De resort nas Bahamas à Amazon: credores da FTX de Bankman-Fried

Funcionários da exchange que pediu recuperação judicial ocupavam suítes do Margaritaville Beach Resort, que tem a receber cerca de US$ 55 mil

Margaritaville Beach Resort em Nassau, nas Bahamas: destino de sócios da FTX de Sam Bankman-Fried
Por Carly Wanna
06 de Dezembro, 2022 | 07:41 PM

Bloomberg — O império de Sam Bankman-Fried incluía escritórios em locais de glamour em vários países, desde um luxuoso prédio de escritórios em Chicago até residências exclusivas nas Bahamas. E havia um local mais inusitado que era popular entre seus funcionários: o Margaritaville Beach Resort.

Desde que a FTX e suas entidades relacionadas entraram com pedido de concordata em novembro, surgiram dúvidas sobre as práticas contábeis negligentes da exchange e os gastos perdulários. Embora os nomes dos maiores credores da FTX Trading ainda não tenham sido divulgados publicamente, o resort com sede em Nassau apareceu entre os listados pela Alameda Research.

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O Margaritaville Beach Resort tem a receber US$ 55.319, valor sem garantias, abaixo de dívidas com a Amazon Web Services (US$ 4,7 milhões), o escritório de advocacia Herbert Smith Freehills (US$ 120.000) e a Bloomberg Finance LP (US$ 80.000).

Garçons no resort temático de Jimmy Buffett disseram neste mês que os funcionários que trabalham com entidades do FTX Group permaneceram no hotel por vários meses em 2022. Os funcionários os descreveram como pessoas legais, amigáveis e em geral agradáveis.

Um funcionário, que pediu para não ser identificado porque não tinha permissão para falar com a imprensa, disse que as pessoas que trabalhavam para a FTX ficaram no One Particular Harbour, um edifício de alto padrão próximo ao resort principal.

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De acordo com os funcionários do resort, os funcionários ficavam por semanas ou meses ocupando cerca de 20 suítes reservadas em nome da Alameda Research. Nos dias de semana, um ônibus os buscavam no hotel pela manhã e os levavam de volta depois do dia de trabalho, geralmente no final da tarde ou no início da noite, segundo dois funcionários.

Essas longas estadias levaram a um relacionamento cordial com a equipe do resort. Uma das funcionárias, que pediu anonimato, disse que quase chorou quando o último funcionário deixou o resort, o que, segundo eles, ocorreu há cerca de um mês.

Os operadores do resort podem ter relações menos afetuosas. Como credores quirografários (ou seja, sem direito a preferências no recebimento), o Margaritaville ocupa uma posição baixa na lista de prioridades para recuperar fundos em caso de falência. Os gerentes se recusaram a comentar, e o resort não respondeu a um e-mail solicitando comentários adicionais sobre a dívida.

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Por que a FTX estabeleceria raízes em Margaritaville não está claro. O resort fica a quase 16 quilômetros de um campus da FTX, um terreno de cinco acres comprado por US$ 4,5 milhões em dinheiro vivo e destinado a abrigar até 1.000 funcionários. A construção nunca começou - deixando para trás um terreno vazio e cheio de mato cercado por cercas frágeis.

O Margaritaville também fica a 15 milhas - ou mais de 30 minutos de carro - de Albany, residências particulares onde Bankman-Fried e sócios próximos viveram e trabalharam. Essa cobertura tem vista para uma marina cheia de dezenas de barcos, muitos deles iates com vários andares. Do outro lado da rua de sua residência de luxo, há uma praia intocada - areias brancas e um mar de ondas suaves.

Por outro lado, o Margaritaville Beach Resort fica entre o movimentado hub de cruzeiros em Nassau e Arawak Cay, uma faixa que concentra restaurantes que servem pratos de peixe e vendedores que vendem produtos de palha.

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Ainda assim, o hotel temático tem suas vantagens. O Vacation Café serve coquetéis carregados de rum como o “Bahama Mama” e o “5 O’Clock Somewhere”, e o bar apresenta música ao vivo. Os membros da equipe dizem que, como qualquer outro hóspede do hotel, os funcionários ficavam no resort e às vezes exploravam um pouco a cidade.

“Eles eram legais”, disse um funcionário do resort à Bloomberg News. “Nunca tive problemas com nenhum deles.”

Outro funcionário disse que até tinha planos de sair pela cidade com seus amigos do mundo cripto e explorar Nassau. Com base nos eventos recentes, eles nunca tiveram a chance.

- Com colaboração de Katanga Johnson.

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