Bloomberg — Profissionais especializados em insolvência que supervisionam os rastros do extinto fundo hedge cripto Three Arrows Capital disseram que assumiram o controle de mais de US$ 35 milhões em moedas fortes, apreenderam mais de 60 tipos de tokens digitais e até buscaram US$ 30 milhões com a venda de um super iate chamado “Much Wow " como parte de seus esforços de recuperação.
Mas a falta de cooperação dos fundadores do fundo, Su Zhu e Kyle Davies, complica a liquidação dos ativos remanescentes, que visa pagar credores que têm mais de US$ 3 bilhões a receber, no máximo valor possível. Advisors da Three Arrows tiveram apenas duas conversas ao vivo - por meio de videoconferência - com os fundadores, que se acredita que estejam em Bali ou nos Emirados Árabes Unidos, de acordo com uma apresentação feita em um tribunal de falências na sexta-feira (2).
“Tivemos que recriar efetivamente a empresa e os registros do zero” porque Zhu e Davies não estão cooperando, disse Russell Crumpler, um liquidante da Three Arrows nas Ilhas Virgens Britânicas.
O Three Arrows entrou em colapso no início deste ano depois que uma série de apostas inoportunas e preços de cripto em queda deixaram o fundo, conhecido por fazer negociações turbinadas por alavancagem, enfrentando chamadas de margem (situação em que se deve aportar recursos como garantia para operações de maior risco). O fundo administrava cerca de US$ 4 bilhões em ativos.
A implosão foi uma das várias que abalaram a indústria ao longo do ano e que agora está absorvendo um novo choque após a súbita ruína no mês passado do império FTX de Sam Bankman-Fried.
A falta de envolvimento colaborativo de Zhu e Davies dificulta até mesmo os processos legais mais simples. Como o paradeiro preciso dos fundadores é desconhecido, os advogados estão tentando intimar a dupla por meio do Twitter. Mas na sexta-feira o juiz de falências dos EUA Martin Glenn expressou preocupação com a eficácia de tal ordem porque a cidadania de Zhu e Davies não é clara.
Um advogado da Three Arrows protestou contra os fundadores na audiência de sexta, dizendo que a dupla não está cumprindo com seu dever de ajudar os credores a serem reembolsados. Ele também disse que a dupla contratou especialistas em segurança no período que antecedeu o colapso do fundo hedge para estabelecer uma forma segura de comunicação que poderia ser excluída.
“O comportamento dos fundadores mostra que eles têm algo a esconder”, disse Adam Goldberg, advogado da Latham & Watkins que representa a Three Arrows nos EUA, na audiência. Zhu e Davies deixaram os liquidantes “sem escolha” a não ser intimá-los para obter informações, disse ele.
Zhu, contatado por telefone, refutou a alegação dos liquidantes: disse que ele e Davies “têm cooperado o tempo todo” e que forneceram “documentos legais da Saft para investimentos privados, bem como detalhes do contrato, uma lista completa de ativos do fundo, contatos de todos os serviços provedores que têm informações, suporte ad hoc contínuo.”
Saft refere-se a um contrato que dá ao seu proprietário o direito a um determinado número de moedas a serem emitidas no futuro.
Representantes de um escritório de advocacia de Zhu e Davies com sede em Cingapura não responderam imediatamente a um pedido de comentário. Davies não pôde ser contatado imediatamente.
Consultores descobriram evidências de dinheiro fluindo diretamente do Three Arrows para pagar o “Much Wow”, nome de um super iate de luxo, de acordo com os liquidantes do fundo hedge. A empresa que fabricou o barco acabou cancelando o contrato de compra porque os valores finais devidos não foram pagos. No fim, o navio já foi revendido.
A entidade formada para ser proprietária da embarcação, a Much Wow Ltd., está agora em processo de insolvência nas Ilhas Cayman. A receita da venda do barco será canalizada para a Much Wow, e os liquidantes da Three Arrows entraram com uma ação de US$ 30 milhões no caso.
A apresentação de sexta-feira dos liquidantes também apresentou capturas de tela de tuítes recentes feitos por Zhu e Davies que criticavam Sam Bankman-Fried e a FTX, que foram exibidos como prova de sua disposição de falar publicamente. A apresentação também apontou que os tuítes dos fundadores teriam pressionado para que a verdade sobre a situação da FTX emergisse.
- Com colaboração de Olga Kharif.
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