Bloomberg Opinion — Morar junto antes de se casar está ficando cada vez mais comum. Nos Estados Unidos, o número de casais não casados que moram na mesma casa quase triplicou entre 1996 e 2017. Isso foi antes do isolamento de uma pandemia que veio acompanhada de uma inflação descontrolada e preços de aluguel exorbitantes que aumentaram a praticidade de morar com um parceiro antes do casamento.
A mudança levanta uma questão: como casais não casados, mas que moram junto, devem navegar o compartilhamento das finanças (que não são exatamente conjuntas por lei)?
A máxima que ouvíamos quando crianças, de que a forma mais justa era dividir tudo exatamente ao meio, não se mantém quando se trata de equilibrar as finanças domésticas.
Uma das pessoas pode ter um salário significativamente mais alto ou ter muito menos dívidas ou até receber dinheiro da família. Talvez um tenha gosto pelo luxo de uma forma que o outro não tenha. Um deles pode precisar de apoio financeiro porque está voltando a estudar ou perdeu o emprego.
Há muitas nuances sobre o que é justo e equitativo em uma relação romântica, especialmente quando se trata de dinheiro. A única certeza é que é hora de deixarmos de considerar uma divisão ao meio como a melhor maneira de lidar com as finanças, e, em vez disso, reconhecer essas nuances para determinar o que é melhor para o ecossistema do relacionamento.
Assim como no casamento, as duas principais considerações devem ser os objetivos financeiros e o estilo de vida. Vocês são compatíveis quando se trata do tipo de vida que querem viver e como querem alcançar seus objetivos? Pode ser bastante tentador quando um parceiro ganha substancialmente mais dinheiro e espera que o outro acompanhe o ritmo.
Se quiser viver em um apartamento ou uma casa significativamente mais caro, então o aluguel precisa ser rateado de forma a reconhecer a renda do parceiro e os objetivos financeiros individuais. Não custa nada redigir um acordo para que haja um documento escrito que descreva o que ambos concordaram.
O próximo passo é discutir como lidar com as finanças como um casal. Em um casamento, as finanças conjuntas são consideradas o padrão (embora não deva ser), mas esse não é o caminho correto para os não casados. Não porque o relacionamento é menos sério sem a certidão de casamento, mas simplesmente porque existem parâmetros que ditam como os bens conjugais são divididos em um divórcio.
As coisas não são tão simples em uma separação, principalmente no que diz respeito a uma conta conjunta. No caso de uma separação não amigável, um ex poderia sacar tudo da conta conjunta. É claro que é possível entrar na justiça, mas levaria tempo e custaria dinheiro. Para casais que moram junto, as contas conjuntas deveriam ser apenas para o mínimo necessário em despesas compartilhadas, como aluguel.
Cartões de crédito conjuntos também devem ser evitados porque é essencialmente compartilhar um empréstimo, o que pode afetar sua conta bancária e sua pontuação de crédito. Pode parecer desconfiança, mas geralmente é mais interessante manter a maior parte dos ativos financeiros separados.
Falando nisso, o que acontece se você planeja se mudar para a casa de propriedade de seu parceiro?
Criar uma dinâmica em que uma pessoa é um parceiro romântico e locador ao mesmo tempo pode gerar um desequilíbrio de poder potencialmente desastroso. É completamente injusto que a pessoa não proprietária pague aluguel, principalmente no valor de mercado, sem a proteção de um contrato de locação. Se a relação acabar, essa pessoa acaba vulnerável e sujeita a despejo.
Esta é uma situação na qual as nuances e discussões sobre o que parece justo para ambos são fundamentais. Dividir os custos da hipoteca ou do financiamento exatamente ao meio quando uma das pessoa está construindo patrimônio e a outra não tem nenhuma reivindicação legal sobre o imóvel pode parecer injusto. Mas deixar todos os custos a cargo de uma só pessoa também não é a melhor saída.
Nesse caso, é possível ratear esses custos de forma que a pessoa não proprietária pague um valor razoável, cobrindo uma parte das contas compartilhadas, como luz, internet e mercado. Os não proprietários nunca devem ser responsáveis por custos de reparo como a troca de telhado ou climatização a menos que tenham causado diretamente o dano que resultou na necessidade dos reparos.
Outro cálculo desconfortável para um casal não casado é determinar quanto investir no parceiro. Não digo emocionalmente, mas financeiramente. Quanto você está disposto a investir enquanto vocês não se casarem? É claro que, no casamento, não há garantia real da amortização desse pagamento em um sentido puramente financeiro.
Há muitas histórias de terror nas quais esposas ajudaram os maridos a pagar a faculdade de medicina ou administração e foram deixadas assim que eles melhoraram de vida. A pensão alimentícia pode ajudar a aliviar um pouco a dor, mas é um sacrifício injusto pela devastação emocional e (possivelmente) financeira.
Casais não casados devem considerar fazer uma análise de custo-benefício do quanto estão dispostos a ajudar o outro financeiramente. Será que um parceiro ficará ressentido por carregar a maior parte dos custos de moradia enquanto o outro volta para os estudos? Que tal pagar a maior parte das despesas de moradia para que o outro possa pagar suas dívidas mais rapidamente?
Assim como emprestar dinheiro a um ente querido, esse tipo de apoio só deve ser fornecido se puder ser realmente considerado um presente – o que significa que você se sente emocional e financeiramente à vontade para nunca ser reembolsado.
Apoiar financeiramente um parceiro tem o potencial de aumentar o vínculo emocional – mas é preciso que haja uma conversa franca sobre como ambos se sentem e o que parece ser mais justo.
Não gostamos de olhar nossas relações românticas através de uma lente comercial prática, mas parcerias contam com esses elementos. A pessoa com quem você vai passar sua vida é uma das mais importantes decisões financeiras que você tomará. É claro que a vida é mais do que apenas dinheiro, mas também é importante se preparar para minimizar o ressentimento e o arrependimento.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Erin Lowry é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre finanças pessoais. É autora da trilogia “Broke Millennial”.
Veja mas em Bloomberg.com
Leia também
Estas são as principais tendências mundiais até 2075, segundo o Goldman Sachs
© 2022 Bloomberg L.P.