2023 será o ano do carro elétrico? 4 pontos-chave para que isso aconteça

Apesar da expansão do mercado, empresas do setor e autoridades ainda enfrentam barreiras que vão desde o preço mais alto vs. carros a combustão até o design

Mini elétrico, que custa no Brasil acima de R$ 250 mil no preço de tabela, cerca de R$ 15 mil acima do modelo a combustão (SeongJoon Cho/Bloomberg)
Por Hannah Elliott
10 de Dezembro, 2022 | 06:38 PM

Bloomberg — As vendas de carros elétricos e híbridos estão em alta no Brasil, nos Estados Unidos e em outras partes do mundo. No Brasil, as vendas de janeiro a novembro somaram cerca de 43.700 unidades, o que representa crescimento de 43% em relação ao mesmo período de 2021, segundo dados da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico). O mercado de carros de passeio como um todo teve retração de 1%.

Setembro foi o melhor mês da história, com a venda de 6.400 veículos elétricos ou híbridos, o que apontaria um resultado anualizado de quase 77 mil unidades comercializadas no país.

Mas esse crescimento pode ser ainda maior, a depender de alguns fatores que envolvem a forma como montadoras tradicionais e startups desenvolvem e apresentam os modelos ao mercado.

Como alguém cuja profissão envolve dirigir carros, confira qual é a avaliação sobre o que os veículos elétricos deveriam trazer para o mercado a partir de 2023 para que possam atrair mais compradores.

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1. Preço mais baixo

Começando pelo básico: o preço médio de um veículo elétrico nos Estados Unidos atualmente é de US$ 66 mil, um aumento de 13% sobre 2021, de acordo com a empresa especializada Kelley Blue Book. O preço médio de um veículo com motor movido a combustão é de US$ 48 mil.

No Brasil, o carro elétrico mais barato é o Renault Kwid E-Tech, com preço de tabela de R$ 146.990. Na mesma montadora, é possível comprar a SUV Captur no modelo intermediário, Intense, pagando R$ 1.000 a mais.

Quase 30% dos novos compradores de carros elétricos no segundo trimestre deste ano trocaram um usado por um novo ou apenas compraram outro – e 9% dos compradores recentes já possuíam um híbrido, de acordo com Edmunds.

Uma pesquisa recente da Bloomberg News com motoristas de carros elétricos constatou que 14% dos entrevistados afirmaram que possuíam mais de um veículo movido a bateria. Cerca de 6% disseram que possuem pelo menos três.

Isso é um problema porque os carros elétricos deixam uma enorme pegada de carbono durante a produção – muito mais que os veículos movidos a gasolina. A única maneira de um carro elétrico compensar essa pegada, segundo Kyle Stock, da Bloomberg News, é no desempenho. Mas as famílias que possuem mais de um carro elétrico dirigem cada veículo sucessivamente menos. Os carros elétricos não salvarão o mundo se apenas pessoas ricas os comprarem – principalmente se ficarem fechados nas garagens.

2. Controle de qualidade

Já que o preço cobrado vai ser alto, o produto deveria, pelo menos, valer a pena. Cansei de ver startups como Lucid, Rivian, Tesla (TSLA), Fisker e Faraday Future alegando apresentar uma qualidade inferior só porque afirmam estar salvando o mundo.

As montadoras de carros elétricos devem aos consumidores carros que são bem construídos, com qualidade e desempenho adequados ao preço.

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De acordo com o estudo de qualidade inicial mais recente da JD Power, a qualidade geral de veículos novos caiu 11% este ano; as maiores quedas vieram dos fabricantes de carros elétricos, incluindo Polestar e Tesla.

O diretor global de automóveis da JD Power, David Amodeo, disse em uma declaração sobre o relatório de qualidade que a pandemia afetou o setor. Mas ele observou que o alto nível de especialização necessário para fazer um carro elétrico é o que tem piorado a qualidade dos produtos.

“As montadoras continuam lançando veículos cada vez mais complexos tecnologicamente em uma era de muita escassez de componentes fundamentais para apoiá-los”, disse Amodeo.

As startups de veículos elétricos são particularmente suscetíveis à escassez porque não possuem grandes controladoras que podem fornecer peças.

Em junho, Elon Musk disse à Bloomberg News que as restrições da cadeia de abastecimento representam o maior impedimento para o crescimento da Tesla.

Marcas estabelecidas como Porsche, Audi, Mercedes e BMW têm vantagem porque suas controladoras ajudam a amortecer a escassez e as restrições financeiras e porque também têm décadas de experiência na fabricação da coisa mais complexa que a maioria das pessoas compra: um carro.

As startups de carros elétricos precisam se moldar rapidamente à medida que as grandes montadoras começam a lançar novas frotas totalmente elétricas a partir de 2023.

Precisam começar a fornecer de forma confiável materiais de alta qualidade; carrocerias com bom acabamento; sistema de informação e entretenimento funcional e intuitivo; sistemas de partida e segurança confiáveis; e componentes que não parecem ter saído de algum desmanche – do contrário, serão esmagadas pelas grandes montadoras.

3. Melhor carregamento

Em 2023, os carros elétricos precisarão de um carregamento melhor – e uma experiência melhor de carregamento.

Já passei muito tempo em estacionamentos e shopping centers carregando meu carro – e qualquer um que possua um carro elétrico se identifica com a questão. Não basta apenas ir até um posto de carregamento.

Esse cenário perfeito pressupõe que haverá um carregador vazio e em pleno funcionamento convenientemente próximo à sua rota. Essas variáveis estão longe de estarem garantidas, mesmo na Califórnia – o maior mercado de carros elétricos nos EUA.

Enquanto isso, o tempo necessário para carregar um veículo depende de fatores como o estado das baterias do carro; o carregador; quantos veículos estão carregando no mesmo ponto e até mesmo as condições climáticas em um determinado dia.

Para simplificar, as empresas automobilísticas geralmente informam os tempos de carregamento mapeando quanta eletricidade um carro pode receber de uma só vez e sua rapidez no carregamento. Elas então colocam os dados em um gráfico.

Conforme a bateria carrega, o veículo aceita menos eletricidade e carrega mais lentamente, por isso recebemos tempos de carga na forma de variação, não de um número absoluto. Por exemplo, o Porsche Taycan informa tempo de carregamento de carga de 5% a 80% em 23 minutos; o Mercedes-Benz EQS informa carga de 10% a 80% em 31 minutos.

Este ponto é um dos que precisam de melhoria em 2023

Mas esses números refletem condições ótimas em carregadores rápidos de corrente contínua, não em carregadores de corrente alternada mais lentos e tomadas domésticas, que podem levar o tempo de carga para até 12 horas. Se o dono do carro elétrico tiver uma garagem para carregar seu carro, ótimo. Se não, certamente não terá a disponibilidade de tempo de manter seu carro na tomada.

4. Design e apelo estético

As raízes dos carros elétricos modernos estão nas pessoas que usavam óleo reciclado ou energia solar muito antes de a sustentabilidade ser assunto. É um grupo que, apesar de ser inovador, não liga para a estética.

A mentalidade de eficiência a todo custo significou que os primeiros carros elétricos foram projetados para serem práticos. Mesmo na forma final, Chevrolet Bolt, Nissan Leaf, Lucid Air e Tesla Modelo 3, por exemplo parecem versões mais simples de carros.

Os melhores nesse quesito – o Porsche Taycan, o Mercedes-Benz EQS e o Audi e-Tron – possuem um certo nível de atratividade. Mas são sedãs elétricos, não carros de capa de revista, por assim dizer.

São precisos carros elétricos que também priorizem a beleza. Se for possível sacrificar um pouco da eficiência para trazer linhas mais agradáveis e estética, seria ótimo para atrair consumidores. Imagine só se houvesse um Porsche 911 Dakar elétrico. Isso sim seria um carro “sexy”.

Mas ainda há esperanças. Ter um carro elétrico de duas portas em vez de quatro já ajudaria. A Genesis deu a entender que lançará um carro elétrico conversível; a Porsche vai lançar um de duas portas até 2025; e a Polestar vai produzir um até 2026. A Fiat vai até trazer a versão elétrica do 500 de volta.

Mas a Rolls-Royce é a grande vencedora, pois vai lançar seu Spectre elétrico até o fim de 2023. Imagine um cavalheiro britânico elegante com a potência de um trem. O único problema é o preço que bate os seis dígitos.

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-- Com informações da Bloomberg Línea.

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