Bloomberg — Os bancos centrais de mercados emergentes enfrentam um dilema: o aperto monetário ameaça o crescimento da economia, mas a inflação elevada também não permite baixar a guarda. O resultado disso é um risco crescente de errar a mão.
Da Polônia à Colômbia, da Índia à Coreia do Sul, autoridades andam na corda bamba ao tentarem determinar o nível exato de um custo do dinheiro que não prejudique suas economias, mas que limite os preços ao consumidor.
A resposta não é clara nem fácil. Enquanto o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, continuar aumentando os juros e a China for prejudicada pelo surto de covid-19, os diretores dos bancos centrais dos países emergentes permanecerão à mercê de fatores fora de seu controle.
Os mercados emergentes sofreram um êxodo de investidores este ano, apesar de terem aumentado os juros em um ritmo sem precedentes. Embora uma recuperação desde outubro tenha atenuado as perdas, economias menores estão a apenas um passo em falso de uma crise cambial.
Qualquer liquidação adicional pode fechar o acesso de alguns países a mercados de capitais e empurrá-los para uma crise de custo de vida ou até mesmo para um colapso econômico como o do Sri Lanka.
“O erro de política é certamente algo com o qual temos que nos preocupar”, disse Tilmann Kolb, analista de mercados emergentes do UBS. “Se você aumentasse os juros em mais 25 pontos base, isso afundaria sua economia?”
A Hungria foi a primeira a aprender a lição. Após um dos ciclos de aperto mais rápidos do mundo, o país do leste europeu fez uma pausa. Logo em seguida, contudo, foi forçado a retomar uma postura agressiva contra a inflação – que atingiu o nível mais alto desde 1996 –, e viu sua moeda em queda recorde frente ao euro.
Agora, a pressão aumenta na direção oposta, com economistas consultados pela Bloomberg News projetando uma recessão no primeiro semestre de 2023.
A vontade de fazer uma pausa no aperto não é injustificada. De fato, a inflação mostrou sinais de pico em vários mercados emergentes, principalmente os que fizeram um aperto monetário precoce como o Brasil.
A desaceleração da alta de preços ao consumidor nos EUA encorajou formuladores de política monetária e investidores a voltarem a atenção para as preocupações com o crescimento.
Mas exemplos como o da Hungria obrigam uma abordagem realista. Afinal, pode ser muito cedo para encerrar a luta contra a disparada dos preços.
-- Com a colaboração de Selcuk Gokoluk e Maria Elena Vizcaino.
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