Bloomberg — Analistas do mercado financeiro esperam que o Banco Central (BC) mantenha sua principal taxa de juros estável pela terceira reunião consecutiva nesta quarta-feira (7) após o fim da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Os investidores temem que os planos de gastos do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aumentem a inflação.
Todos os economistas em uma pesquisa feita pela Bloomberg preveem que o BC irá manter a Selic em 13,75% ao ano na última reunião antes de Lula assumir o cargo em 1º de janeiro. O Copom, liderado por Roberto Campos Neto, presidente do BC, elevou a taxa básica de juro em 11,75 pontos percentuais antes de fazer uma pausa em setembro, enfatizando que podem retomar o ciclo de aperto monetário, se necessário.
Embora a pressão do setor de serviços sobre a inflação tenha começado a diminuir e os indicadores básicos de preços tenham melhorado, as perspectivas para o próximo ano são incertas. Analistas têm revisado as estimativas de inflação para cima para dar conta de gastos adicionais do governo. Os bancos centrais entraram no debate pedindo “coordenação” entre as políticas monetária e fiscal e alertando que a falta de credibilidade orçamentária acabaria prejudicando a economia.
O que a Bloomberg Economics diz
“A alta inflação brasileira justifica uma manutenção da taxa na reunião do banco central de quarta-feira, mantendo as condições monetárias muito apertadas. As autoridades podem usar a declaração pós-reunião para expressar preocupações sobre a política econômica futura e sinalizar como isso pode influenciar seus próximos movimentos”.
— Adriana Dupita, economista do Brasil e Argentina
A decisão desta quarta será publicada no site do banco central a partir das 18h30, no horário de Brasília, com uma declaração da diretoria.
Saiba o que esperar da decisão do Copom:
Preocupações Fiscais
Todos os olhos estarão voltados para como o banco central vê o impacto da política fiscal — incluindo maiores gastos públicos — na trajetória futura das taxas.
A equipe de Lula está negocia um aumento de até R$ 175 bilhões (US$ 33,3 bilhões) por ano no teto de gastos, regra que limita o crescimento dos gastos públicos à taxa de inflação do ano anterior. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), do Senado, reduziu o valor para R$ 145 bilhões, e a proposta deve ser votada no plenário nesta quarta-feira.
Embora sejam necessários fundos adicionais para pagar as promessas de campanha, todo o pacote de ajuda social foi maior do que o esperado pelos mercados.
Os traders reagiram precificando mais aumentos de juros no início do próximo ano. Os economistas adiaram as apostas para o início do ciclo de flexibilização de junho para agosto.
“O banco central disse que as discussões fiscais que não garantem uma trajetória estável da dívida podem atrapalhar seu plano”, disse Solange Srour, economista-chefe para o Brasil do Credit Suisse. “Eles dizem que, sem uma perspectiva fiscal clara, a política monetária não funciona. Eles devem reforçar essa mensagem de forma mais forte e explícita.”
No mês passado, Campos Neto disse em evento organizado pela Bloomberg News que faria “o que for preciso” para trazer a inflação para a meta. Ele alertou sobre os riscos para a atividade e o emprego decorrentes da “incerteza” sobre como os gastos sociais serão financiados.
Os mercados financeiros não têm paciência e precisam ver uma trajetória fiscal e de dívida sustentável, acrescentou ele.
Previsões de inflação
Os analistas também estarão atentos às últimas projeções de inflação do banco central. Os preços ao consumidor subiram 6,17% ao ano no início de novembro, abaixo do pico de mais de 12% apenas seis meses antes. Ainda assim, os custos de transporte e alimentação aumentaram em relação ao mês anterior, à medida que o impacto dos recentes cortes de impostos se dissipa.
“Se as próprias projeções dos banqueiros centrais forem mais altas, seu tom também deve ser mais hawkish do que na última reunião”, disse Leonardo Porto, economista-chefe do Citigroup para o Brasil. Ele acredita que os modelos da autoridade monetária apontarão inflação em torno de 6% neste ano e 4,9% em 2023 -- acima das metas de 3,5% e 3,25%, respectivamente.
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