Fed mira a inflação e acerta também bolhas do mercado, de criptos a imóveis

Aumentos graduais de juros na maior economia do mundo reduzem os preços de ativos sem que isso tenha levado, até aqui, a uma desordem do sistema financeiro

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Bloomberg — O Federal Reserve ainda não conseguiu reduzir a inflação que está há meses nos patamares mais elevados em quatro décadas, mas sua campanha de aperto monetário já tem um grande impacto ao esvaziar supostas bolhas de ativos - na visão de alguns economistas - que cresceram durante a pandemia.

O mercado de criptoativos, que já foi avaliado em US$ 3 trilhões, encolheu em mais de dois terços. Ações de tecnologia, normalmente entre as favoritas dos investidores, caíram mais de 50%. Outro exemplo são os preços dos imóveis, em queda pela primeira vez em dez anos. Mais importante: tudo isso tem ocorrido sem colapsar o sistema financeiro.

“É surpreendente”, disse o professor da Universidade Harvard Jeremy Stein, que, como governador do Fed, entre 2012 e 2014, prestou atenção especial às questões de estabilidade financeira. “Se alguém dissesse a qualquer um de nós há um ano: ‘Vamos ter vários aumentos de 0,75 ponto percentual’. Diríamos: ‘Está louco? Isso vai explodir o sistema financeiro’.”

Autoridades do banco central dos EUA há muito tempo evitam usar a política monetária para enfrentar bolhas de ativos, pois juros mais altos seriam uma ferramenta muito rudimentar para tal missão. Mas a atual deflação nos preços dos ativos pode ajudar a alcançar o pouso suave - soft landing - na economia que o presidente do Fed, Jerome Powell, e equipe estão buscando.

Um colapso financeiro mais amplo não pode ser descartado. Mas o fenômeno atual marca um forte contraste com o estouro da bolha dos preços imobiliários nos Estados Unidos, o que desencadeou uma profunda recessão de 2007 a 2009, e o mergulho das ações de tecnologia, que ajudou a empurrar a economia para uma leve retração em 2001.

Em parte, por reconhecerem os riscos - e o fato de já terem elevado muito as taxas, para o intervalo entre 3,75% e 4,00% -, Powell & Co. estão preparados para reduzir a dose de aumento dos juros para 0,50 ponto percentual na próxima semana, após quatro altas seguidas de 0,75 ponto.

Veja a seguir o que tem acontecido com algumas bolhas do sistema financeiro:

Mercado imobiliário

Juros ultrabaixos, juntamente com o aumento na demanda por imóveis fora dos centros urbanos durante a pandemia, fizeram com que os preços das moradias disparassem. Mas os juros das hipotecas mais do que dobraram neste ano, o que tem pressionado os preços dos imóveis.

Colapso cripto

Grande parte do excesso especulativo visto durante a pandemia foi centrado nos criptoativos. Felizmente para o Fed e outros reguladores, a indústria cripto provou ser em grande parte um ecossistema fechado, com empresas do setor endividadas umas com as outras. Uma integração mais ampla com o sistema financeiro poderia ter tornado a crise muito mais desestabilizadora.

Ações de tecnologia em queda

Ações de empresas do setor de tecnologia que deram um salto durante a era dos lockdowns na pandemia também despencaram, eliminando trilhões de dólares em capitalização de mercado. Mas o declínio foi gradual, espalhado ao longo do último ano, à medida que os juros do Fed subiam.

Riscos à vista

O impacto financeiro total da cruzada do Fed no combate à inflação pode não ser evidente ainda. Além de mais aumentos de juros à frente, o banco central americano continua a encolher seu balanço por meio do chamado aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês). Na única outra vez em que o Fed conduziu o QT, teve que encerrar o processo mais cedo do que o esperado, após ondas de volatilidade do mercado.

Os choques podem ocorrer repentinamente, como mostrou o recente colapso no mercado de títulos do Reino Unido, o que pede cautela. E as autoridades não têm tanta informação quanto gostariam sobre o que acontece na arena menos regulamentada do sistema bancário paralelo.

Uma fonte contínua de preocupação é o mercado de US$ 23,7 trilhões de títulos do Tesouro dos EUA, considerado o mais líquido e estável do mundo. Paradoxalmente, as regras inspiradas na Lei Dodd-Frank fragilizaram o mercado, ao desencorajar grandes bancos a agirem como intermediários na compra e na venda de Treasuries.

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