Bloomberg — Os ingleses estão enfrentando uma crise de escassez de ovos. Uma série de rupturas na cadeia de produção acabou atingindo a oferta desse produto tão simples e as prateleiras estão vazias em vários lugares do Reino Unido.
Os supermercados estão racionando as vendas, os padeiros estudam alternativas e os agricultores exigem uma ação governamental. Além do impacto imediato, a crise revela como a cadeia de produção no setor de alimentos pode ser facilmente comprometidas.
Para os consumidores, é importante ter em mente que embora agora a dificuldade esteja focalizada nos ovos do café da manhã, nada impede que na próxima semana ou no próximo mês, outro item básico possa faltar.
“O que tem se manifestado no mercado de ovos no momento poderia ser igualmente aplicado ao mercado de frutas, de grãos ou de carne”, disse Tim Lang, professor emérito de política alimentar na Universidade de Londres. “Não é preciso muito para empurrar um setor em particular para o limite. E eu acho que é isso que estamos vendo”.
A apreensão em relação aos ovos não é um fenômeno britânico. A invasão russa da Ucrânia resultou no aumento dos preços de grãos, fertilizantes e energia, insumos agrícolas fundamentais.
Os custos mais elevados das rações para frangos apertaram as margens dos fazendeiros. Além disso, um surto de gripe aviária está causando estragos em regiões dos EUA e da Europa, estimulando o abate em massa de aves. O preço dos ovos esteve no topo da lista de alimentos do índice de inflação nos EUA no mês passado, já na Hungria o governo está limitando os preços.
Mas é no Reino Unido onde algumas prateleiras de supermercados estão vazias e os consumidores estão agora se preocupando com os suprimentos natalinos.
O país esteve desfrutado de custos relativamente baixos de alimentos durante anos graças à concorrência feroz entre os supermercados. Mas esse sistema está se rompendo sob a pressão causada pela inflação, expondo uma relação frágil entre os varejistas e seus fornecedores. Para Lang, autor de “Feeding Britain”, essa crise ilustra perfeitamente como as tensões podem aparecer em dado momento nos sistemas de abastecimento.
Os agricultores dizem que os custos dispararam, e isso não está sendo compensado no que estão recebendo por seus produtos. Uma pesquisa com membros da Associação Britânica de Produtores de Ovos, mostra que um terço dos produtores estão reduzindo suas criações, ou abandonando a produção de ovos.
“A inflação está presente, infelizmente”, disse Phill Crawley, um produtor de ovos baseado em Leicestershire e vice-presidente do conselho do National Farmers Union (NFU). “E (essa pressão de preços) não foi transmitida através da cadeia”. O que precisamos como criadores é desta transparência e de justiça na cadeia de fornecimento”.
Recentemente, a NFU pediu uma investigação urgente do governo para declarar “condições excepcionais de mercado” e fornecer ajuda aos agricultores. De acordo o presidente da entidade, Minette Batters, os preços mais altos da energia, as interrupções da cadeia de abastecimento e o pior surto de gripe aviária registrado não podem explicar por si só prateleiras vazias.
Os supermercados “sabem que precisam pagar um preço sustentável aos produtores de ovos, mas estão limitados pelo custo adicional que podem repassar aos consumidores ante o aumento do custo de vida”, disse Andrew Opie, diretor de alimentos e sustentabilidade do British Retail Consortium.
O aperto da inflação também pode estar forçando os compradores a trocar a carne por fontes de proteína mais baratas, como os ovos. Além disso, a demanda pelo produto é normalmente maior durante o inverno, particularmente na época do Natal.
Para a agricultura, muitas vezes não há uma solução rápida ou fácil para uma crise de abastecimento. Os produtores não podem ligar outra linha de montagem, ou reconfigurar um cronograma de produção.
“Não se trata de fazer dispositivos para latas de cerveja. São animais vivos criando um produto natural”, disse Crawley.
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