Afinal, o Copom mudou o tom? Veja 9 visões do mercado sobre o comunicado

Comitê de Política Monetária disse que acompanhará com especial atenção o futuro da política fiscal, em referência às propostas em discussão do próximo governo

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Bloomberg — O Banco Central elevou o tom e expressou “elevada incerteza” com o futuro do arcabouço fiscal no comunicado em que manteve novamente a Selic estável, em 13,75% ao ano. O Copom acompanhará “com especial atenção” os desenvolvimentos da política fiscal, em particular “os efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação”.

O alerta já era esperado pelo mercado e segue falas mais duras do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em discursos recentes, em meio à tramitação da PEC da Transição no Congresso, que busca ampliar o teto de gastos para que seja possível cumprir as promessas de campanha do presidente eleito Lula.

O sinal de cautela, no entanto, não implica proximidade de um movimento na taxa básica, na avaliação de analistas. Com relação à política monetária, o comitê foi mais neutro e repetiu que se mantém “vigilante”, avaliando estratégia de manutenção da taxa básica “por período suficientemente prolongado” e que “não hesitará” em retomar o ciclo de ajuste.

O Copom disse ainda no comunicado que a inflação ao consumidor continua elevada e as diversas medidas subjacentes seguem acima do intervalo compatível com a meta. As projeções de inflação do Copom subiram de 4,8% para 5,0% em 2023 e de 2,9% para 3,0% em 2024.

O BC precisaria, portanto, ver uma deterioração mais clara em preços de mercado e nas expectativas de inflação para agir, segundo analistas. Pode haver um ligeiro fechamento de curva de juros amanhã, disse Daniela Lima, economista da Kinea Investimentos.

Veja comentários de nove analistas sobre o comunicado do Copom:

Daniela Lima, economista da Kinea Investimentos

  • “A mensagem é: não é um BC que está se preparando para subir logo. O cenário de subir não é o base, ele precisaria ver deterioração em preços de mercado e expectativas de inflação para agir”
  • O BC está “com a arma na cintura, mas não com o dedo no gatilho. Não preparou terreno para subir juros logo”
  • A Kinea avalia que, como o comunicado foi de neutro para dovish em relação ao que precificava o mercado, pode haver um ligeiro fechamento de curva de juros amanhã.

Camila Faria Lima, economista-chefe da Canvas Capital

  • O “Copom foi corretamente cauteloso na incorporação do tema fiscal”
  • O BC reconheceu um aumento da incerteza sobre o arcabouço nos próximos anos ao acrescentar o termo “elevada” e “deixou totalmente claro que se trata de tema da maior importância para as decisões da política monetária”
  • O Copom disse que o monitoramento levará em conta os efeitos sobre os preços dos ativos e as expectativas de inflação, “o que a meu ver também demonstra uma opção pela ideia de serenidade na avaliação do balanço de riscos”
  • Vê manutenção de postura vigilante e estabilidade da Selic em território contracionista por período suficientemente prolongado.

Pedro Renault, economista do Itaú

  • “Pelo momento de incerteza, o recado fiscal foi bem cabido. O BC chama a atenção para preços de ativos, o que aponta para comportamento do câmbio, e expectativas longas”
  • “Ao não mudar o balanço de riscos e apenas reconhecer que há essa nuvem fiscal no horizonte, o BC joga qualquer expectativa de movimento lá para frente”
  • O Itaú espera Selic de 11% em 2023, com cortes a partir de agosto, e aguarda o andamento da PEC para decidir se revisitará número e prazo

Gustavo Pessoa, sócio fundador da Legacy Capital

  • “Decisão e comunicado bem neutros”
  • O BC reconheceu uma leve piora da inflação em suas projeções, destacou que está especialmente atento à política fiscal e suas implicações e manteve o tom vigilante
  • O “BC não qualificou o fiscal, mas disse que estará atento aos efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação”
  • “Na nossa leitura, será bem sensível a dinâmica do real”

Alberto Ramos, economista para América Latina do Goldman Sachs

  • “Um comunicado previsível, com o Copom permanecendo vigilante e conservador”
  • Leve deterioração da projeção de inflação para 2023 e 2024 e o foco na perspectiva para a política fiscal implicam que o BC vai resistir a um alívio prematuro da política monetária
  • Comunicado foi “levemente mais hawkish

Tatiana Nogueira, economista da XP Investimentos

  • O BC deve manter a taxa por um período prolongado para garantir a convergência da inflação
  • “Entendemos que é cedo para fazer qualquer mudança de condução de política monetária, vão esperar para ver sinais mais claros”

Laiz Carvalho, economista do BNP Paribas

  • “Achamos o comentário bem realista no fiscal porque indica que o BC está acompanhando da mesma maneira que o mercado”
  • “Nada foi aprovado ainda, está tudo em tramitação, então não tinha muito o que dizer e nem o que ganhar sendo mais hawkish ou mais dovish
  • O BNP espera afrouxamento monetário no segundo semestre do ano que vem e Selic em 12% no fim de 2023

Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original

  • O “Copom fez pequena mudança no balanço de riscos, dizendo que agora a incerteza é elevada sobre o futuro do arcabouço fiscal. É um pequeno passo numa piora do balanço de riscos”
  • “Como modelo de inflação piorou muito pouco na margem, ainda há respingos muito limitados desse imbróglio fiscal”
  • “Mesmo no balanço de riscos, que é onde poderia falar um pouco mais duro, só dá uma incrementada na ideia de que o fiscal deve ser convergente”
  • “É um BC que fala que precisa de mais detalhes”

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital:

  • “Alerta fiscal não foi mais forte do que em outros momentos, quando o mercado entendia que o risco era menor”
  • O “BC tem uma toada diferente da do mercado. Não vejo uma mudança da postura da instituição em relação a parte fiscal”

- Com a colaboração de Maria Eloisa Capurro e Raphael Almeida Dos Santos.

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