas a serem mais eficientes no uso da água, mas também a melhorar os rendimentos”, disse Jairo Trad, CEO e cofundador da Kilimo, em comunicado.

O empreendedor disse ainda que até ao final de 2022, a Kilimo poupará 50 mil milhões de litros de água, o que equivale a 6 meses de consumo humano para uma população de mais de três milhões de habitantes.

WiseConn

A empresa chilena, especializada em georreferenciamento de irrigação, passou décadas aprimorando a gestão de água, desde a nuvem até um sistema de controle local, tecnologia que permitiu estar presente não só no Chile, mas também em 10 estados dos EUA, além de campos no México, Peru, Colômbia e América Central.

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A empresa fechou nesta semana sua Série B, cujo valor não foi divulgado, liderada pelo Morningside Group, empresa de private equity e venture capital com sede em Boston, nos Estados Unidos.

O investimento permitirá a expansão global da Wiseconn para países como Austrália, Europa e Brasil durante 2023. Além disso, outro dos objetivos é consolidar a oferta de produtos, incorporando novas tecnologias.

Plenna

A startup mexicana Plenna, que oferece serviços integrais de saúde para mulheres por meio de uma plataforma física e digital, recebeu uma rodada inicial de US$ 4,4 milhões, liderada pelo Fundo de Inovação Urbana, com a participação de Canary VC, Collaborative, 1984 VC, 500 Global, Bridge Latam, Amador Holdings, Nido Ventures, Integra Groupe, Phoenix Club, entre outros.

A femtech, startup que faz uso de tecnologia e é especializada em saúde feminina, usará o capital recebido para fortalecer sua plataforma de atendimento remoto e a expansão de sua oferta de serviços presenciais para outras áreas do México. A Plenna oferece serviços de ginecologia presencial e serviços virtuais de saúde mental, nutrição, ginecologia e medicina geral.

Seedz

A Seedz, startup brasileira para a cadeia produtiva do agro, recebeu um investimento Série A de US$ 16,5 milhões (cerca de R$ 87 milhões), liderado pela Alexia Ventures, com participação do fundo de impacto VOX Capital, Volpe Capital, The Yield Lab, Tridon, 10b (Tarpon), Endeavor Scale-Up, Parceiro Ventures e outros investidores individuais.

Em 2019 a empresa fez sua primeira rodada anjo. Agora, com a Série A, a empresa pretende expandir para outros países e crescer por meio de aquisições, além de lançar serviços financeiros.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Matheus Ganem, cofundador e CEO da Seedz, contou que veio de uma família de pequenos agricultores. Depois de se formar, teve uma oportunidade de montar uma área de agro em uma empresa italiana em que trabalhava e conheceu o setor sob uma ótica de quem está fora da fazenda. “Foi bastante interessante, acabei vendo que tinha um gap muito grande para levar soluções para fazendas que têm problemas de renda e sustentabilidade”, disse.

A Seedz é uma plataforma para as empresas do agronegócio para compra de insumos, com um programa de cashback e fidelidade para os agricultores.

“Quando a gente conecta isso com um programa de benefício para o agricultor, começa atrair esse agricultor para um ambiente mais digital”, disse.

A Seedz comprou uma empresa de software para planejamento e gestão de fazenda e este ano começou a testar a adesão dos agricultores com a ferramenta para gestão do negócio. Ganem conta que a estratégia funcionou.

DrCash

A DrCash, fintech brasileira que facilita crédito para pagamento de tratamentos médicos, estéticos ou odontológicos, acaba de concluir uma rodada de investimento Series A liderada pelo braço de Corporate Venture Capital (CVC) do BV, um dos maiores bancos do país. Com a negociação, o BV se tornou sócio minoritário da startup e a avaliação da fintech atingiu o valor de R$ 175 milhões.

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Jornalista com experiência em startups e tecnologia